Moedas e Juros

Por Marília Almeida, Valor Investe — São Paulo


O dólar fechou a semana em forte queda de 2,27% ante o real, cotado a R$ 5,46, mas chegou a atingir a cotação de R$ 5,66 na terça-feira (2), maior nível em quase 30 meses, e encostou, ao longo do dia, em R$ 5,70. Apenas na segunda-feira, o dólar valorizou 1,15%. Com esse sobe e desce intenso, a moeda americana ganhou os holofotes e caiu na boca do povo, investidores e até do presidente da República.

Luiz Inácio Lula da Silva chegou a afirmar que o real estava sofrendo um ataque especulativo e que o dólar não estava subindo por conta de suas falas, mas porque estava valorizando globalmente. Contudo, gestores de fundos fizeram até cálculos para refutar essa afirmação.

A volatilidade na semana foi causada, na verdade, por uma série de fatores, internos e externos. Lá fora, desde o início do ano, moedas emergentes têm desempenho negativo ante o dólar. Isso porque ainda há muita incerteza sobre quando os juros americanos começarão a cair, o que vem atraindo dinheiro para os Estados Unidos e, consequentemente, valorizando a moeda americana.

Nesse ambiente de pressão internacional, fatores internos se tornaram exarcebados perante o olhar de investidores. O movimento de desvalorização do real começou, na verdade, no final de abril, quando houve a mudança da meta de inflação sem redirecionamento de gastos, aponta Gustavo Sung, economista-chefe da casa de análises Suno. "Essa decisão do governo aumentou a percepção de risco fiscal".

Mas a cereja do bolo foram as críticas quase diárias do presidente à decisão do Banco Central de manter os juros em 10,5% ao ano, anunciada no dia 19 de junho. Lula chegou a acusar o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, de ter viés político. É necessário lembrar que a decisão sobre os juros do Comitê de Política Monetária (Copom) foi unânime e, portanto, incluiu os membros indicados pelo governo. Além disso, Campos Neto deixa a presidência do BC no ano que vem, o que aumenta o nervosismo do mercado quanto ao seu sucessor, que será indicado por Lula.

Todos esses fatores estavam pressionando o real na terça-feira, dia 2 de julho, quando a moeda atingiu seu pico em mais de dois anos e meio, a cotação de R$ 5,665 e chegou a encostar em R$ 5,70. Para piorar, falas de Lula nas diversas entrevistas que deu no início da semana deram a entender aos operadores que poderia elevar o IOF do dólar para controlar a subida da moeda. Foi quando a moeda atingiu o seu pico.

Lula então resolveu convocar uma reunião com membros de sua equipe econômica na quarta-feira (3), quando tanto ele como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reafirmaram o compromisso fiscal. À noite, Haddad anunciou corte de gastos que pode chegar a R$ 25,9 bilhões, o que também ajudou a aliviar a pressão sobre a moeda brasileira. Por fim, Haddad disse que o governo precisa evitar ruídos e comunicar melhor. Desde então, a moeda passou a cair.

Por fim, os dados do mercado de trabalho americano mais fracos hoje, medidos pelo payroll, colaboraram para o real fechar a semana no azul, após ter chegado a registrar o pior desempenho no ano ante 33 moedas. "O cenário externo um pouco melhor, menos rusgas entre o governo e o Banco Central e a diminuição da percepção de risco fiscal trouxeram a moeda ao patamar atual", conclui Sung.

No ano, contudo, o dólar ainda valoriza 12,56% ante o real. Isso sugere que as dúvidas internas, e nem as externas, se dissiparam totalmente. Mas é certo que houve uma trégua à moeda.

Real chorando — Foto: GettyImages
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