2 anos do 5G: Brasil melhora cobertura, mas para que tanta velocidade?

O dia oficial da estreia do 5G no Brasil foi 6 de julho de 2022, quando começou a funcionar a primeira antena com a tecnologia em Brasília. Desde então, já está presente em mais de 600 cidades (contra 149 no 1º ano) e oferece velocidade maior e tempo de carregamento menor de páginas.

De modo geral, a tecnologia está em capitais e grandes cidades, excedendo as metas estabelecidas pela Anatel (Agência Nacional das Telecomunicações), mas segundo a Conexis (entidade que representa as empresas de telecomunicações) há desafios, como melhorar a legislação de antenas e uma falta "natural" de soluções que usem o melhor da tecnologia para o usuário final.

O que mudou na prática

Brasil saiu de 149 cidades para 589 cidades com 5G —foi para uma abrangência de 43% da população para 62%.

As pessoas querem mais tecnologia, e as operadoras querem competir. Esse movimento gera um círculo virtuoso, pois há demanda, e as empresas têm cumprido metas da Anatel antes do prazo
Marcos Ferrari, presidente da Conexis, em entrevista à Tilt

Velocidade mediana de download é de 447,89 Mbps no Brasil no 1º trimestre, segundo a Ookla, empresa que desenvolve o Speedtest, que mede a velocidade de internet móvel.

Por velocidade mediana, entenda que a maioria das aferições feitas via app no Brasil estavam nessa faixa. Em comparação, em redes 4G a mediana foi de 34,23 Mbps. No papel, a tecnologia 5G chega à velocidade na casa do 1 Gbps (gigabit por segundo).

Carregamento de páginas com conexão 5G está 20% a 30% mais rápido que no 4G. De acordo com a Ookla, o carregamento do Google está 20% mais rápido, enquanto do YouTube está 25%, e do Facebook, 30%.

As operadoras brasileiras priorizaram o lançamento em áreas mais densas, conforme a faixa de 3,5 GHz [caminho no 'céu' por onde passam os sinais do 5G] são liberadas. Esta expansão em redes 5G é impressionante, considerando que os níveis de desempenho têm sido mantidos
Mark Giles, analista sênior de mercado da Ookla

No estado atual, as operadoras já cumpriram mais da metade da meta de 2025 de instalação de antenas, segundo a Conexis. Em julho do próximo ano, a meta estabelecida pela Anatel era de cobrir as 27 capitais e todas as cidades com mais de 500 mil com uma antena a cada 10 mil habitantes.

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Em julho de 2026, a meta é cobrir cidades com mais de 200 mil habitantes; em 2027, municípios com mais de 100 mil, e em 2028, em cidades com mais de 30 mil habitantes. Ideia é que até 2030 todo o país esteja coberto com a tecnologia 5G.

Para que toda essa velocidade?

Toda geração de telefonia tem aplicações ou serviços que são popularizados.

  • 2G: voz e SMS
  • 3G: navegação e e-mail
  • 4G: redes sociais e vídeos online

E o 5G? Bem, ainda não há. Mais que velocidade, a tecnologia conta com outras duas características: baixa latência (velocidade reduzida em que um comando é feito e executado) e alta capacidade de dispositivos conectados.

Especialistas vislumbravam aplicações em realidade aumentada e múltiplos dispositivos conectados, mas mesmo no celular ainda não tem aplicações que usem, digamos, toda a capacidade do 5G.

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Do ponto de vista da história da tecnologia, é normal esse processo. O atributo básico da nossa cabeça é a velocidade, então o usuário vai realizar as atividades mais rápido. Faltam as aplicações, mas isso é um problema do mundo todo
Marcos Ferrari, presidente da Conexis

Pense que no 4G era comum, por exemplo, ter pacotes com redes sociais ilimitadas (algo que a maioria das operadoras deixaram de oferecer). Algumas tinham streaming de música e até uso sem gastar franquia de apps, como o Waze.

As operadoras têm atualmente ofertado planos 5G com assinatura de serviços juntos. Então, é comum ter pacotes que envolvam streaming de música e vídeo, por exemplo. Outras oferecem até franquia estendida para jogos online, mas não tem uma aplicação pensada para o 5G.

O que falta melhorar?

Segundo Ferrari, da Conexis, há ainda desafios para conectar ainda mais pessoas. Um dos gargalos é a possibilidade de instalação de antenas. Segundo o representante das operadoras, alguns locais não permitem, por exemplo, instalar antenas próximo a escolas; em outros, uma antena é considerada uma edificação —então precisa, inclusive, de licenças ambientais.

Outro ponto é a carga tributária. Serviço de telecomunicações do Brasil é o 3º mais tributado do mundo. Além disso, metade do preço de um celular é composto por impostos. Isso, na visão de Ferrari, acaba atrasando a adoção da tecnologia.

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A representante das operadoras cita ainda que luta para que big techs ajudem a subsidiar a infraestrutura.

"São poucas as empresas que usam muito a rede de telecomunicações e precisa haver algum tipo de compensação. Quanto mais elas utilizam, mais as operadoras precisam investir. Isso, no fim, acaba prejudicando a expansão da rede para outros locais, como em locais onde há população mais vulnerável", diz Ferrari.

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