• Costanza Pascolato
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Cliques do desfile Salon 01 da Bottega Veneta, apresentado secretamente para convidados em outubro passado, cujas imagens só vieram a público em dezembro (Foto: Divulgação)

Cliques do desfile Salon 01 da Bottega Veneta, apresentado secretamente para convidados em outubro passado, cujas imagens só vieram a público em dezembro (Foto: Divulgação)

Em uma temporada sem grandes novidades, a saída repentina da Bottega Veneta, uma das marcas mais bem-sucedidas de hoje, das mídias sociais, sem qualquer aviso ou explicação, provocou o maior frisson na moda. Pertencente ao conglomerado de luxo francês Kering, a grife italiana fechou suas contas no Instagram, Facebook e Twitter no dia 5 de janeiro deste ano.

Em 2020, e-commerces e plataformas digitais viram suas vendas dobrarem no mercado de bens pessoais – de roupas, joias, produtos de beleza, entre outros. Com projeção de muito mais crescimento para o futuro, a perspectiva é de que se transformem no principal canal de distribuição desses produtos. Assim, dizem os especialistas, o mais comum é também considerar as redes sociais como parte importante de estratégias online das marcas. Pelo menos até agora.

Por que, então, uma ruptura tão drástica como a da Bottega Veneta? Foi essa a pergunta da imprensa internacional. Há quem diga que se trata simplesmente de uma manobra de marketing para reconfigurar bases de divulgação e estimular as vendas da próxima coleção, o verão 2021, que logo, logo estará disponível.

Cliques do desfile Salon 01 da Bottega Veneta, apresentado secretamente para convidados em outubro passado, cujas imagens só vieram a público em dezembro (Foto: Divulgação)

Cliques do desfile Salon 01 da Bottega Veneta, apresentado secretamente para convidados em outubro passado, cujas imagens só vieram a público em dezembro (Foto: Divulgação)

Entretanto, uma revolucionária análise de insiders do mercado de luxo realizada pela revista americana Forbes traz novos dados. Feito com centenas de executivos que circulam ou trabalham nesse segmento, o levantamento sugere que as mídias sociais teriam um desempenho muito abaixo do esperado. Além de promessa exagerada para um retorno insuficiente, não há ferramentas de marketing específicas para atender a alta expectativa para os produtos e serviços de luxo. A constatação contradiz a maioria das empresas de publicidade e marketing, que considera as mídias “muito eficazes” porque, para essas agências, o que importa é o tráfego, os likes e compartilhamentos.

Para chegar a essa conclusão, os executivos observaram, porém, as poucas vendas concretas. Por isso, a decisão da Bottega, que partiu do diretor criativo Daniel Lee, pode ser termômetro de uma tendência. Lee, que é britânico e já foi chamado de “quieto radical” pela Vogue inglesa, não faz a menor questão de esconder seu desdém por todo o “barulho” da internet. E também não gosta de apresentações digitais. “Elas me parecem vazias, estimulam as cópias e banalizam os esforços feitos em tempos emocionalmente tão turbulentos. No fim, os conceitos não dispõem de profundidade. Isto limita a criatividade”, declarou.

Saída à francesa (Foto: Divulgação)

 (Foto: Divulgação)

A criatividade, aliás, é valor inerente às marcas do Kering, que engloba grifes como Gucci, Saint Laurent, Alexander McQueen e Balenciaga. E é por isso que o grupo trata cada etiqueta com uma tática diferente, cada uma com sua imagem. Mas como é a expressão criativa que deve indicar o futuro, a nova percepção nos negócios é de que as mídias sociais seriam uma miscelânea de mensagens divergentes que não combinam com o luxo. It is mass, not class ou, em livre tradução, “é massa, não classe”, conforme sugeriram os executivos.

À procura de novos movimentos criativos para atrair consumidores para a Bottega Veneta, especula-se que Lee estaria elaborando também uma maneira de fazer uma curadoria de suas mensagens de marketing, sintonizadas com o DNA luxuoso da marca. E o mais provável é que outras grifes sigam o exemplo.