Seguros, Previdência e Capitalização
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O setor de seguros estabeleceu um desafio até 2030: saltar dos atuais 6% de representação do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro para 10%, alcançando R$ 1,13 trilhão em arrecadação e ampliando em 20% a parcela da população atendida pelo setor. O plano de desenvolvimento prevê, ainda, elevação do pagamento das indenizações, que atingiriam R$ 731,5 bilhões ao fim do período. Mas, para chegar lá, conta com medidas no cenário interno. O controle da inflação deve vir acompanhado da queda mais acentuada da taxa de juros, que, no patamar atual de dois dígitos, impede investimentos maiores na economia real.

As seguradoras também estão otimistas com as reformas estruturais que estão sendo feitas, como a tributária, e com a adoção de políticas, como a da neoindustrialização e do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), para impulsionar diferentes setores de produção, gerar empregos, aumentar a renda e os negócios em vários nichos do seguro. Os investimentos previstos pelo governo federal são de R$ 1,7 trilhão ao longo das obras, que envolvem concessões e Parcerias Público-Privadas (PPPs) e têm potencial para impactar segmentos como o seguro-garantia, riscos de engenharia, responsabilidade civil, transportes, residencial e vida, entre outros. O setor reconhece ainda que precisa fazer a lição de casa e os ajustes necessários para chegar à fatia da população difícil de alcançar, como a baixa renda.

A indústria de seguros vem crescendo acima de 10% ao ano nos últimos cinco anos – exceto no auge da pandemia. “O que é resultado de um conjunto de fatores: as empresas têm investido em eficiência, digitalização, diversificação de risco e lançamento de produtos mais adequados e com agregação de valor”, observa Dyogo Oliveira, diretor-presidente da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg). Além disso, o executivo destaca os novos produtos que estão chegando ao mercado em função de demanda represada e de regulamentação mais flexível por parte da Superintendência de Seguros Privados (Susep), como o sandbox regulatório, que trouxe novos arranjos para novos e antigos setores. “O que resulta em seguros como o cibernético, o seguro Pix, seguro bolsa de mulher, além da agregação de valor em seguros antigos, como o automóvel, que traz serviços como socorro elétrico residencial, conserto de eletrodomésticos e hidráulico”, conta Oliveira.

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A tendência é a diversificação dos canais de distribuição via bancos, corretores e parcerias com redes de varejo, empresas de distribuição de alimentos, de transportes e companhias aéreas, além das plataformas digitais das próprias seguradoras. O executivo demonstra otimismo com a economia brasileira. “No ano passado, o país cresceu 2,9% e a previsão inicial era de 2,2%. Estamos incorporando nas projeções do setor mais fundamentos econômicos e esperamos avançar entre 11% e 12% em 2024 – apesar das dificuldades no segmento saúde”, afirma Oliveira.

Para o setor, os puxadores de negócios neste ano, além da previdência complementar, virão dos ramos automóveis, com projeção para avançar 13,3%, seguro-garantia, 22,3%, rural, 10%, pessoas, 9,3%, e transportes, 8,1%.

Octaviani, da Susep: mercado não chega a 20% da população — Foto: Divulgação
Octaviani, da Susep: mercado não chega a 20% da população — Foto: Divulgação

Para a Porto, líder do segmento auto, com 28% de participação de mercado, o segundo semestre de 2023 já mostrava aumento nas emissões de apólices do produto, o que fez com que fechasse 2023 com 245 mil veículos a mais em sua carteira, alcançando 5,9 milhões de carros segurados. O resultado foi um crescimento de 10,7% na carteira de prêmios, para R$ 15,6 bilhões. Parte do desempenho deve-se à sua estratégia de expansão nacional, com novos produtos adequados a cada região, como o seguro-auto por assinatura, com pagamento de mensalidade. “Estamos há dois anos com esse produto, o Azul por assinatura, que veio no ambiente do sandbox regulatório, foi desenvolvido em casa e já ultrapassa 100 mil clientes”, conta Rivaldo Leite, CEO da Porto. O executivo salienta que o mercado tende a ficar mais diversificado ao ampliar coberturas que antes eram residuais, o que levou a empresa a lançar há pouco mais de um ano e meio os seguros para celular e bicicleta. “O celular já ultrapassa 120 mil clientes e o bike, em torno de 50 mil”, afirma.

Leite explica que os lançamentos são para atender também às classes C e D. Outra aposta da Porto é no segmento vida, que conquistou 728 mil novas apólices, totalizando 5,3 milhões de vidas em 2023. “No ano, dobramos o lucro líquido, alcançando R$ 2,26 bilhões e um retorno sobre o patrimônio líquido médio (ROAE) de 19,6%”, diz ele, confiante em 2024 devido à melhora do ambiente econômico, que já se espelha no desempenho das vendas nos primeiros meses – quase todos os ramos tiveram alta superior a 10%. “A geração de mais empregos e de renda leva as pessoas a comprar mais veículos e a negociar mais seguros. Os empresários também estão mais preocupados com a inclusão e bem-estar dos funcionários e estão dando mais benefícios para retenção de bons talentos.”

