• Bárbara Ferreira
Atualizado em
Moda (Foto: Reprodução)

Vestido do projeto Magic Lining desenvolvido colaborativamente entre a artista Kristi Kuusk e os cientistas do projeto MAGICSHOES (Foto: Divulgação)

A textura do tecido. O caimento de uma peça. O cheiro de roupa nova. O material contra a nossa pele. O sensorial é parte da moda, assim como a tecnologia. Mas como amplificar a experiência sensorial na moda em ambiente digital? A resposta são os smart textiles.

Os produtos têxteis, sem dúvida, mantêm uma conexão muito íntima com os nossos corpos. Não é por acaso que, comumente, nos referimos às roupas como uma “segunda pele”. Os smart textiles apresentam ao mercado da moda um novo conceito de roupa, que facilita o envio de mensagens expressivas a amigos que não vemos há um tempo ou familiares que vivem longe por meio de sensações físicas geradas por protocolos digitais. Embutidos nas malhas têxteis, sensores conectados em rede criam estímulos táteis de pressão, vibração e/ou calor, que são enviados a partir de gestos ou movimentos detectados sobre a extensão do tecido.

Essas interações físico-digitais através do toque são parte do conceito da Internet da Pele (tradução livre do termo original The Internet Of Skin), que propõe experiências que conectam pessoas (remetente e receptor) pela superfície da própria pele através de wearables user friendly, como uma camisa (caso da HugShirt, da CuteCircuit, que simula abraços), e que simbolizem contatos mais humanos. Isso porque o toque é fundamental para o nosso desenvolvimento e comunicação social. “Nossa pele nos ajuda a conectar”, diz Bruna Petreca, pesquisadora em Human Experience no Materials Science Research Centre na Royal College of Arts. “Estudos provam, cientificamente, que a nossa pele e seu toque são responsáveis pela nossa interação enquanto humanos, seres sociais”, afirma ela.

Os efeitos da globalização, somados às consequências do isolamento social imposto pela pandemia, tornaram os relacionamentos mais distantes, abrindo o caminho para que uma comunicação de sensações físicas táteis também seja possível remotamente através do digital. Mesmo que o toque seja a base da nossa interação com o touch de nossos gadgets, a Internet da Pele quer que sejamos capazes de tocar e sentir através de novas tecnologias, deixando para trás uma comunicação restrita a áudios, imagens e mensagens de texto. Até agora, “os dispositivos digitais nos deram um mundo de mensagens visuais. Mas nós já estamos acostumados com isso”, diz Douglas Atkinson, professor de Tecnologia Vestível na London College of Fashion e coautor do livro Interdisciplinary Insights For Digital Touch Communication. “As pessoas estão começando a experimentar formas não verbais de mostrar presença, solidariedade, apoio ou comunicar proximidade emocional”, continua.

A HugShirt, da Cute Circut, permite enviar abraços  (Foto: Divulgação)

A HugShirt, da CuteCircuit, que simula abraços (Foto: Divulgação)

Diante do dilema de que o digital fará com que as nossas sensações deixem de ser físicas, a Internet da Pele propõe a possibilidade de, por meio dos smart fabrics, sentirmos esse mundo digital em nossa pele. Disso, surge uma nova forma de construirmos a nossa própria relação com materiais. Para Petreca, que é formada em Moda e Têxtil pela Universidade de São Paulo e sempre foi fascinada pela relação entre a moda e o corpo, o toque também é fundamental para clientes e designers, que selecionam tecidos não apenas com base em sua aparência, mas ainda pela sua textura e caimento quando colocados no corpo. Com a tecnologia dos tecidos inteligentes, nós escolheremos materiais também pela capacidade de sensações que eles podem nos proporcionar, atribuindo aspectos ainda mais emocionais às roupas, que já “desempenham um papel importante em como as pessoas se sentem e se expressam”, diz Bruna.

Com projetos como o “Magic Lining”, desenvolvido colaborativamente entre a artista Kristi Kuusk e os cientistas do projeto MAGICSHOES, Ana Tajadura-Jiménez e Aleksander Väljamäe, esse futuro não parece estar tão distante. Usando nanomotores integrados à trama de um tecido, os pesquisadores criaram um vestido que permite às pessoas que o usam sentirem como se seus corpos fossem feitos de um material diferente. E se, ao invés da aparência, os wearables fossem projetados para criar diferentes sensações sobre a sua pele? “Qual seria a sensação de se sentir como uma nuvem ou como a água?”, questionam os pesquisadores.

Fazendo perguntas sobre o significado psicológico e emocional das roupas, o “Magic Lining” propõe uma nova relação com o vestuário, mudando a forma como nos sentimos em nosso interior (sem depender do feedback e da necessidade de aprovação de outras pessoas) através de dispositivos que interagem com a nossa pele por meio de uma camada têxtil e que vibram em padrões específicos para criar sensações. “Para designers, o projeto oferece um playground para desenvolver e testar várias sensações vibrotáteis e ver como elas afetam a percepção do corpo humano. Permite-nos repensar a forma como a moda e o vestuário são vistos”, afirma Kristi. "O resultado de tudo isso será um cenário em que, no futuro, as pessoas poderão vestir emoções projetadas por designers", completa.