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Emily Blunt: “Era gaga em miúda. Sempre quis fazer um filme sobre a gaguez”

Acaba de receber a sua primeira nomeação para o Óscar, pelo filme Oppenheimer. A inglesa, que começou a carreira por acaso, diz que a meditação a ajuda e a representação é a única coisa que sabe fazer.

Filha da atriz inglesa Joanna Mackie, Emily tinha visto de perto como o mundo da representação era duro e cruel. Em miúda era gaga, mas conseguiu ultrapassar essa dificuldade e na adolescência decidiu experimentar o teatro. Confessa que entrou na profissão de forma displicente, mas com uma atitude: “Vamos ver no que isto dá.” Hoje, com uma carreira de mais de 20 anos, confessa que não se imagina a fazer outra coisa.

Filha da atriz inglesa Joanna Mackie, Emily tinha visto de perto como o mundo da representação era duro e cruel. Em miúda era gaga, mas conseguiu ultrapassar essa dificuldade e na adolescência decidiu experimentar o teatro. Confessa que entrou na profissão de forma displicente, mas com uma atitude: “Vamos ver no que isto dá.” Hoje, com uma carreira de mais de 20 anos, confessa que não se imagina a fazer outra coisa.

Foi escolhida pelo realizador Christopher Nolan para o papel de Katherine, mulher de Julius Robert Oppenheimer, o físico que inventou a bomba atómica. Aclamado pela crítica como um dos favoritos aos Óscares, Emily também está nomeada na categoria de Melhor Atriz Secundária. Com 39 anos, a inglesa começou a carreira no teatro.

Estreou-se ao lado de Judy Dench e o seu desempenho foi logo distinguido. Recebeu o prémio de melhor atriz revelação, do Evening Standard Award – o prémio de teatro mais prestigiado e antigo do Reino Unido.

Foi em 2006 que se tornou mais conhecida, depois de participar no filme O Diabo Veste Prada. Mais tarde confessaria que a obrigaram a fazer dieta para o papel. E que ela e a colega, Anne Hathaway, estavam sempre esfomeadas durante a rodagem do filme. Apesar da fome, Emily fez vários amigos entre o elenco, além de Anne e Meryl Streep, Stanley Tucci, que viria a casar-se com a sua irmã. No currículo já tem filmes de ação, dramas e policiais, e até filmes infantis. O mais conhecido deles é O Regresso de Mary Poppins (2018).

Estamos na altura dos prémios de cinema e a Emily é uma das estrelas em destaque. Como se sente?
Estou muito grata e comovida por tudo isso. É um ofício em que nunca se sabe o que pode vir a acontecer. É como trazer uma criança ao mundo e ignorar o que as pessoas possam vir a pensar. É uma experiência valiosíssima, sobretudo quando se participa num filme como Oppenheimer, e o facto de as pessoas apreciarem e gostarem da obra tem imenso significado para mim.

Como é que o realizador Christopher Nolan lhe ofereceu o papel?
Foi extremamente sereno e afetuoso. Encontramo-nos e conversámos durante hora e meia. Disse-me: “Tenho o papel de Kitty Oppenheimer em aberto e caso lhe interesse, gostaria muito que interpretasse a personagem.” Depois, li o guião. Todos os guiões de Nolan são impressos em papel vermelho para não puderem ser fotocopiados. Downey [Robert Downey Jr.] crê que o papel vermelho tem um efeito inebriante e que, por isso, todos se sentem atraídos e acabam por aceitar. Eu sentei-me na sua biblioteca, li, achei que era apaixonante, empolgante, emocionante. Tenho muito orgulho de ter participado no filme.

Quando interpreta um papel importante como este a que técnicas recorre para cuidar de si, manter-se tranquila, reduzir o stresse?
Faço Meditação Transcendental. Adoro. É fabuloso. Comecei a praticar há cerca de nove anos, logo depois de nascer a minha primeira filha. Nessa altura andava sempre muito cansada. É tremendamente eficaz para apaziguar e descartar a confusão à nossa volta. Os meus colegas de filmagens dizem que faço sonecas psíquicas porque sou capaz de me sentar e adormecer. Eu digo que estou a meditar, mas, na verdade, acabo sempre por adormecer.

