Diante da escalada de violência no Rio —tiroteios fechando as três principais vias expressas da cidade, morte a bala de adolescentes e crianças— e da ineficiência das forças de segurança —uma operação gigante com 3.000 militares na Cidade de Deus conseguiu apreender três fuzis—, tinha de sobrar para o Carnaval.
Sobretudo nas redes sociais, a velha tese da alienação foi levantada, num festival de sociologia barata. O culpado no fundo seria o zé-povinho, que não reage, preferindo a brincadeira irresponsável. Uma certa advogada, que teve seus cinco minutos de fama no impeachment de Dilma, ao aparecer descabelada e em transe como uma pombagira, chegou a pregar a proibição da festa.
Com mais propriedade, Robson Rodrigues, ex-comandante das fracassadas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), faz um diagnóstico diferente. Em entrevista à "BBC Brasil", ele aponta uma polícia descontrolada e relaciona a situação à teia de corrupção no governo de Sérgio Cabral: "O interesse era ter uma política que pudesse contagiar a população e deixá-la anestesiada para que outras coisas pudessem acontecer por baixo dos panos".
"Menino de ouro" da quadrilha Cabral, o ex-secretário de Saúde Sérgio Côrtes, que estava preso pelo envolvimento no desvio de R$ 300 milhões, ganhou habeas corpus concedido pelo ministro Gilmar Mendes, do STF. Antes da prisão, numa mensagem de celular, Côrtes profetizara: "Podemos passar pouco tempo na cadeia, mas nossas putarias têm que continuar".
Ao usar a palavra chula, não creio que ele se referisse ao Carnaval. De qualquer forma, com a soltura, apenas com a determinação de entregar o passaporte e cumprir recolhimento domiciliar à noite e aos fins de semana, Côrtes poderá se esbaldar em algum bloco matutino. Fantasiado de pirata, guardanapo na cabeça.
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