• Emma Elwick-Bates
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Kate Moss (Foto: Reprodução/ Instagram)

Kate Moss lança marca de beleza e bem-estar Cosmoss (Foto: Reprodução/ Instagram)

Ao chegar à casa de Kate Moss, em Oxfordshire, a poucas horas de Londres, você é recebido por aquela atmosfera rock and roll boho que se esperaria da rainha reinante do festival de música Glastonbury (por 20 anos consecutivos). Rosas inglesas selvagens crescem ao longo dos estábulos e das dependências de pedra que pontilham a propriedade, e há um Rolls-Royce Shadow II prateado dos anos 1970 estacionado na entrada. Ao passar pela soleira da porta, sou recebida por dois esqueletos em tamanho real dispostos em uma posição comprometedora no chão de pedra.

Kate me encontra na porta em um caftan Missoni vintage de franjas e chinelos venezianos vermelho-cádmio aparecendo por baixo da bainha. Caminhamos do saguão para a sala de estar, onde ela se joga em um sofá rosa e macio. Recém-saída de um retiro de detox na Turquia, seu bronzeado é intensificado por joias antigas de turquesa e aquele sorriso brilhante e torto. Ela parece bem – muito bem mesmo.

“Eu simplesmente não sinto a necessidade de me distruir agora”, diz Kate, com um lampejo de malícia quando pergunto o que está por trás da impressionante virada de 180º de uma mulher que uma vez personificou os pecados capitais que hoje são a antítese do conceito de bem-estar. Sua própria inserção ao mundo do autocuidado, com Cosmoss – uma coleção de seis produtos para rituais de cuidado, que levou dois anos e meio para serem desenvolvidos – está profundamente ligada a esse cenário específico, como ela explica: as reuniões com sua equipe de desenvolvimento ocorreram na mesa de cozinha da sua fazenda e foram acompanhadas por passeios estimulantes pelo jardim, colhendo alecrim e louro, enquanto os detalhes da embalagem verde-musgo e dourada eram finalizados.

“Existem tantos chás de ervas com gosto de água de lagoa”, diz ela com bom humor, servindo Dawn, uma mistura de flores de hibisco, em um conjunto de copos marroquinos. A revigorante mistura rosa é deliciosa, com toques de urtiga e um pouco de tomilho para estimular o sistema imunológico e acalmar a alma. A versão relaxante, Dusk, indicada para a hora de dormir, tem o azul intenso de uma espécie borboleta (“É a cor do céu daqui, por volta das sete horas”, diz Kate). “Cosmoss celebra minhas vulnerabilidades e pontos fortes”, diz ela, ao mesmo tempo etérea e comum. “Resiliência também é uma ótima palavra.”

COSMOSS (Foto: Reprodução/ Instagram)

COSMOSS (Foto: Reprodução/ Instagram)

Mas vamos voltar um pouco: o chá sozinho não pode transmitir o tipo de confiança transcendente que Kate, agora com 48 anos, irradiou no Met Gala deste ano, e ela é a primeira a admitir isso. “Eu só queria crescer”, diz ela, sobre algumas mudanças sérias que vem fazendo na vida na última década, inspiradas, em parte, por sua filha “muito bem comportada e muito estudiosa”, Lila, 19 anos, que está indo para a Parsons School of Design em Nova York neste outono. Kate Moss agora faz sua sequência de Ashtanga três vezes por semana e organiza banhos de som e de gongo em sua sala de estar com a senhora da loja local de alimentos saudáveis. Pode parecer hippie, mas quando ela descreve as sessões terapêuticas – sentadas em almofadas ao lado de uma grande escultura de Buda colocada em frente à lareira de mármore –, a ideia de olhar para as pinturas de Francis Bacon e Damien Hirst de Kate ao som de bowls tibetanos e sinos preenchendo a sala me parece bastante calmante. Está tudo muito distante do escrutínio daqueles primeiros anos em que ela era modelo, período que foi passado ​​em uma névoa Marlboro Light e sem pensar muito sobre o que significava ser saudável. “Havia tanta falta de cuidado”, lembra Kate. “Você era uma criança, e eles simplesmente jogavam um croissant velho para você durante os bastidores dos shows.”


