Na sessão de ontem, o dólar registrou alta de 0,23% ante o real e encerrou no maior nível desde janeiro de 2023. Desde o dia 17 de maio, a moeda americana já avançou 3,83% contra o câmbio doméstico, passando de R$ 5,10 para R$ 5,30. Para quem tem uma viagem marcada ao exterior, ou pretende aplicar dinheiro lá fora, o que fazer agora? É hora de comprar, ou a moeda deve recuar nos próximos meses?
Segundo o Boletim Focus, relatório publicado semanalmente pelo Banco Central (BC), que compila uma média das expectativas de instituições do mercado financeiro, a moeda americana deve encerrar o ano cotada a R$ 5,05.
Mas, para Cristian Pelizza, economista-chefe do escritório de investimentos Nippur Finance, essa previsão é conservadora. "Não vejo uma tendência de baixa para o dólar. As estimativas pioraram, e o Focus está corrigindo esse rumo de forma lenta".
Marcela Kawauti, economista-chefe da gestora Lifetime, espera que a moeda americana encerre o ano um pouco acima das previsões do Boletim, no nível de R$ 5,10. "A cotação de R$ 5,30 é uma reação do mercado a todas as incertezas que estão povoando o cenário econômico atualmente".
A desvalorização da moeda, contudo, depende que os fatores que estão impulsionando a valorização da moeda americana se dissipem.
Por que o dólar está subindo tanto?
O primeiro fator que está impulsionando a alta do dólar é a manutenção dos juros americanos em níveis elevados. Apesar de dados recentes apontarem para uma desaceleração da inflação e do emprego no país, especialistas ainda estão céticos de que serão suficientes para convencer o banco central americano (Federal Reserve, o Fed) a começar a cortar as taxas, explica Pelizza. "Será necessário pelo menos mais um mês de dados fracos para reforçar um corte em setembro".
Outro motivo que vem incentivando a alta do dólar globalmente é uma piora de riscos geopolíticos, tanto por conta da guerra entre Rússia e Ucrânia quanto o conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas. Como ambos os conflitos estão se estendendo, devem continuar a pressionar a moeda. Nesse cenário, investidores estrangeiros preferem deixar suas aplicações em países mais seguros, retirando dólares de países emergentes, como o Brasil.
O terceiro fator é uma piora na percepção de risco fiscal do Brasil após a mudança das metas para a inflação, explica o economista da Nippur Finance. Para a economista da gestora Lifetime, quando o governo não mostra esforço em direção à meta fiscal, o mercado começa a questionar para que serve novo arcabouço. "No primeiro ano de vigência das regras, o governo não se mostra impelido a economizar dinheiro".
Para piorar o cenário, haverá novas indicações do governo para a diretoria do Banco Central (BC) no segundo semestre. Diante das mudanças, investidores temem que pode haver uma interrupção na forma como a autoridade monetária trabalha atualmente e seus diretores fiquem mais lenientes diante da inflação, diz Kawauti. "Todas essas incertezas políticas são inseridas no preço da moeda doméstica".
Portanto, apenas uma sinalização mais clara de que o corte de juros deve começar nos EUA e dos próximos passos da política fiscal podem ajudar o real a valorizar ante o dólar. Sobre os riscos geopolíticos, o fim dos conflitos atuais também podem aliviar a pressão sobre a moeda americana.
Na sessão de terça-feira, a cereja do bolo, que levou a cotação do dólar a subir de forma mais intensa ante o real, foi a forte alta do petróleo e do minério de ferro, que foram em parte corrigidas ontem. Na segunda-feira (5), os preços de contratos futuros do petróleo subiram até 3% por temores sobre excesso de oferta após um acordo da Organização dos Países Produtores de Petróleo, a Opep, de que cortes de produção passam a ser opcionais a partir de outubro.
Como o mercado brasileiro depende muito da exportação de commodities para trazer fluxos de dólares para o país, uma queda no preço desses produtos enfraquece esse fluxo, o que valoriza o dólar perante o câmbio doméstico.
O que fazer então?
Ainda que seja difícil prever a tendência do dólar ante o real, de uma coisa os analistas têm certeza; que haverá um maior sobe e desce da cotação nos próximos meses.
Kawauti aponta que uma maior volatilidade acontecerá especialmente por conta da eleição americana, que será muito polarizada e, portanto, pode ter discursos fortes sobre questões geopolíticas que mexerão com o mercado.
Como os próximos meses podem provocar outros movimentos bruscos da moeda, vale a clássica recomendação de ir comprando a moeda aos poucos, como forma de fazer um preço médio interessante e amenizar movimentações da moeda ao longo do tempo, recomenda Pelizza.
"A melhor estratégia sempre é mitigar riscos realizando compras recorrentes, e não tentar adivinhar o movimento certo porque o cenário é imprevisível".