• anita porfirio (@nitafp)
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Angélica Alves usa bolero Haute Hippie no Trash Chic (R$ 899) e calça Reinaldo Lourenço (R$ 1.940). Sutiã Intimissimi (R$ 139), clutch R.Rosner (R$ 900) e cinto Francesca (R$ 615) (Foto: Mariana Maltoni)

O preconceito contra brechós é coisa do passado (Foto: Mariana Maltoni)

Eu vou ser bem sincera: quando comecei a consumir peças vintage e a frequentar brechós, minha motivação principal não era a sustentabilidade. Era muito mais a adrenalina do garimpo, aquele sexto sentido de que você faria um achado incrível em meio a pilhas de roupas usadas.

Isso foi na minha adolescência, lá nos anos 2000, quando o tal do resale não era uma buzz word, a Amazônia e a Austrália não estavam queimando (tanto) e Greta Thunberg mal conseguia falar “mamãe”, quanto mais mobilizar multidões em torno das suas greves climáticas.

Corta para 2020, o aquecimento global é notícia dia sim, dia também; a moda ocupa o inglório posto de segunda indústria que mais consome recursos hídricos e é responsável por 10% de toda a emissão de carbono do planeta. Comprar roupas usadas não é mais um hobby alternativo: é um manifesto contra o desperdício e pelo consumo consciente. Mas ainda é consumo – e pode gerar consumismo.

Confesso que disso sou culpada. Tanto que fiquei conhecida na redação por receber ao menos um garimpo on-line por semana (meu prédio não tem portaria, veja bem, então todas as encomendas são entregues no trabalho). Concordo que seria interessante economizar ou investir em viagens, em um imóvel, ou na minha educação, mas, em minha defesa, só arremato achados incríveis a ótimos preços (minha bolsa Chanel da década de 1980, que custou R$ 250, é um dos troféus).

E também faz anos que não perco o controle em uma liquidação de fast-fashion e busco frequentemente doar ou vender o que não tem mais lugar no meu armário – uma espécie de 3ª Lei de Newton do consumidor sustentável: toda ação tem uma reação.

Meu dia a dia, de certa forma, sempre foi permeado pelo consumo de segunda-mão e por itens vintage, coisa que aprendi a apreciar com minha mãe – tenho e uso coisas que pertenceram a ela e a minhas avó e bisavó. Prefiro restaurar e reformar o que já tenho a substituir por algo novo (e assim descartar aquilo que está "estragado").

E esse mindset vai para muito além do closet. Meu carro é um Fusca 1976, meu apartamento foi construído na década de 1940, 90% do meu mobiliário foi comprado em antiquários e sites de revenda ou foi herdado. Eu não conseguiria nem tenho interesse em viver de outra forma.

Conclusão? Thrifting não é uma tendência, é um estilo de vida. É sobre apreciar processos mais que resultados e sobre colecionar, além de objetos, boas histórias. Quem sabe este relato não te convence a garimpar também?