• Paula Merlo
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Andrea Schwar (Foto: Divulgação)

Andrea Schwar (Foto: Divulgação)

Andrea Schwarz fundou a consultoria iigual em 1999, aos 23 anos, apenas um ano após ter se tornado uma mulher com deficiência. “Precisei de pouco tempo para perceber que eu continuava sendo a mesma pessoa, agora sentada em uma cadeira de rodas, mas que o mundo não estava preparado para alguém como eu”, conta. “Abri a empresa a partir do propósito que encontrei: ser relevante para um mundo mais acessível e inclusivo!”

“Em 2022, a iigual completou 23 anos com resultados expressivos: já são mais de 20 mil pessoas com deficiência que conseguimos ajudar a incluir no mercado formal de trabalho”, conta Andrea, de 46 anos. “Estou a mais tempo de vida sentada do que em pé, mas me sinto realizada com o caminho que foi escolhido para mim e por tudo o que estou podendo realizar.”

Conheça mais sobre seu trabalho e rotina abaixo:

O maior desafio de 2022: “Escrever um livro. E, também, equilibrar todos os papeis que exerço, sejam eles profissionais ou pessoais. Tenho assumido progressivamente novas e maiores responsabilidades, mas estou no caminho que trilhei para mim, muito feliz e realizada. Entretanto isso exige uma rotina bastante disciplinada e muita energia.”

Qual seu maior orgulho no que faz: “É deixar um legado intangível para os meus filhos (Guilherme e Leonardo, 16 e 13 anos, respectivamente), e para as próximas gerações. É, no fim do dia, sentir que o meu trabalho ajuda a transformar a forma como enxergamos as pessoas com deficiência, bem como suas possibilidades e com isso gerar novas oportunidades.

A sociedade sempre enxergou a deficiência a frente da pessoa, do profissional, do consumidor, dando mais foco na limitação do que nos potenciais. Com quase 25 anos de vivência na cadeira de rodas e com tudo o que conquistei, mostro que existem caminhos além daquela realidade que parece estar traçada – se você é uma pessoa com deficiência.

Minhas conquistas vieram por conta do meu trabalho e, por isso, escolhi me especializar na inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho: entendi que essa é a melhor via de inclusão. Com o trabalho estamos ativos, nos desenvolvendo, conhecendo pessoas e pagando as nossas contas. Isso nos faz protagonistas das nossas vidas. E saber que já ajudamos tantas pessoas a conquistar um emprego isso me deixa muito orgulhosa.”

 (Foto: Divulgação)

Andrea e seu marido Jaques Haber (Foto: Divulgação)

Como começa o dia: “Acordo todos os dias cedo, por volta de 6h30. Pego meu celular, leio todas as mensagens, dou uma passada nas redes para começar a me inspirar e escrever meu conteúdo diário e matinal no LinkedIn.

Enquanto vou pensando no que escrever e comunicar, faço algumas tarefas domésticas, como tirar e guardar a louça, tirar da máquina e dobrar as roupas. Depois tomo banho e café da manhã. Como alimentos leves e saudáveis para me manter bem disposta para o dia que vem pela frente.

Posto no LinkedIn entre 8hs e 8h30 e, a partir daí, já estou no 220v, acelerada, respondendo e-mails, em reuniões, dando palestras, desenvolvendo projetos, gerenciando o time. E com atividades de mãe e dona de casa no meio do caminho, tudo junto e misturado.

Duas a três vezes na semana faço fisioterapia, mas deveria fazer mais. Durante um tempo fiz ioga e amei, mas ultimamente não estou tendo muito tempo...”

Como organiza o dia a dia: “Minha agenda é no celular, mas tenho um caderno que anoto tudo. Ainda preciso do papel. Faço muitas palestras e, em cada uma delas, fazemos uma reunião prévia de briefing, daquilo que devo destacar em minhas falas: tudo isso eu anoto no meu caderninho. Não vivo sem ele. Na questão das palestras e reuniões mais importantes tenho o auxílio da Head Comercial com a minha agenda, mas basicamente quem administra ela sou eu.”

Como é a rotina no trabalho: “Agitada! Sou muito disciplinada. E acelerada também. Sou daquelas que não deixa nada para depois. ‘Não deixe para amanhã aquilo que você pode fazer hoje’ é o meu lema.

Se chega um e-mail ou uma mensagem no celular já procuro responder, mas minha agenda gira em torno das palestras ou treinamentos. A partir dos espaços livres encaixo reuniões com clientes, equipe e comercial.