Como é que interpretou Katherine Oppenheimer sem ignorar o seu lado abrasivo. Como é que conseguiu mostrar a perspetiva pessoal de Kitty e como as opções dela resultaram das experiências de vida, do seu passado?
Tinha muito empatia para com ela. Acredito que muitas mulheres, sobretudo nas décadas de 40 e 50, não puderam aproveitar oportunidades para desenvolver atividades intelectuais interessantes, apaixonantes, e desperdiçaram as suas vidas e intelectos em meras tarefas domésticas, passando a ferro, numa imensa frustração. Não basta ser a mãe ou a mulher de alguém. Creio que Kitty não se deu descanso e acabou por ter uma morte prematura. Era extremamente desenfreada e uma mulher brilhantíssima.

Foi divertido contracenar com Cillian Murphy? E, tirando a estalada que lhe deu, há algum momento engraçado que queira partilhar connosco?
Adoro verdadeiramente o Cillian, o homem dos olhos azul-celeste. É um parceiro extraordinário e um amigo maravilhoso. Hipnotiza-nos no seu desempenho como Oppenheimer. Vê-lo frente às câmaras era como assistir a uma aula magistral. Tenho tantas recordações engraçadas. Acho que vai ficar com vontade de me matar por contar esta história.

A atriz na apresentação de Oppenheimer, ao lado 
de Cillian Murphy (que adora) e de Florence Pugh Foto: fotos Getty Images
Com Meryl Streep, a atriz com quem contracenou em 
O Diabo Veste Prada. Emily diz que no primeiro ensaio ia vomitando com o stresse Foto: fotos Getty Images
Emily Blunt e o marido John Krasinski que também é ator Foto: REUTERS/Mario Anzuoni
Emily Blunt foi a protagonista do filme de 2018 O Regresso de Mary Poppins


Qual?
A verdade é que eu estava muito preocupada com ele quando começámos as filmagens. Tinha medo que estivesse apreensivo com o papel imenso que tinha de representar e que não conseguisse dormir. Não me parecia que se divertisse muito quando não estava nas filmagens. Parecia-me que ia para casa, tomava um banho, decorava as suas falas e se deitava. Então, comprei-lhe uma almofada fantástica. Pensei que era um excelente presente de início de filmagens. Ele gostava imenso da almofada. Contou-me, depois, que acordou uma vez a meio da noite e como a almofada era muito fofa ao tentar voltar a adormecer atirou-se contra a almofada, mas acabou por bater na mesa de cabeceira e fez um rasgão na cabeça. Vai ficar furioso comigo por eu contar esta história, mas a verdade é que para voltar às filmagens tiveram de lhe aplicar cola cirúrgica para fechar a ferida. Tudo por causa da almofada. Gostava tanto de enfiar a cabeça na almofada que acabou por se magoar.

Por falar em presentes-surpresa, qual foi o melhor que já recebeu ou ofereceu?
Dei um ótimo presente-surpresa ao Dwayne Johnson e ele não me deu nada. [A brincar]. Vai dar cabo de mim! Lembro-me de ir à caravana dele para lhe dar um cartaz original e assinado de Indiana Jones – Os Salteadores da Arca Perdida. Tinha sido o filme a inspirar o nosso Jungle Cruise: A Maldição nos Confins da Selva. Estou nas escadas da caravana e ele abre a porta e começa: “Não. Não. Não tenho nada para te dar. Oh, meu Deus! Oh, meu Deus!” Estava como que horrorizado. Desde então compensou-me com magníficos presentes. É do género: “Sabes, é costume oferecer um presente ao meu parceiro de filmagens. É uma tradição.”

