Lúcia Guimarães

É jornalista e vive em Nova York desde 1985. Foi correspondente da TV Globo, da TV Cultura e do canal GNT, além de colunista dos jornais O Estado de S. Paulo e O Globo.

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Lúcia Guimarães
Descrição de chapéu Eleições EUA União Europeia

Para a Europa, uma vitória de Trump em novembro é ameaça existencial

Europeus vivem sob risco alimentado por eleitores dos EUA que vão às urnas em novembro pouco se lixando para seu destino

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O presidente Joe Biden está na França para o aniversário, nesta quinta-feira (6), dos 80 anos do Dia D, a invasão militar que deu início à liberação da ocupação nazista na Europa e foi decisiva para vitória aliada na Segunda Guerra Mundial. A comemoração, neste ano, vai ser especialmente emocional, e não é por causa da presença tocante dos centenários sobreviventes da gigantesca operação na costa da Normandia.

As lágrimas serão discretas, mas o pânico é crescente, e não há promessas de amor num discurso de Biden que convençam os europeus de que seu romance com o continente vai preservar o casamento. O que eles levam a sério é a promessa de Donald Trump de encorajar Vladimir Putin a fazer "o que diabos quiser" com países que não pagarem mais à Otan por proteção, isto é, não aumentarem seus orçamentos militares. O temor de que Putin vai se sentir livre para redesenhar o mapa da Europa se Trump voltar ao poder é amplamente expressado a interlocutores americanos por líderes de países do Leste Europeu.

O presidente da França, Emmanuel Macron, e o então presidente dos EUA, Donald Trump, durante as comemorações dos 75 anos do Dia D na cidade francesa de Caen - Ludovic Marin - 6.jun.19/Reuters

Uma nova pesquisa, divulgada pelo site Navigator Research, aponta que 76% dos americanos dizem desconhecer a existência do Projeto 2025, a compilação da agenda teocrática e ultrarradical preparada por influentes apoiadores de Trump para ser implementada se ele derrotar Biden em novembro.

Mas quem conversar com cidadãos atentos na Bulgária ou na Estônia, na Alemanha ou na Polônia, vai descobrir que eles seguem obsessivamente a campanha eleitoral americana e são capazes de discorrer em detalhes sobre política partidária estadual nos Estados Unidos.

Sabem, por exemplo, que a distorção produzida pelo papel do Colégio Eleitoral no resultado da eleição significa que o próximo ocupante da Casa Branca vai ser escolhido num punhado de estados-pêndulo e por um universo de eleitores que podem não passar de 10 mil. Isso num país com população de 342 milhões, em que 244 milhões são potenciais eleitores, mas onde o voto não é obrigatório.

Em março passado, Benjamin Haddad, membro da Assembleia Nacional da França, lembrou que a Europa ainda não conseguiria, nos próximos anos, enfrentar um avanço imperial russo que capturasse território de outras nações soberanas como a Ucrânia sem ajuda americana e alertou contra a complacência. "Não podemos, a cada quatro anos, jogar a moeda para cima e esperar os eleitores do estado de Michigan decidirem se vai dar cara ou coroa," disse.

Com exceção da declaração formal, no dia seguinte aos atentados do 11 de Setembro, invocando o Artigo 5 da aliança do Atlântico Norte, de 1949 –"um ataque armado contra um membro é um ataque contra todos"–, a maioria dos americanos nunca experimentou a necessidade de pedir socorro à Otan.

Os europeus se sentem sob uma ameaça existencial alimentada por uma minoria de eleitores do outro lado do Atlântico, que vão às urnas em novembro pouco se lixando para seu destino. Esse é o dilema do continente que mais abriga democracias, mais promove agenda ambiental e reformas na Justiça internacional. É também o continente onde se exilaram presos políticos da ditadura militar brasileira, com países que foram os mais vocais nas denúncias contra o capitão que gargalhava enquanto brasileiros sufocavam com Covid-19.

Como explicar a esse continente a espantosa justificativa para a invasão da Ucrânia oferecida pelo Richelieu francófilo do Itamaraty que recusa a aposentadoria?

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