• Nô Mello (@NOMELLO)
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O cineasta americano em uma poltrona gigante que fica na sala de estar de sua casa, em Londres (Foto: Tung Walsh)

O cineasta americano em uma poltrona gigante que fica na sala de estar de sua casa, em Londres (Foto: Tung Walsh)

A minha mente não é muito organizada, é difícil responder a tantas perguntas”, sai dizendo Tim Burton logo que começamos a nossa conversa. OK, não é muito difícil imaginar que o cineasta, conhecido mundialmente por sua produção no mínimo excêntrica, com um forte pé no terror e outro na fantasia e no surreal, não tenha um jeito de pensar linear e cartesiano. Afinal, foi dessa “bagunçada” imaginação que saíram pérolas como Edward Mãos de Tesoura (1990), hoje clássico da história do cinema, e produções que marcaram a infância de gerações como A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005) e as animações O Estranho Mundo de Jack (1993) e A Noiva Cadáver (2005).

E essas são apenas algumas das adoravelmente horripilantes histórias e personagens da trajetória de Burton, que agora servem de base para A Beleza Sombria dos Monstros: 13 Anos da Arte de Tim Burton, megaexposição que toma a Oca, neste dia 8.05 e fica em cartaz até 14 de agosto, com projeções em tecidos, teatro de sombras, espelhos mágicos, realidade virtual e por aí vai, tudo para dar vida às icônicas criaturas e celebrar o gênio criativo de Burton.

“Estou colocando toda minha energia nesta mostra no Brasil”, comenta o cineasta de sua casa em Londres. A montagem, conta, celebra os 13 anos do lançamento do livro A Arte de Tim Burton, publicado em 2010 em sintonia com sua retrospectiva no MoMA em Nova York, que reúne centenas de ilustrações e materiais visuais de seus arquivos pessoais e de sua vasta filmografia. “A mostra remonta a intenção original do que eram as minhas ideias, imprimindo a elas movimento, explorando mais suas possibilidades de animação”, explica Burton.

“Meus desenhos são basicamente o que são e, mesmo sendo desenhos diferentes para coisas diferentes, eles ainda representam certas coisas temáticas, sejam lugares, viagens, pessoas, criaturas”, defende o artista. “Ou seja, você vai encontrar imagens icônicas na mostra, mas, de fato, elas são apenas um trampolim para que outras formas e situações ganhem vida.” Cerca de 110 pessoas se envolveram na realização da exposição, organizada pela curadora Jenny He em colaboração como diretor, e apresentada em São Paulo pela Rua 34.

A casa de Tim Burton é decorada com peças que remetem aos seus filmes, como o boneco de O Estranho Mundo de Jack e o fliperama de Batman (Foto: Tung Walsh)

A casa de Tim Burton é decorada com peças que remetem aos seus filmes, como o boneco de O Estranho Mundo de Jack e o fliperama de Batman (Foto: Tung Walsh)

Junto com a vinda ao Brasil, Burton está tocando outro projeto que tem tomado bastante do seu tempo – o cineasta, enquanto conversávamos, me contou que havia recém-chegado de uma temporada de nove meses filmando na Romênia por conta da nova empreitada – e que promete criar um tremendo alvoroço entre os fãs de seu trabalho e além: a série Wednesday, para a Netflix, ainda sem data de estreia prevista. É a primeira vez que o norte-americano se aventura pelo streaming, neste spin-off de oito episódios da Família Addams. Mas, desta vez, a narrativa focará nos personagens femininos, em especial, a Wednesday (Wandinha, na versão em português, que dá nome à produção).

O live-action se passa na Academia Nevermore, escola de magia para onde Wandinha (vivida por Jenna Ortega) será enviada pela mãe Morticia (Catherine Zeta-Jones) e o pai Gomez Addams (Luis Guzmán). “Tem um pouco da Família Addams, mas é mais sobre ela mesmo [Wandinha]. Sempre a amei como personagem. Forte, opinativa, sombria, mas engraçada”, se empolga o diretor. “Na série, ela já será uma adolescente, então vai ser uma mistura de mistério com vida escolar”, adianta. Além de Ortega e Zeta-Jones, integra o casting Christina Ricci, com quem já havia trabalhado antes em A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (1999) e que interpretou a personagem-título na versão de 1991 dirigida por Barry Sonnenfeld.

Burton no jardimde sua casa, onde coleciona toy art de personagens de seus filmes. O desenho da propriedade em Hampstead é inspirado emumpoema de Alice no País das Maravilhas (Foto: Tung Walsh)

Burton no jardimde sua casa, onde coleciona toy art de personagens de seus filmes. O desenho da propriedade em Hampstead é inspirado emumpoema de Alice no País das Maravilhas (Foto: Tung Walsh)

Muitas de suas criaturas estranhas e terrivelmente divertidas, Burton mantém sob cuidados em sua casa no topo de uma colina em Hampstead, em Londres, que Burton abriu para receber a Vogue Brasil. “A arquitetura da casa foi baseada em um poema de Alice no País das Maravilhas”, gaba-se o proprietário, ao lado de sua fiel companheira, a cachorrinha Levi. “É uma casa espirituosa e meio desconexa. Mais ou menos como eu, que fico vagando de um quarto para o outro”, me conta Burton, com suas estantes ao fundo recheadas de monstrinhos japoneses e versões toy art de criações suas.

Prestes a estrear no streaming e com uma exposição multimídia em cartaz, pergunto para Burton se isso representa uma cisão com o cinema tradicional da sala escura e da telona onde se consagrou. “O elemento-chave é fazer imagens. Essa é a coisa de que mais gosto e essa é a razão pela qual eu faço o que faço”, dispara sem hesitação. “Sempre foi assim que me senti em relação aos meus filmes. Gosto de coisas engraçadas e assustadoras ao mesmo tempo. Para mim, é disso que se trata a vida.”

Agradecimentos: Natalie Testa, Elle John e Fabio Mayor.

Este é um trecho da matéria É Fantástico, que recheia a Vogue Maio e em breve estará disponível nas redes de supermercados St. Marche e Zaffari e nas melhores bancas de jornais, e também no instashop do Instagram da Vogue Brasil (com entrega apenas para a Grande São Paulo). Assinantes podem conferir a edição digital da revista na íntegra pelo app @globomais.