O médico de uma UTI que trata de pacientes de Covid-19 em estado grave pode estar mais protegido contra a doença do que trabalhadores de baixa renda e escolaridade que moram na periferia de uma metrópole como São Paulo.
ABISMO
A conclusão pode ser tirada de um inquérito sorológico que testou cerca de 15 mil profissionais do Hospital das Clínicas de SP que trabalham na área exclusiva de Covid-19. O objetivo da pesquisa era saber se, mesmo assintomáticos, eles já tinham sido infectados pelo coronavírus.
ABISMO 2
Os resultados impressionam: entre os profissionais que trabalham nas UTIs e que têm contato direto com os doentes, só 6% foram infectados. Já entre os funcionários terceirizados, de setores como os de limpeza, lavanderia e segurança, 45% já contraíram o vírus.
CEP
A conclusão é que a maioria dos profissionais foi contaminada pelo coronavírus fora do HC —e que escolaridade, local de residência, uso de transporte público e tempo gasto entre a casa e o hospital, também levantados na pesquisa, são fatores de risco maiores do que o próprio ambiente hospitalar.
LOTAÇÃO
De acordo com o trabalho, coordenado pela infectologista Silvia Costa, a renda de um salário mínimo, a distância de 10 km do trabalho e o uso do transporte público aumentaram em três vezes a chance de um funcionário do HC pegar Covid-19.
CAUTELA
A idade aparece como fator protetor. Entre os funcionários de mais de 50 anos, 6% foram infectados. Entre os que têm de 30 a 40 anos, o percentual saltou para 15%. Os mais velhos, indicam os números, podem ter sido ainda mais cautelosos nos cuidados para não contrair a doença.
SELO
“Os dados mostram que a transmissão comunitária, em um país com problemas estruturais como o nosso, pode ser maior até mesmo do que dentro de um hospital”, diz a infectologista.
QUARENTENA
com BRUNO B. SORAGGI, BIANKA VIEIRA e VICTORIA AZEVEDO
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