• Emma Firth
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Audio Erotica (Foto: Arthur Elgort/Conde Nast via Getty Images)

(Foto: Arthur Elgort/Conde Nast via Getty Images)

“Estou pensando sobre onde estamos no mundo. Onde gostaria de estar com você. Estou imaginando que eu e você estamos deitados na praia.” E assim, com o telefone sob o meu peito, fecho os olhos e começo a pensar no sol, no mar e em s...

Alguém poderia pensar que esse diálogo aconteceu tarde da noite. Ou que é um papo inventado, coisa da minha cabeça. A verdade é que é um mix de ambos. Esse é o mundo do áudio erótica, no qual o wellness sexual e o desejo encontram o storytelling. Muitos já descreveram o áudio erótica como pornô para os ouvidos. Não estão errados, mas é mais que isso. Pense em algo como Headspace com tesão: meditações guiadas, fantasias imersivas (narradas por atores), histórias sexy desenhadas para te deixarem no clima, exercícios de “escreva sua própria fantasia”... Uma nova onda de odisseias em áudio tem ajudado pessoas a relaxar e a entender o próprio corpo, além de acordar seus sentidos através do toque.

Diferente da pornografia tradicional, o erotismo em si é mais figurado. Não é uma necessidade sexual. É mais sobre se deixar levar do que focar em como chegar lá. “Áudio erótica te dá a oportunidade de sentir algo mais sensual”, diz Gina Gutierrez, cofundadora do app Dipsea, uma meditação em áudio que ajuda na exploração sexual e que desde seu lançamento, há dois anos, já foi baixado mais de 500 mil vezes. Seus maiores usuários são mulheres entre 25 e 35 anos – e na quarentena o número de usuários cresceu significantemente. “Queremos que sexualidade esteja na mesma frase que exercício e meditação. É uma maneira de se sentir mais viva, confiante e empoderada”, continua Gina.

Dipsea (Foto: Divulgação)

Dipsea (Foto: Divulgação)

A tendência crescente tem a mesma aprovação que o ASMR (acrônimo para Autonomous Sensory Meridion Response), que se refere ao sentimento de prazer em resposta a um certo som. Basta uma pesquisa rápida no Google para ver mais de 160 milhões de hits. Mesmo se a experiência seja algo não-sexual em sua natureza, o gênero atua como um portal para a intimidade. Você sente a pessoa no mesmo ambiente que você. É sedutor e tranquilizador ao mesmo tempo.

Esse aspecto pessoal é o core do Qunn, site conhecido como o “Spotify da pornografia”, lançado por Caroline Spiegel, a irmã mais nova do fundador do Snapchat Evan Spiegel. A ideia veio de uma frustação pessoal sexual: “Quando eu tinha tempo de me masturbar, não ficava excitada com o visual do pornô”, disse. O Quinn mostra histórias narradas, classificadas por temas, como por exemplo, masturbação guiada, romance e lésbicas (o termo mais popular nas buscas).

“É como ir para a cama com alguém. O que vai fazer dessa uma experiência sexual incrível? Temos muita diversidade no time de criadores para que tenhamos diferentes histórias para diferentes tipos de pessoas”, conta Caroline.

Para quem não tem tempo, a beleza desse guia de autocuidado é que ele vira parte da sua rotina e te faz se sentir maravilhosa, segundo Caroline. “Você acorda, faz café, toma um banho e Quinn por 10 minutos...” Outro elemento atraente do áudio erótica é que ele te encoraja a refletir sobre os aspectos mentais e emocionais do prazer. “Nosso approach é realmente desacelerar para entrar em sintonia com o corpo”, explica Anna Hushlak, fundadora do app de wellness sexual Ferly. Também é sobre corrigir um histórico problemático. 

Como Anne diz, a ideia de que o orgasmo é um presente concedido (e não algo que você consiga fazer sozinha), “vem com uma falta de conhecimento do nosso corpo e prazer, especialmente para mulheres.” E mesmo que estejamos confortáveis com a masturbação, temos a tendência a praticá-la de uma mesma maneira a vida toda. Esses exercícios guiados são como combinar mindfulness e terapia cognitiva com toques, deixando com que as pessoas entrem no clima de maneira divertida, acessível e nada intimidadora.

Ferly (Foto: Divulgação)

Ferly (Foto: Divulgação)

A diferença dessas novas plataformas é encorajar as pessoas a explorar o que elas acham erótico e o que gostam, mas sem focar em performance ou sua imagem. É como uma brincadeira de “tá frio, tá quente” ao investigar nossos corpos, limites e até desaprender hábitos que se tornaram mecânicos.

Igualmente importante nessas fantasias imersivas, você é a protagonista da narrativa. A ideia é mesmo tirar o foco do estresse da vida cotidiana e entrar em contato com seus desejos. Para muitas mulheres, isso pode ser traduzido como ser dominada. “Mostra a diferença entre fantasia e vida real. Estamos todos fazendo o melhor para nos sentirmos poderosos nos nossos trabalhos, sustentar nossas famílias, sermos bons amigos – o que é muita coisa. Para muita gente é ótimo ter a oportunidade de desligar ‘a cabeça de chefe’ e se tornar uma pessoa sensual de novo”, diz Gina.

Com vontade de explorar esse território? Primeiro, lembre-se que não é uma corrida para chegar ao orgasmo. Deixe o clima gostoso a acender velas e comece devagar, sem pressão ou expectativas. Se desafie ao repensar a maneira como vê seu corpo. Crie suas próprias aventuras eróticas e separe um horário na agenda para priorizar o seu prazer, assim como faria com sua meditação matinal.

O áudio erótica não sugere substituir intimidade real, mas nos lembra que temos responsabilidade quando a vontade é se sentir mais cuidada e viva. Se dar prazer é o começo de se cuidar.