• Alice Coy
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                                (Foto: Michael Willian)

Savannah usa brincos (R$ 3.750) da coleção de inverno 2021 da Fendi (Foto: Michael Willian)

Nascer em uma dinastia de moda não é uma experiência que muitas pessoas terão na vida, mas é justamente a história de Delfina Delettrez, parte da quarta geração de uma das mais tradicionais e unidas famílias da indústria, a Fendi. Sem vocação para herdeira em tempo integral, a italiana rapidamente percebeu que queria se estabelecer sem ser acusada de nepotismo.

Escolheu a joalheria, ramo pouco explorado pelo clã, justamente por esse motivo. Ela lançou a marca autoral que leva seu nome na extinta Colette, em 2007, e logo se tornou sucesso de crítica e vendas. Foi aplaudida por subverter noções centenárias do métier, feito que levou o Musée des Arts Décoratifs, em Paris, a adquirir duas de suas peças para anexar à coleção permanente. Durante esse período, fez colaborações pontuais com a Fendi, mas, modesta, dizia que precisava se aprimorar antes de mergulhar no negócio da família.

Mais de uma década depois, o momento finalmente chegou. Seu cargo oficial veio por meio de um convite de Kim Jones, que foi nomeado diretor artístico da maison em setembro de 2020, ocupando a função que durante mais de 50 anos pertenceu a Karl Lagerfeld (1933-2019). Desde então, Delfina responde pelas joias e bijoux das coleções de alta-costura e de ready-to-wear da grife, além de continuar tocando em paralelo sua etiqueta.

Sua primeira coleção, a Fendi O’Lock, parte do desfile de inverno 2021/22, desembarca no Brasil em novembro. Protagonizada por desenhos gráficos com as iniciais da label, a linha é composta por brincos assimétricos, presilhas, anéis, chokers e braceletes com banho de ouro amarelo. “Me sinto em casa na Fendi, é como rolar um álbum de família e adicionar novas imagens”, conta em entrevista à Vogue. “Sempre dizemos que sou o arquivo ambulante e, minha mãe [Silvia Fendi], o arquivo falante. Por meio do que visto, inspiro e mostro a Kim o passado, reativando-o. Minha mãe, seja o que for que eu use, tem uma história para contar sobre a peça. É uma forma natural e orgânica de fazer com que ele participe do que aconteceu antes de sua chegada.”

                                (Foto: Michael Willian)

Colar (R$  9.200) e presilhas (a partir de R$ 2.200) da coleção de inverno 2021 da Fendi (Foto: Michael Willian)

A veia rebelde que Silvia sempre nutriu na filha (Delfina era do tipo que voltava do colégio interno com os cabelos pintados sem autorização prévia) é um ingrediente que informa o seu processo até hoje. Na Fendi, ela quer livrar suas criações da concepção de que a preciosidade dos materiais deve ditar o valor da peça. Para acompanhar o mais recente desfile de alta-costura (exibido em julho), desenvolveu joias de murano e de mármore. No prêt-à-porter, códigos do universo da selaria e misturas de metais com couro são parte das suas apostas.

Reinventar códigos clássicos de um modo contemporâneo e pessoal é seu objetivo na empresa. Fica claro que a valorização da tradição e da continuidade é um valor primordial. Quando fala sobre Jones, traça paralelos com Karl. “É a história se repetindo, um designer homem rodeado de mulheres. Eles dividem não apenas a inicial do nome como também o signo do zodíaco [Virgem]. Como Kim, há muito diálogo, ele ama uma narrativa.”

Quando era criança, Delfina morava em uma grande casa com sua mãe e suas tias e, aos domingos, todos almoçavam juntos no jardim. “Desde cedo, todos eram convidados a participar de reuniões de família. Não importava a idade, você era estimulado a se expressar, certo ou errado. Era crucial ter uma opinião, uma ideia, um ponto de vista. Essa atitude naturalmente acelerou a criatividade de todos nós. Ninguém foi forçado a amar moda, claro que o fato de as irmãs Fendi serem ótimas professoras ajudou. Sempre houve muito interesse em tentar entender as diferentes gerações.”

De volta para casa  (Foto: Divulgação)

Peças da coleção de inverno 2021 da Fendi (Foto: Divulgação)

Mãe de uma menina (de 14 anos) e de dois meninos gêmeos (de 3 anos), essa é uma herança que ela mantém viva com seus filhos. Assim como costumava sair da escola e ir correndo para o estúdio da mãe, onde observava cada detalhe, pretende que eles façam o mesmo. “Minha filha já me acompanha no ateliê. É importante mostrar o processo, o trabalho árduo, e não apenas o resultado. Ela é curiosa, uma vez colocou na máquina de limpeza dois anéis e, quando a abrimos, eles estavam interligados. Foi assim que tive a ideia de criar um anel”, conta.

“Claro que nascer em uma família como essa tem seus ônus e bônus. Mas tenho orgulho de ter construído um nome no mundo da joalheria e de ter sido chamada para fazer parte da equipe, não por causa do meu sobrenome, mas pelo que conquistei ao longo dos anos. Sinto uma responsabilidade de manter o legado e aplicar todos os conhecimentos que me passaram.” Afinal, a história continua.

Beleza: Angel Moares com produtos Dior e Fenty
Assistentes de foto: Lara Silva e Thiago Willian
Modelo: Savannah (Mega) Agradecimentos: Estúdio PIX6 e Afetive Catering
Tratamento de imagem: RZ estúdio (@rz.estudio)