Vamos voltar ao princípio da sua carreira. Que filme viu, que interpretação, que experiência pessoal, o que é que a levou a dizer para si mesma: “Tenho de ser atriz”?
Acho que tem a ver com o meu pai. Ele ia a uma loja de aluguer de vídeos chamada Goggle Box e trazia filmes notoriamente desadequados para nós todos vermos. Uma das minhas primeiras experiências foi ver Tubarão aos 7 anos. Dizia que era para toda a família ver, mas na verdade era para mim. E eu assustava-me imenso. Só que o filme Tubarão é ainda o meu preferido. Devo tê-lo visto 35 vezes. Adoro esse filme. Quanto mais vezes se vê o filme melhor se compreende o que tem de extraordinário e percebe-se que não tem nada a ver com o tubarão. É acerca desses três homens apanhados num barco e como conseguem superar os seus medos. É incrível. É esta uma das minhas primeiras recordações. A minha mãe adorava filmes de cowboys. Lembro-me de chorar a ver Shane. Recordo-me do clássico Old Yeller [O Rapaz e o Cão]. Adorava Spike, o labrador retriever, a estrela de Old Yeller. São estes os primeiros filmes de que guardo memória.

Como é que começou a trabalhar como atriz?
Creio firmemente que devemos esforçar-nos por realizar os nossos sonhos. Não tenho qualquer dúvida sobre isso. É uma expressão mais acertada do que falar em ambição. Não direi que era consumida por esse desejo. Para ser honesta tenho de lembrar que a minha mãe era atriz, tinha quatro crianças e um marido muito ocupado. Creio que fez muitos sacrifícios e que tem muito que lamentar. Por isso não tenho uma visão cor-de-rosa. De facto, encarei-a como uma profissão em que temos de nos proteger emocionalmente. Pode ser dura para uma pessoa e abalar a nossa alma. Portanto, não planeava seguir carreira de atriz, mas estou grata por ter tido esta louca oportunidade. Ainda andava no liceu quando o professor de teatro perguntou: “Queres entrar numa peça? Vamos ao Festival de Teatro de Edimburgo.” Respondi: “Claro, com certeza.” Tinha 17 anos – nunca poderia ter acontecido atualmente – e um dos professores substitutos que participou comigo no espetáculo tinha 45 anos. Ligou ao seu agente inglês e disse-lhe: “Devias vir ver esta rapariga.” Roger ainda é o meu agente! Estava no liceu e ele veio ver a peça, disse-me: “Acho que és mesmo boa. Queres fazer isto?” Penso que se calhar entrei nisto sem estar ansiosa por ter êxito. Tinha noção de como podia ser difícil e, portanto, foi na base do “vou experimentar”. Depois de fazer os exames comecei a ir a audições e foi assim que aconteceu. Agora, sou uma apaixonada tão fervorosa pela representação que nem acredito no tom displicente com que comecei a carreira. Estou obcecada, apaixonada, e que raio de outra coisa poderia eu fazer agora? Não tenho competência para fazer tão bem outra coisa. Sou a única na minha família que nunca foi para a universidade nem nada do género.

Falemos, então, acerca de O Diabo Veste Prada. Contracena com um ícone, com Meryl Streep, e com uma atriz com considerável experiência em Hollywood, Anne Hathaway. O que é que, então, apreciou nelas? Aprendeu algo com essas atrizes tão experimentadas que tenha vindo a transmitir a outras mais novas com quem trabalhou mais tarde?
A Annie foi muito generosa e deu-me a conhecer Nova Iorque. Estou-lhe agradecida para sempre pelo carinho. Meryl foi igualmente extraordinária. Lembro-me de nos ensaios de mesa ter as pernas a tremer. Estava tão assustada que pensava que ia vomitar. Recordo-me de como ela lia as falas. Lembra-se do desempenho dela no filme? Mesmo sem fazer nada é assustadora. Quer dizer, acho que se quisesse podia representar mais como dama toda-poderosa e fazer o que quisesse. Mas ela representou assim durante os ensaios de mesa e, depois, disse-me a mim e à Annie: “Acho que as duas vão estar ótimas neste filme e é a última coisa agradável que vos digo.” E assim foi. Não quer dizer que não pudéssemos aproximarmo-nos dela durante as filmagens. Eu até lhe dizia: “Oh, meu Deus, Meryl, aconteceu uma coisa tão engraçada.” E ela retorquia: “Oh, ótimo. Que bom.” Quero dizer, ela disse isso, como se fosse a sua primeira tentativa de atuar de acordo com as regras de representação do Método. Penso que deve ter achado isso verdadeiramente horrível porque eu, o Stanley [Tucci] e a Annie quase parecia que estávamos numa festa do outro lado do cenário. Nós esmerávamo-nos e chorávamos de tanto rir e ela era como se dissesse: “Nunca mais faço isto.”

