• Fernanda Simon, editora contribuinte de sustentabilidade da Vogue
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Macacão Ken-gá (R$ 690) e saia Alexander Wang no Trash Chic (R$ 999). Panneaux Fernanda Yamamoto. Brincos Aisegui Telli na Alice Floriano (R$ 2.640) e bolsa Valentino (Foto: Hick Duarte)

Transparência na Moda: maiores marcas globais caminham em passos lentos para solucionar problemas atuais (Foto: Arquivo Vogue/ Hick Duarte)

Este mês foi lançada a sexta edição do Índice de Transparência da Moda (ITM), realizado pelo Fashion Revolution global, o projeto analisa e classifica 250 das maiores marcas e varejistas de moda do mundo de acordo com a divulgação de informações públicas sobre suas práticas, políticas, impactos sociais e ambientais. Infelizmente, o índice deste ano revela um progresso lento em áreas cruciais, como por exemplo no apoio aos trabalhadores perante a pandemia do Covid-19 e no combate à crise climática. De acordo com a diretora de política global do Fashion Revolution e autora do relatório, Sarah Ditty: “Os resultados do Índice deste ano servem para nos lembrar que a maioria das grandes marcas ainda não divulgam informações sobre o que estão fazendo para pagar salários dignos aos trabalhadores em suas cadeias de fornecimento. As marcas continuam a lucrar durante a pandemia, enquanto os trabalhadores do setor de vestuário sofrem os impactos devastadores de seus pedidos cancelados, incluindo salários não pagos, insegurança alimentar, instabilidade de emprego e pobreza.”

Os cancelamentos de pedidos por conta do COVID-19 das principais marcas de moda deixaram milhões de trabalhadores do setor do vestuário sem emprego. Os resultados do ITM revelam que poucas grandes marcas, apenas 3%, estão divulgando publicamente o número de trabalhadores em suas cadeias de suprimentos demitidos devido ao COVID-19, o que deixa uma "imagem incompleta" sobre como os trabalhadores enfrentaram a crise social e econômica durante a pandemia. Além disso, menos de um quinto (18%) das principais marcas divulgam a porcentagem de seus cancelamentos completos ou parciais de pedidos, tornando difícil avaliar o impacto total da pandemia nas cadeias de suprimentos da moda.

O relatório mostra que a maioria das marcas avaliadas (99%) não divulga o número de trabalhadores em sua cadeia de suprimentos que estão recebendo um salário mínimo e 96% não publicam um plano sobre como pretendem alcançar um salário mínimo para todos os trabalhadores em sua cadeia. As marcas também atrasam pagamentos aos seus fornecedores, e o ITM descobriu que menos de 10% das marcas publicam uma política para pagar aos fornecedores dentro de 60 dias, o que significa que as roupas são frequentemente usadas pelos consumidores antes que as marcas paguem às fábricas que as fabricaram.

Embora que muitas marcas apoiem movimentos de justiça racial no espaço digital, especialmente nas redes sociais, o Índice deste ano incluiu novos indicadores que questionaram se as marcas publicam suas ações na 'promoção da igualdade racial' dentro de seus negócios. Os resultados mostram que apenas 12% das marcas publicam informações relevantes, indicando que embora as marcas se beneficiem de relações públicas positivas apoiando justiça social, elas ficam aquém na divulgação de dados e políticas concretas sobre as questões raciais e étnicas. É válido ressaltar que a maior parte das operações dessas marcas estão no Sul Global e Extremo Oriente, empregando mulheres não brancas, portanto, são essas as mais afetadas com a falta de transparência dessas marcas.

O Índice destaca que as grandes marcas não estão divulgando dados ambientais suficientes, as marcas avaliadas divulgam poucas informações sobre seus esforços para lidar com a superprodução, o uso de plástico e o desperdício, apesar da urgência da crise climática. Apenas 14% divulgam a quantidade total de produtos fabricados anualmente, dificultando o entendimento da escala de superprodução global. Quase um terço das grandes marcas (32%) descreve ter esquemas de devolução de roupas permanentes em vigor, mas apenas 22% divulgam o que acontece com as roupas recebidas por meio desses esquemas, o que normalmente envolve roupas indesejadas sendo revendidas no exterior em vez de recicladas em novos tecidos e roupas. Mais de um terço das grandes marcas (36%) publicou seu progresso no sentido de reduzir o uso de plásticos virgens para embalagens, mas apenas 18% o fazem para têxteis derivados de combustíveis fósseis virgens, que os consumidores são menos propensos a reconhecer como plásticos.

A transparência é vital para responsabilizar as marcas, porém é importante ressaltar que transparência não é sinônimo de sustentabilidade, e sim um caminho em prol de um desenvolvimento mais sustentável. O índice é um projeto extremamente importante neste momento de transição da cadeia da moda, pois incentiva marcas a buscar mais ferramentas e soluções, comprova a urgência de melhores políticas públicas para o setor e apresenta informações de qualidade para apoiar o ativismo do público em geral.

O Fashion Revolution Brasil realiza anualmente o projeto avaliando as grandes marcas brasileiras ou que atuam com relevância no país. A edição nacional de 2021 sairá em novembro, mas todas as edições passadas podem ser encontradas online, bem como a edição global deste ano.

Para baixar o Índice de 2021: https://www.fashionrevolution.org/about/transparency/