Junte-se ao nosso canal de WhatsApp e aceda diretamente aos temas Máxima do momento. Seguir
Atual

Histórias de Divórcio no Feminino. “O irónico é que foi quando eu engravidei que as coisas começaram a desabar”

Atravessaram mais de uma década e meia juntos até ao mais profundo desgaste… e ele pediu que se separassem. Madalena (nome fictício) conta como viu o casamento chegar ao fim sem ter, sequer, uma conversa.

Foto: IMDB / 'Marriage Story'
18 de junho de 2024 Júlia Serrão

Desvaloriza o casamento, defendendo que o "compromisso não está no contrato assinado". Mas o ex-marido de Madalena (nome fictício), 38 anos, fez questão de terem uma cerimónia civil e ela anuiu. Um aspeto que ele deixou claro, durante o namoro, foi o desejo de ser pai: "era uma condição sine qua non para ele, que me disse que a relação ficava por ali se eu não quisesse ser mãe." Madalena explica que o plano profissional acabou por se impor nos primeiros seis anos de casados, pois os dois estavam profundamente absorvidos com as respetivas carreiras. E, quando decidiram avançar com o projeto de parentalidade, ainda esperaram um ano até que ela engravidasse.

"O irónico é que foi quando eu engravidei que as coisas começaram a desabar", diz. As discussões substituíram o diálogo. Discutiam muito e tudo era motivo de alvoroço. Entretanto, a gravidez também não corria bem, e foi considerada de risco: Madalena teve um descolamento da placenta que a obrigou a parar de trabalhar e a ficar em casa. "No último mês, até que o meu filho nasceu prematuro, estive internada. Nesta fase, o desgaste da nossa relação era tão grande que até discutíamos no hospital."

Recuando um pouco, explica que ele tinha saído da empresa onde trabalhava para ir trabalhar noutra no ano anterior. "E porque é profissionalmente brilhante, mas muito ambicioso, com objetivos muito concretos", estava obsessivamente focado no trabalho. Ou, pelo menos, usou-o para justificar o facto de não estar presente quando era importante que estivesse, e sempre stressado quando estava presente.

Ele não quis conversar e depois pediu a separação

Praticamente ignorou-a durante a gestação. "A certa altura fez-me sentir uma barriga de aluguer, objetivada, um meio para chegar a um fim", diz. Para referir que também tem "poucas memórias fotográficas desse período", pois o ex-marido, "que tanto quisera ser pai", não tinha iniciativa de a fotografar.  "Até ao primeiro ano de vida do nosso filho, ele foi um pai ausente. Aliás, nem chegou a gozar a licença de parentalidade, escudando-se no trabalho", garante Madalena, que também não teve o apoio do ex-marido em tudo o resto.

Viviam neste impasse, quando a Covid 19 os obrigou a trabalhar em casa: "cada um no seu canto, juntávamo-nos para comer… e discutíamos". A situação de estarem os dias inteiros juntos, inicialmente sem possibilidade de uma saída à rua devido às regras apertadas do confinamento, "só piorou e muito" o mau ambiente em que viviam. Sendo que ele também não se mostrava disponível para conversar e tentar salvar o casamento, ao contrário dela.

A meio do verão de 2020 e de uma discussão em que se queixava que não aguentava mais "‘aquela relação tóxica’, ele pediu a separação". Quase de imediato cancelou as férias a três que tinham planeadas, e quis trocar ideias sobre o futuro do filho. Concordaram com a guarda partilhada, que o tribunal havia de confirmar. Madalena soube, dias depois através de amigos comuns, que ele tinha ido de férias com uma amiga e o filho desta. Aponta: "Mais tarde, vim a descobrir que era a pessoa com quem ele andava envolvido quase desde o início do ano. Ele continuou a dizer-me que não, embora eu tenha provas quase irrefutáveis que sim."

Pela primeira vez sozinha

O período que sucedeu a separação foi "um pouco difícil", sentindo-se invadida por sentimentos contraditórios. "Desde logo porque nunca tinha vivido sozinha, por isso era uma sensação muito estranha. Depois ele tinha sido o meu primeiro namorado a sério, o meu marido, a pessoa com quem perdi a virgindade, o meu tudo…era o fim de um projeto." A certa altura, também sentiu "grande frustração" quando olhava para o filho. "Sentia-me desligada dele, pois não conseguia dissociá-lo do fim da relação. Felizmente, isso já não acontece, resolvi a questão internamente."

Em 2021 assinaram o divórcio de comum acordo. Ainda assim, "não foi fácil pois ele quis complicar-me a vida e precisei de contratar um advogado", esclarece.

Por estes dias, completamente superada a fase em que se sentia "desconfortável ao pé dele", pois experimentava "uma espécie de repulsa", a relação dos dois é "pacífica". A guarda partilhada da criança obriga-os a manter o contacto e o diálogo e, conta, por vezes até fazem programas a três. "Hoje, ele é um pai excelente e o filho adora-o." De qualquer forma, é perentória: "às vezes penso que não conheci a pessoa com quem vivi 17 anos, se somar os anos de namoro com os de casamento". Madalena continua sozinha, depois de uns namoricos breves. Mas assegura que está disponível para amar, "ou não fosse uma romântica incurável"!

Saiba mais
Mundo, Atualidade, Histórias de Divórcio no Feminino, Divórcio, Mulheres
Leia também
As Mais Lidas