Sua primeira viagem de desintoxicação à Turquia, há 10 anos, foi esclarecedora. “Ninguém me ensinou que, se você não comer vegetais, ainda vai ficar com fome porque não está recebendo uma nutrição adequada”, diz ela, oferecendo um almoço rápido de espinafre cozido no vapor, peixe e arroz integral. Essas e outras habilidades práticas para uma vida saudável foram adquiridas no pitoresco resort Akra Barut, em Antalya, onde os profissionais da LifeCo ensinaram Kate sobre como incorporar a atenção plena em todas as facetas de sua vida. O programa preferido de Kate é o Master Detox, uma limpeza de uma semana criada pela treinadora nutricional de Londres e autora de best-sellers Amanda Hamilton: sem alimentos sólidos, apenas sucos, para dar um descanso ao sistema digestivo. Em sua visita mais recente, Moss viajou com cinco amigas. “Acordávamos às 6 da manhã para nadar no mar, fazer sucos e nos manter saudáveis”, diz ela. Uma introdução ao poder de fortalecimento do corpo e da mente pela yoga, presente do instrutor francês favorito da atriz Sadie Frost, quando Kate fez 44 anos, foi igualmente transformador. Mas a contribuição de Victoria Young – a homeopata de Londres apresentada pela maquiadora Charlotte Tilbury e pelo namorado de longa data de Kate, Nikolai von Bismarck – se tornou central tanto para sua vida diária quanto para sua marca de estreia.

Uma mistura de meditação transcendental e aplicativos como Calm e Insight Timer é agora o eixo do dia de Kate Moss: “Hoje eu queria estar mais presente; ontem, eu estava em paz e com coragem”, ela compartilha da dose extra de força interior necessária para o processo transmitido ao vivo que ela acabou de presenciar – um lembrete sutil para qualquer um (todos) que estava assistindo ao tórrido processo judicial entre Johnny Depp e Amber. Ouvi dizer que Kate sempre foi, desde que era uma adolescente sardenta e com cabelos castanho-avermelhados, um árbitro de autenticidade. “Fiquei feliz por ter feito isso. Tinha que ser feito”, diz ela em um tom comedido, apontando conscientemente para uma mesa espartana, o local pertinente onde ela deu sua declaração remotamente [Kate Moss testemunhou no julgamento de Johnny Depp versus Amber Heard] – e de onde o mundo ficou obcecado novamente com suas maçãs do rosto incomparáveis, que pareciam brilhantes, mesmo em uma tela Zoom.

Esse brilho pode ser atribuído ao extrato usado em dois produtos da linha de Kate Moss, um complexo de três plantas selvagens islandesas, presentes no creme facial e limpador que ela desenvolveu com Victoria Young. “Estou obcecada em lavar o rosto”, diz, provavelmente uma ressaca dos muitos anos que passou na cadeira de maquiagem. O limpador de espuma tem um toque de argila rosa desintoxicante e bakuchiol – que, ela explica com orgulho, é uma alternativa à base de plantas ao retinol. Outro ingrediente notável: CBD, o elixir de beleza da reformada festeira dos anos 90. “Eu uso para aliviar a tensão, em vez de tomar uma taça de vinho. Acho muito calmante”, diz ela, acariciando seu cachorrinho Papillon, satisfeito nas dobras de seu cafetã. “E eles têm CBD para cães, você sabia?” ela acrescenta, deixando cair um pouco de seu Golden Nectar, um óleo antioxidante rejuvenescedor de células, em sua língua.

