• Olga Penteado
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comida alimentação (Foto: Fernando Gomez)

comida alimentação (Foto: Fernando Gomez)

A quarentena está gerando uma cobrança pessoal no que diz respeito à produtividade – e isso pode ser visto também na forma nos relacionamos com nossos corpos. “Mais sensíveis e ansiosas, estamos nos vendo por um ponto de vista nem sempre tão acolhedor, o que pode ter reflexo na saúde física e mental”, fala Maria Francisca Mauro, psiquiatra e psicanalista especializada na área de Transtornos Alimentares, do Rio de Janeiro. O stress e a ansiedade, em alta no período, podem levar ao aumento do apetite e o ganho de peso e, segundo a psiquiatra, as pessoas que mais sofrem com isso são as que têm dificuldade de lidar com a autoimagem. “Ainda é comum vermos aqueles que creditam o ganho de peso como uma moeda de fracasso, uma falta de autocuidado.

Como se fosse sinônimo de falta de força de vontade”, explica a especialista. Além de equivocada, essa visão acaba dificultando que as pessoas abaladas trabalhem melhor suas próprias emoções fora da ótica do julgamento. “O principal ponto é tentar perceber como estão suas emoções quanto à comida e ao seu corpo, e evitar radicalismos”, diz Maria Francisca, que dá orientações para que evitemos as armadilhas da auto sabotagem e da autocrítica destrutiva. 

Estabeleça uma rotina alimentar para regular os hormônios da fome
Quando o stress está em alta, ocorre uma desregulação tanto nos hormônios que regulam a fome (grelina, leptina) quanto na área cerebral responsável pelo aviso de que precisamos nos alimentar. Para tentar colocar o circuito interno em ordem, procure estabelecer horários para as principais refeições, sem ficar o dia todo apenas com lanches ou pulando as refeições. Ponha a mesa e não coma de forma distraída, vendo algo no celular ou assistindo televisão.

Não pense em calorias, e sim na qualidade do que consome
Além da necessidade de comer com mais frequência, pode surgir também a maior procura por alimentos “palatáveis”, isto é, aqueles ricos em gordura e açúcar.  Tenha em mente, porém, que a alimentação pode ser saudável e prazerosa ao mesmo tempo: inclua itens que aliem essas qualidades e que agrade o seu paladar. Outro ponto: é importante não focar nas calorias, mas na qualidade e diversidade da alimentação. Alguns itens que podem auxiliar na saciedade e no prazer são as frutas secas e as oleaginosas (damasco, tâmaras, castanhas, nozes, amendoim).

Organize suas compras e tenha cuidado com o delivery de comida
O período está alterando também nossa rotina de compras, que pode estar mais desorganizada e com mais opções de alimentos de rápido consumo. Tente se organizar fazendo listas e estabelecendo um período -- por exemplo, compre semanalmente. Evite, na medida do possível, aqueles itens que não consegue resistir. Quem não abre mão da praticidade dos congelados, deve ter a opção de saladas e frutas para diversificar a dieta com produtos frescos. Cuidado com aplicativos de entrega de comida: evite pedir refeições “pesadas” de forma cotidiana, verifique se está ocorrendo um excesso de gastos e desabilite notificações desses apps. Quem cozinha pode estabelecer um dia da semana para organizar o preparo da comida -- é válido também planejar um cardápio que seja viável para os dias de trabalho.

Aposte em outras fontes de recompensa
É comum procurar amenizar o desconforto emocional com a comida, uma vez que ela ativa áreas de prazer no cérebro. Mas dá para estimular nosso sistema de recompensa sem passar pelas guloseimas. A atividade física diminui a vontade de comer “besteira”, já a meditação ou mindfulness (atenção plena) ajudam no controle do stress, enquanto filmes e livros leves e divertidos distraem e levantam o astral. 

Aproveite o momento de recolhimento para se conhecer melhor
A forma como a pessoa percebe seu corpo e a sua relação com o peso depende de características individuais e do contexto social e familiar em que está inserida. Para quem sente maior pressão em relação à imagem, o caminho é verificar de onde vem esta percepção. É importante perceber qual a história que tem com seu próprio corpo e aprender a escutar seus incômodos e os questionar. Por exemplo, se você se sente mal ao ver alguns conteúdos de mídia social, talvez seja interessante deixar de seguir perfis que sejam gatilhos para isso.

Busque ajuda profissional, se necessário
O alerta é redobrado para aqueles que lutam contra os transtornos alimentares, como a anorexia, a bulimia e compulsão alimentar. O primeiro passo é se permitir perceber que as coisas não vão bem e tentar fazer as medidas de reorganização de rotina (exercício, horários de refeição, alimentos disponíveis em casa). Posteriormente, tentar eliminar os comportamentos nocivos para saúde, como o uso de medicamentos por conta própria com o objetivo de perder peso. De acordo com o nível do sofrimento, é preciso buscar ajuda profissional para superar as dificuldades -- o que pode ser feito por meio da telemedicina. O importante é não se acomodar ao sofrimento.