• Laure Guilbault
  • Vogue Business
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Gucci (Foto: Reprodução/ Emily Malan)

Coleção Love Parade da Gucci (Foto: Emily Malan)

O presidente do grupo Kering, François-Henri Pinault, diz que o grupo de luxo está pronto e disposto a experimentar o metaverso, enquanto anuncia uma recuperação no crescimento da Gucci, uma de suas principais inovadoras digitais, após dois anos de baixo desempenho.

Enquanto o presidente-executivo da LVMH, Bernard Arnault, disse estar cauteloso com a “bolha” do metaverso, Pinault, do grupo Kering, olha adiante. “Vai acontecer? É muito cedo para dizer. Somos muito ativos. Veremos se justifica mais tarde. É mais uma filosofia de inovação no grupo que nos faz trabalhar desta forma”, disse ele durante coletiva de imprensa. Pinault observou que o metaverso já é uma realidade no mundo da arte. “Será um universo em um ambiente econômico mais amplo? Eu acho que vai acontecer. Vai se tornar tanto uma oportunidade quanto um fenômeno disruptivo.”

Questionado pelo Vogue Business sobre o quanto o grupo está contribuindo para marcas entrarem no metaverso, Pinault revelou que o grupo criou uma equipe totalmente dedicada à web 3.0 e ao metaverso, liderada pela diretora de inovação Amélie Lemoine. Além disso, tanto a Gucci quanto a Balenciaga possuem equipes dedicadas à web 3.0. “Estamos em um estágio extremamente inicial. Nada é certo: pode inclusive fracassar”, disse Pinault. “Mas, a filosofia do grupo quando se trata de inovação – em vez de esperar para ver, que costuma ser a postura das casas de luxo – é testar e aprender.”

Pinault citou três tipos de oportunidades de metaverso para o conglomerado de luxo. O primeiro são os NFTs vinculados a produtos físicos. Em segundo lugar estão os produtos virtuais. (“Podemos imaginar categorias puramente virtuais. Serão criações relacionadas ao nosso campo, como roupas, sapatos? Talvez, mas poderia ser outra coisa”, disse Pinault.) E em terceiro lugar estão os contratos inteligentes que podem ajudar marcas, por exemplo, a se beneficiarem de mercados secundários. “A noção de anuidade na propriedade virtual é algo completamente novo. Hoje, quando você revende um produto, a casa não recebe nada. No entanto, temos um IP sobre a criação do produto físico. Amanhã, porque há um contrato inteligente ligado a ele, uma parte da revenda irá para a marca.”

Gucci (Foto: Reprodução/ Emily Malan)

Kering diz que está pronta e disposta a experimentar no metaverso (Foto: Emily Malan)

Ele permanece cauteloso, no entanto, devido à volatilidade do estágio inicial. “Lançamos um NFT com Gucci [e Superplastic]. Eu tenho um na minha carteira Metamask. Uma hora após o lançamento, foi avaliado em US$ 50 mil. Agora está em torno de US$ 4 mil. É por isso que você precisa ter cuidado antes de pular, mas algo está acontecendo."

Outras incertezas, incluindo aceitar criptomoedas, estão na mente de Pinault. “Uma das consequências da Web 3.0 é que os dados pertencerão aos usuários”, disse ele. “Isso vai abalar o CRM e, portanto, o comércio eletrônico se [a Web 3.0] se tornar a realidade dominante. As tecnologias VR e AR, ao se tornarem realidade em larga escala, transformarão o próprio design dos sites. No curto prazo, devemos aceitar ou não aceitar criptomoedas em nossos sites? Contratamos um especialista que está trabalhando nisso. Há grandes considerações legais e fiscais.”

A Gucci tem sido uma líder de inovação no metaverso, com NFTs, presença em plataformas web 3.0. como Roblox e Discord, e um mundo virtual planejado no The Sandbox por vir. A grife informou que o crescimento da receita acelerou 32% no quarto trimestre, superando as expectativas. As vendas aumentaram 18% em comparação com o mesmo período de 2019. A Europa Ocidental e os EUA lideraram os ganhos, com alta de 58 e 53%, respectivamente.

Em fevereiro do ano passado, Pinault anunciou planos de recuperação para a Gucci em meio a uma desaceleração; após investimentos em produtos de alto padrão, eventos e marketing, incluindo uma colaboração com a Balenciaga. A coleção Aria, posicionada a um preço muito mais alto do que o habitual para a Gucci, marcou uma mudança de estratégia.

“A Gucci é uma casa centenária que tem todas as características de um jovem adulto”, disse Pinault durante uma coletiva de imprensa após a ligação do investidor. “Essa batida é importante, pois quebra alguns trimestres de desempenho sem brilho em relação aos pares”, escreveu o analista da Bernstein, Luca Solca, em nota.

Em 2021, a receita da Kering aumentou 35% em relação a 2020 para € 17,64 bilhões e subiu 13% em relação a 2019. A Saint Laurent subiu 47% no quarto trimestre, Bottega Veneta subiu 14% e a categoria de outras casas, que inclui Balenciaga e Alexander McQueen, saltou 34%. As vendas gerais de varejo da Kering aumentaram nos EUA e na Ásia-Pacífico (menos o Japão), 82% e 37%, respectivamente, no quarto trimestre em relação a 2019. A Europa permaneceu abaixo dos níveis pré-pandemia, com queda de 4%. “Estamos a todo vapor e todas as nossas casas contribuíram para o nosso forte desempenho”, disse Pinault. A empresa está procurando ativamente oportunidades de aquisição, observou ele, inclusive na categoria de joias.

A Kering se junta à LVMH e outras empresas de luxo em uma recuperação mais ampla do setor. A divisão de moda e artigos de couro da LVMH registrou um aumento de 42% em 2021 em relação a 2019, com crescimento nos EUA e na Ásia liderados pelas marcas Louis Vuitton e Dior.

“Embora seja muito cedo para concluir sobre o sucesso do ‘novo capítulo’ de crescimento da Gucci, a diferença de crescimento do varejo entre a Gucci e os melhores pares diminuiu – um ponto positivo”, disse o analista do Citi, Thomas Chauvet, ao Vogue Business.

Matéria orginalmente publicada no Vogue Business