"Faço Meditação Transcendental. Os meus colegas dizem que faço sonecas psíquicas"

Emily Blunt


Qual foi a primeira vez que ao representar em palco ou em filmagens a levou a pensar: “Sou boa nisto e mereço estar aqui.”
Oh, isso não é algo que os britânicos digam. Creio que não penso nesses termos. Não sei se alguma vez senti ter atingido o máximo. Sinto que estou constantemente à procura de algo. A minha primeira atuação foi no teatro. Foi realmente instrutiva. Foi com a incrível Judi Dench, uma grande inspiração como atriz, não apenas devido ao seu talento colossal, mas também por causa do seu carinho, humildade e sentido de humor. Era de uma segurança e autenticidade imensas e eu com 18 anos não sabia coisa nenhuma. Não tinha ensaiado, nunca tinha feito nada e ela foi simplesmente espantosa. Convidava-me para o seu camarim todas as noites. Eu ficava boquiaberta: “Oh, meu Deus, é o Pierce Brosnan!” Não podia ser melhor. Foi muito boa comigo e tornou a minha primeira experiência como atriz num evento espantoso.

Com quem contracenou que a tenha feito sentir-se pequenina ao pé de uma grande estrela e com quem tenha levado anos até se sentir em pé de igualdade?
Fiquei mesmo esmagada ante a Meryl [Streep]. Talvez à medida que a conheço melhor me sinta mais à vontade. Fiquei muito impressionada com o Anthony Hopkins. Mas, Hopkins é outro caso, de alguém que se desembaraça rapidamente dessa aura de estrela para que uma pessoa esteja à vontade com ele. É de uma magia imensa. Quem mais? Creio que fico sempre algo impressionada com as estrelas, mas depois apercebo-me rapidamente que são seres humanos com os seus defeitos e inseguranças. Empolga-me sempre muito conhecer certos atores que, por assim dizer, são uns heróis para mim.

Por último, tem na sua lista de reportório algum papel específico, determinada técnica ou aptidão de representação, que ainda não tenha desempenhado e que deseje tentar?
Era gaga em miúda. Gaguejei bastante durante muitos anos e acho que sempre quis fazer um filme sobre a gaguez. Vi um, O Discurso do Rei [filme protagonizado por Colin Firth que interpreta o rei Jorge VI e que retrata a forma como conseguiu ultrapassar a gaguez e falar em público], mas gostaria de algo com um tom diferente, num mundo diferente. É um drama que compreendo bem e gostaria de fazer um filme sobre isso. Talvez fosse um pouco traumático, mas gostava muito de representar uma gaga. 

Filha da atriz inglesa Joanna Mackie, Emily tinha visto de perto como o mundo da representação era duro e cruel. Em miúda era gaga, mas conseguiu ultrapassar essa dificuldade e na adolescência decidiu experimentar o teatro. Confessa que entrou na profissão de forma displicente, mas com uma atitude: “Vamos ver no que isto dá.” Hoje, com uma carreira de mais de 20 anos, confessa que não se imagina a fazer outra coisa.

Foi escolhida pelo realizador Christopher Nolan para o papel de Katherine, mulher de Julius Robert Oppenheimer, o físico que inventou a bomba atómica. Aclamado pela crítica como um dos favoritos aos Óscares, Emily também está nomeada na categoria de Melhor Atriz Secundária. Com 39 anos, a inglesa começou a carreira no teatro.

Estreou-se ao lado de Judy Dench e o seu desempenho foi logo distinguido. Recebeu o prémio de melhor atriz revelação, do Evening Standard Award – o prémio de teatro mais prestigiado e antigo do Reino Unido.

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