Uma coisa que me ajudou muito foi a flexibilidade do modelo de trabalho remoto. Desde antes dessa onda, já havíamos adotado na iigual o modelo completamente remoto, sem controle de horas, apenas gestão sobre entregas, entendendo que cada pessoa deve poder organizar o seu dia da forma que melhor atender.

No meu caso, o fato de estar em casa é muito vantajoso, pois posso mudar de posição ao longo do dia, me sentando na cama ou no sofá, e utilizando o meu banheiro que é acessível. Quando a iigual estava em um escritório e o trabalho era presencial eu chegava a ficar 14 horas sentada na mesma posição. Isso é muito prejudicial à saúde.”

Como cultiva a criatividade: “O que procuro fazer é conviver com pessoas diversas e diferentes de mim. Esse é o segredo para ampliar sua consciência e visão de mundo. E, o que eu mais amo fazer na vida: viajar! Sentada na cadeira de rodas já consegui visitar mais de 40 países, dos EUA ao Japão, e recentemente voltei do Canadá em uma viajem que chegamos até o Alaska de navio. Foi a primeira vez em 24 anos que coloquei a minha cadeira de rodas na neve! Ao viajar me sinto viva, conheço outras culturas e, também, como é a acessibilidade ao redor do mundo e o respeito e consciência de outras sociedades com relação as pessoas com deficiência.

Também amo moda, me cuidar, me maquiar e certamente isso também contribui para minha criatividade.”

Como cuida da saúde física, mental e espiritual: “Durante a pandemia, descobri uma praia no litoral de São Paulo onde eu conseguia passear com a minha cadeira de rodas, pois a faixa de areia é extensa e dura, assim minhas rodas conseguem girar ali. Essa descoberta foi um sonho, pois passei mais de 20 anos achando que praia não combinava com cadeira de rodas.

Na segunda onda da pandemia, passamos 5 meses nessa praia em um apartamento alugado e, desde então, preciso ir todo final de semana para lá. É assim que faço hoje para equilibrar a rotina maluca da semana: desacelerando aos finais de semana.

Na praia eu tenho um acessório que se encaixa na minha cadeira e a transforma em um triciclo motorizado. Aí, aproveito para dar uma volta na praia com meu marido, Jaques Haber, que me acompanha correndo ou andando de bike.

Sou uma mulher judia, mas não sou religiosa. Quando fiquei na cadeira de rodas, um rabino importante de Israel estava no Brasil e veio me visitar. Ele me disse algo que me marcou profundamente e me ajudou a entender o que havia acontecido comigo. Ele disse: ‘Nada acontece por acaso e se aconteceu com você é porque você pode suportar.’ Aquilo me ajudou a entender que isso fazia parte do meu destino e que, ao me aceitar em minha nova condição, poderia contribuir para um mundo melhor, mais acessível e mais inclusivo.”

Como lida com as frustrações no trabalho: “Não é fácil, mas aprendi sempre a encarar meus desafios de frente e de cabeça erguida. A deficiência me ensinou que controlamos pouco daquilo que nos acontece, mas que podemos controlar como reagimos quando aquilo que acontece. Passar pelo desafio diário que é estar na cadeira de rodas me transformou em uma pessoa bastante forte emocionalmente e resiliente.”

Estilo de liderança: “Inspiracional. Não é algo que busco, mas que acontece naturalmente a partir da minha história de vida, do meu propósito e da forma como encaro os desafios da vida. Tenho extrema confiança no meu time. Na iigual todas as pessoas podem planejar seu tempo da forma que quiserem para que façam suas entregas no prazo e com qualidade. Sabemos onde queremos chegar.”

Como incentiva o trabalho de equipe: “Estando próxima, mesmo que seja virtualmente, e participando das conversas e discussões. Incentivo todas as pessoas a terem ideias, a pensar de forma diferente e a se arriscar em novas oportunidades. Não temos cargos na iigual, por exemplo. Aqui, temos pessoas com determinadas responsabilidades, mas nossa estrutura é bem horizontal, todos têm voz e são incentivados a sugerir melhorias, dar opinião e contribuírem nos serviços de inclusão que oferecemos para as empresas.”

Como termina o dia: “Não agendo reuniões depois das 19hs. E a partir das 20hs, desacelero para curtir o resto do dia com minha família e relaxar.”