• Maria Prata
Atualizado em
Associe atividade física à meditação e melhore o treino (Foto: Reprodução )

 (Foto: Reprodução )

Nos últimos cinco anos, as vendas de cumbucas aumentaram 30% no mundo. O dado não poderia ser mais específico: afinal, que diabos fizeram a procura por bowls (o nome em inglês das tigelinhas, já bastante usado por aqui) subir tanto?

Pois bem, isso é só a ponta do iceberg de um macromercado que tem crescido de maneira explosiva nesta década, dando carona a uma gama infindável de produtos.

Tempos de tecnologia avançada, inteligência artificial, aceleração desenfreada da informação e, consequentemente, um ritmo exaustivo de vida acabaram por criar, em contraste, uma busca cada vez maior pelo bem-estar, ou, no termo mais mercadológico, wellness.

E tem ou não tem um efeito calmante comer uma comidinha na cumbuca, sentada na poltrona, com pantufas nos pés e um cobertorzinho no colo?

Este ano, o mercado global de wellness foi estimado em US$ 3 trilhões, ultrapassando a gigante indústria farmacêutica pela primeira vez na história. Numa análise imediata, esse dado, fornecido pelo bureau de tendências WGSN, indica que as pessoas estão buscando um estilo de vida mais saudável antes de precisar se medicar.

"Fomos nos intoxicando de tanta coisa, de tanto consumo, de tanto excesso, que precisamos agora nos desintoxicar", analisa Letícia Abraham, diretora-geral da Ascential America Latina, grupo que detém o WGSN.

Segundo ela, essa transformação vai desde uma alimentação mais cuidadosa e menos horas de trabalho por dia até ter menos "amigos" nas redes sociais.

Mas mesmo nas redes sociais essa tendência é latente. Aqui no Brasil, conhecemos direitinho um comportamento que vem sendo chamado pelo bureau de “ostentação alimentar”: influenciadores digitais (alô, blogueiras fitness!) têm preferido postar imagens de um estilo de vida saudável a mostrar o look do dia em seus perfis.

E dá-lhe fotos de pratos e mais pratos de comidas sem glúten, sem lactose, sem açúcar, mas com muito lucro envolvido: segundo o instituto Euromonitor, mesmo em tempos bicudos, a venda dos chamados alimentos “livres de...” movimentou um mercado de US$ 32 bilhões em 2016 no mundo, crescimento de 7% em relação ao ano anterior.

Ótimo exemplo disso é o sucesso das marcas de sucos saudáveis (em especial as que entregam em casa) e, mais recentemente, das casas de chá - segundo o instituto E.Life, as buscas pelo termo “chá gourmet” no Google cresceram quase 170% nos últimos cinco anos.

O que também cresceu com velocidade assustadora foi uma pequena start-up, com escritórios em Londres e na Califórnia, que criou um aplicativo, o Headspace, que usa smartphones para ajudar na prática milenar da meditação tibetana.

O app já soma 11 milhões de downloads e tem 400 mil assinantes pagos em 200 países. No ano passado, o negócio foi estimado pela Forbes em US$ 250 milhões.

Comida e meditação parecem ser os caminhos mais óbvios, mas, para entender a dimensão que a coisa tomou, vale ver como os mercados de moda e beleza se apropriaram do tema.

Um dos exemplos mais relevantes foi o nascimento e o crescimento do athleisure. O termo, que mescla as palavras atlético e lazer em inglês, define roupas de ginástica que vão além da academia. Viraram tendência tão forte aponto de fazer com que marcas que nunca tinham passado perto do universo esportivo apostassem em coleções específicas para a malhação (e o pós-academia).

O boom do athleisure ajudou a catapultar também empresas como a canadense Lululemon, especializada em roupas de ioga, que fechou 2015 com mais de US$ 2 bilhões em vendas.

E como é que a indústria de maquiagens, que movimenta mais de US$ 55 milhões ao ano, entrou na onda? Lançando produtos e linhas para serem usados durante o exercício - afinal, não basta malhar, é preciso postar, e todas querem estar bem na foto.

Bases mais leves, que prometem não entupir os poros nem sair com o suor e que contêm protetor solar são o carro-chefe das marcas que investiram no assunto.

Gigantes como a Sephora ajudam a aquecer o mercado ao incluirem suas prateleiras labels como a Sweat Cosmetics, uma pequena start- up criada por atletas profissionais americanas que, desde que começou a ser vendida pela rede, viu o faturamento crescer 500%.

Vamos ainda mais longe: se a ideia é desacelerar, olhar para dentro, se reencontrar, sair do caos, tcharan!, a indústria do turismo tem o que você precisa.

E viajar sozinho é o tema da vez. Segundo o portal TripAdvisor, 17% dos millennials planejaram viajar desacompanhados em 2016. O WGSN completa com um dado curioso: em 2015, 58% dos viajantes solitários eram mulheres, o que parece comprovar o sucesso de cada um dos temas citados acima, sempre mais ligados ao universo feminino.

"Não vejo esse movimento passar tão cedo", conclui Letícia. "Para a geração Z [nascida entre os anos 1990 e 2000], que chega 50 anos depois da superindustrialização, do consumo acelerado, não faz mais sentido ser escravo do trabalho", completa.

E é justamente aí que vai acontecer a próxima revolução. Além das comidas, da moda, da beleza e - ah! - das cumbucas, os especialistas acreditam que o mercado de trabalho vai passar por uma grande transformação nos próximos anos, tudo para que ninguém mais tenha que passar infinitas horas do dia dentro de uma empresa.

RAIO X
O mercado de wellness está estimado em US$ 3 trilhões no mundo.
US$ 250 milhões é o valor de mercado do app de meditação Headspace
A venda de alimentos “livres de...” representou US$32 bilhões em 2016
A marca canadense Lululemon, especializada em roupas de ioga, faturou US$2 bilhões em 2015