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Já temos bisontes em Portugal

Vanda Marques 26 de junho

Chegaram em maio à Herdade do Vale Feitoso, no concelho de Idanha-a-Nova, e já estão bem adaptados. São considerados “heróis climáticos” e têm por missão estimular a biodiversidade.

Pesam quase uma tonelada e podem ter 1,90 m de altura, mas apesar do tamanho impressionante, não são uma ameaça nem têm comportamentos agressivos. Quando chegaram à Herdade do Vale Feitoso, em Idanha-a-Nova, depois de 40 horas de viagem, saíram tranquilamente das caixas em que foram transportados desde a Polónia. “Os bisontes foram acompanhados por um veterinário, durante a viagem. Na altura de abrir as caixas, foi tudo feito com calma. Eles saíram curiosos, claro, para saber onde estavam.

Manada O grupo que veio para a Herdade Vale Feitoso está numa reserva vedada de 30 hectares. Quando saíram das caixas, os bisontes estavam curiosos e calmos fotos João Cosme

Começaram a explorar as imediações, para encontrarem a comida, a água e depois começaram a conhecer-se uns aos outros. Alguns viram-se pela primeira vez e outros já se conheciam”, explica à SÁBADO Pedro Prata, líder da associação Rewilding Portugal. A manada de oito faz parte do programa de renaturalização da associação que, em cooperação com Rewilding Europa e com o Centro de Conservação do Bisonte Europeu, conta trazer 30 animais.

Os oito primeiros, quatro machos e quatro fêmeas, vão ficar na reserva vedada de 30 hectares. “Os bisontes já cá estão há quase um mês e estão na fase de criação de laços sociais, portanto, vão debater, discutir entre eles como é que vai ser a organização e assim estabelecer a ordem do grupo social. Para já estão num espaço mais pequeno do que vão ter disponível em breve”, diz Pedro Prata, acrescentando que os animais são vigiados, mas não há intervenção direta como seria de esperar num jardim zoológico. “Portanto, todos os dias os animais são vistos e, pelo menos, uma ou duas vezes por semana, observamos mais atentamente os seus comportamentos. Neste momento, já se nota harmonia no grupo e movem-se em conjunto.”

Até ao fim do ano vão ter pelo menos mais oito bisontes-europeus a juntarem-se ao grupo. Apesar de serem originários de um clima mais frio, o ambientalista esclarece que já existem 230 bisontes europeus a viver em Espanha, numa zona mais sul e quente, tendo-se adaptado bem. Quanto à interação com humanos, sublinha que apesar de terem alguma curiosidade, afastam-se quando percebem que não há perigo. Portanto, não são uma espécie perigosa ou ameaçadora.

Estes bisontes-europeus vêm de reservas da Polónia, aliás é nesse país que existe o Parque Bialowieza, onde vive uma comunidade de 800 animais. Considerada a última floresta primitiva da Europa, o parque fica em território polaco e bielorrusso e é património da UNESCO. “O bisonte-europeu estava confinando ao leste europeu, entre a Polónia e a Bielorrússia, também alguns na Ucrânia e na Rússia, uma zona altamente perigosa devido à situação geopolítica, mas já esteve disperso pela Europa”, diz Pedro Prata, sublinhando que esta é a primeira translocação de sempre de bisontes-europeus para Portugal.

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Polacos Os bisontes-europeus 
fizeram a viagem em 
camiões da Polónia até Portugal. Foram acompanhados por um veterinário e 
transportados em caixas
Vigilância A manada vive livremente, mas é monitorizada pela 
associação Rewilding Portugal que já introduziu o lobo, o cavalo sorraia e os tauros no Grande Vale do Côa
Vigilância A manada vive livremente, mas é monitorizada pela 
associação Rewilding Portugal que já introduziu o lobo, o cavalo sorraia e os tauros no Grande Vale do Côa
Quatro 
fêmeas e quatro machos Alguns ainda não se conheciam, outros vêm da mesma manada. São o primeiro 
grupo a chegar e esperam-se mais oito até ao fim do ano



Ajudantes na luta pelo clima

Além disso, destaca que estes animais – que são o maior mamífero da Europa e podem ter três metros de comprimento – têm uma missão. Uma investigação, da Universidade de Yale, sobre o impacto de uma manada de bisontes no sequestro de carbono, ou seja, remoção do CO2, calculou que os animais que vivem na Europa ajudam a absorver e a armazenar anualmente mais de 54 mil toneladas de carbono atmosférico. Ou seja, o CO2 libertado anualmente por 123 mil carros europeus. Mas há mais uma ajuda: controlar incêndios. “Os herbívoros consomem a matéria fina, ou seja, a biomassa que cresce durante a primavera e o verão, reduzindo dessa forma a sua acumulação no campo, ou seja, em caso de incêndio essas zonas não têm o ‘combustível’ [as ervas] disponível para atingir grandes intensidades.

Para já o objetivo é manter os bisontes nas reservas, mas algum dia poderão andar livremente? Ainda é cedo, adianta Pedro Prata, mas deixa em aberto a hipótese. “Se houver condições do ponto de vista da gestão do território, da proteção das áreas protegidas e da dinâmica dentro dessas áreas, que permita o regresso de grandes herbívoros pode ser possível. Tem de haver vontade.”

O líder da equipa da Rewilding Portugal acrescenta: “Isto é um investimento para o futuro. Se queremos ecossistemas funcionais e com capacidade para sequestrar carbono, produzir em biodiversidade, criar novos espaços de riqueza do ponto de vista identitário e patrimonial para o País, então temos de investir na qualidade desses mesmos ecossistemas e não podemos ter falta de vida selvagem, que é o que acontece a todos os níveis. Isso passa por espécies tão bonitas e tão grandes como um bisonte, mas também por coisas tão simples como o castor e a cabra-montês, que seriam grandes engenheiros do ecossistema.”

Pesam quase uma tonelada e podem ter 1,90 m de altura, mas apesar do tamanho impressionante, não são uma ameaça nem têm comportamentos agressivos. Quando chegaram à Herdade do Vale Feitoso, em Idanha-a-Nova, depois de 40 horas de viagem, saíram tranquilamente das caixas em que foram transportados desde a Polónia. “Os bisontes foram acompanhados por um veterinário, durante a viagem. Na altura de abrir as caixas, foi tudo feito com calma. Eles saíram curiosos, claro, para saber onde estavam.

Começaram a explorar as imediações, para encontrarem a comida, a água e depois começaram a conhecer-se uns aos outros. Alguns viram-se pela primeira vez e outros já se conheciam”, explica à SÁBADO Pedro Prata, líder da associação Rewilding Portugal. A manada de oito faz parte do programa de renaturalização da associação que, em cooperação com Rewilding Europa e com o Centro de Conservação do Bisonte Europeu, conta trazer 30 animais.

Os oito primeiros, quatro machos e quatro fêmeas, vão ficar na reserva vedada de 30 hectares. “Os bisontes já cá estão há quase um mês e estão na fase de criação de laços sociais, portanto, vão debater, discutir entre eles como é que vai ser a organização e assim estabelecer a ordem do grupo social. Para já estão num espaço mais pequeno do que vão ter disponível em breve”, diz Pedro Prata, acrescentando que os animais são vigiados, mas não há intervenção direta como seria de esperar num jardim zoológico. “Portanto, todos os dias os animais são vistos e, pelo menos, uma ou duas vezes por semana, observamos mais atentamente os seus comportamentos. Neste momento, já se nota harmonia no grupo e movem-se em conjunto.”

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