COSMOSS (Foto: Reprodução/ Instagram)

COSMOSS (Foto: Reprodução/ Instagram)

A linha é totalmente vegana, o que Kate não é, mas ela é uma “comedora consciente”, diz, sentando-se para uma sopa de alcachofra e torradas amanteigadas com Victoria Young e sua equipe, enquanto  Lila se junta a eles. Calma e equilibrada, a jovem Moss entra na cozinha com botas de combate pesadas e uma longa saia preta de chiffon floral, o contorno de seu monitor de diabetes visível através do tecido. Lila, que havia sido fotografada pela Vogue no dia anterior, compartilha o amor de sua mãe pelo estilo vintage e ritual de chá, e elas se comunicam calorosamente, conversando sobre seus planos de ver os hologramas do ABBA naquela noite e o mérito dos rumores sobre a reunião do Fleetwood Mac em Glastonbury, que infelizmente não se concretizou.

“É esse equilíbrio de todas essas belas partes de [Kate] de uma só vez”, sugere Young sobre o apelo do Cosmoss. “E as partes não tão bonitas”, interrompe Kate, um aceno para sua abordagem de bem-estar pessoal que está longe de ser monástica: no meio da conversa, ela acende um cigarro com uma discrição felina, que pensei até ter imaginado. “Acho que essa é uma das coisas mais pessoais que ela já fez; sem influências externas. Veio desta casa, que é seu lugar sagrado”, acrescenta o consultor criativo e cabeleireiro de longa data de Kate, James Brown, que veio para Oxfordshire seis semanas antes do COVID e mora com Kate, Lila e von Bismarck desde então.

Como parte integrante desse grupo de foco íntimo, Brown foi um dos primeiros usuários do creme facial, pois tinha uma inflamação na pele “destrutiva da alma” que Moss estava determinado a ajudar a curar, apesar da relutância inicial de Brown em bancar a cobaia. Seguiu-se uma briga de irmãos, primeiro sobre a aplicação e, apenas 24 horas depois, sobre quem ficou com a única amostra. Cosmoss evoluiu “exatamente como Kate queria”, continua Brown, aponta para a vista da sua mesa de café da manhã: “Ela ama aquele jardim tanto quanto um vestido de corte viés Galliano!”

COSMOSS (Foto: Reprodução/ Instagram)

Os produtos da Cosmoss, marca de beleza e wellness de Kate Moss (Foto: Reprodução/ Instagram)

Durante um passeio entre as peônias, papoulas e allium, que são pontilhadas de tulipas (um presente anual do cabeleireiro Sam McKnight) e alguns cravos rosa “muito anos 80” (a marca Santa Maria Novella parou de produzir óleo de cravo, então Kate está cultivando ela mesma), ela me conta sobre suas ambições de beleza quando paramos ao lado de uma carroça cigana. A peça de madeira decorativa, um presente para o aniversário de 15 anos de Lila, é regularmente requisitada como esconderijo por Kate, e ela se enrosca lá dentro, revelando seu objetivo com uma afirmação assertiva: “Eu quero ter meu próprio spa!”. É uma ideia convincente, em grande parte graças a um desejo quase evangélico de espalhar essa mensagem de autocuidado gentil. “Eu pensei: eu simplesmente amo isso – e quero dizer às pessoas”, diz Kate, sobre as ervas curativas, meditação e outras práticas prescritas por Young.

As duas mulheres trabalham quase simbioticamente e, antes de voltar para Londres, sou rapidamente borrifada com sua “fragrância de aura”, chamada Sacred Mist. Young me encoraja a ‘visualizar’ enquanto inspiro a mistura inebriante de musgo de carvalho, madeira de cedro e tonka. “Ainda estamos nos divertindo, apenas é uma diversão diferente”, insiste Kate, batendo em bowl para emitir um som, em uma nobre tentativa de me ensinar como usar a ferramenta de meditação. Não tenho certeza se ativou meu chacra cardíaco, mas senti as boas vibrações.