Na parte regulatória, a Susep atua acelerando a publicação de resoluções e circulares e criou um grupo para colocar em prática o Plano Nacional de Acesso ao Seguro, que corrobora com a agenda 2030 do setor. “O plano tem dois eixos. Um é o da oferta. Tem que ter choque de ofertas. E o outro é o aumento da demanda”, afirma Alessandro Serafin Octaviani Luis, superintendente da Susep. Ele lembra que o mercado doméstico tem baixa penetração e não chega a 20% da população. “Comemoramos quando qualquer ramo de seguros bate em duas dezenas, como auto, mas, na verdade, tem 80% do mercado para buscar em mais de 200 milhões de habitantes”, observa Octaviani. Para aumentar a oferta de produtos mais populares, a Susep, por meio do programa sandbox regulatório, fomentou a criação de quase duas dezenas de seguros que estão ativos.

Além disso, busca regularizar a entrada de cooperativas e associações de proteção veicular ao ramo de seguros. O Projeto de Lei (PL) 519, em tramitação no Congresso Nacional, expande a atuação das cooperativas. “Se elas foram bem no mundo do crédito bancário e respondem por 7% a 10% dos financiamentos do país, podemos replicar isso nos seguros”, diz o executivo.

Já o PL 101 (junto com o 519), se aprovado, criará condições para regularizar mais de três mil associações de proteção veicular que hoje operam ilegalmente no país. “E colocará no mercado de seguros R$ 15 bilhões que hoje negociam garantias análogas à securitária. Como não está regulado, esse mercado não recolhe tributos e não tem regras a seguir”, diz o superintendente. “Entrando em ambiente legalizado, o aumento de oferta de proteção patrimonial será feito com as regras claras da Susep.”

Oliveira, da CNseg: eficiência, digitalização, diversificação de risco e novos produtos — Foto: Davidyson Damasceno/Divulgação
Oliveira, da CNseg: eficiência, digitalização, diversificação de risco e novos produtos — Foto: Davidyson Damasceno/Divulgação

As seguradoras destacam também que regras aprovadas recentemente exigem que até 30% das grandes obras – acima de R$ 200 milhões –, como as previstas nos programas de neoindustrialização e no novo PAC, tenham seguro contratado. De olho nisso, a Tokio Marine prevê ampliar a sua participação no segmento corporativo, que representou 29% do total de sua carteira e cresceu 14% nos últimos 12 meses até abril de 2024. “Acreditamos fortemente nessas políticas governamentais de investimentos para avançar em linhas como o seguro- garantia, de riscos de engenharia, de responsabilidade civil, meio ambiente, residencial e de transportes”, afirma José Adalberto Ferrara, presidente da seguradora.

O executivo também tem planos para crescer no segmento que classifica como a nova indústria de energia verde. “O país tem todas as condições de se tornar líder em produção da green energy do futuro. Para uma seguradora como a Tokio e seus multiprodutos, isso é música aos ouvidos”, diz Ferrara. A Tokio assegura as fases de construção e operação em fábricas de eólicas e fotovoltaicas.

Já o Bradesco enxerga potencial cascateado para avançar nos diferentes ramos, que vão do seguro-garantia, responsabilidade civil, transporte, rural e resseguros (em parceria com a Swiss Re) até o seguro de vida. E o resultado do primeiro trimestre de 2024 já apontou para isso, quando atingiu R$ 16,1 bilhões em prêmios emitidos nos produtos auto, ramos elementares, vida e saúde, uma alta de 11% em relação a igual período de 2023. A seguradora, que fechou 2023 com alta de 11,6%, para R$ 61,2 bilhões em prêmios emitidos, aposta neste ano em produtos massificados e vendidos ‘em combo’ e sob demanda para diferentes regiões do país. O objetivo é atingir todas as classes sociais e entrar em novas regiões, usando canais diversificados de distribuição e de comunicação. “Vamos mostrar desde processo sucessório dos planos de previdência para quem tem renda mais alta até produtos mais acessíveis para as camadas mais baixas, como o seguro de vida ao custo de R$ 9,90, que dá cobertura adequada a determinadas necessidades”, diz Ivan Gontijo, presidente da Bradesco Seguros.

Os novos nichos nos campos cibernético e climático também estão no radar do Bradesco. Na parte climática, especialmente para o Sul do país, com atendimento diferenciado do seguro residencial em um quadro de aumento constante de eventos extremos como o que resultou na catastrófica inundação de várias cidades do Rio Grande do Sul em maio.

De olho também nas mudanças climáticas, já que mais de 50% de sua carteira vem do seguro rural, a Brasilseg – união da BB Seguros e da Mapfre – investiu R$ 460 milhões nos últimos três anos em tecnologias que permitem maior precisão em previsões meteorológicas e novas soluções e produtos para customizar e reduzir o tempo de resposta aos segurados. A seguradora, que quase duplicou seu faturamento entre 2020 e 2023, quando atingiu R$ 18 bilhões em prêmios emitidos, prevê atingir a projeção anunciada de avançar mais 13% no mercado neste ano. Para isso, deve contar com a ajuda do ‘balcão’ do Banco do Brasil (BB) e das parcerias estabelecidas com terceiros. “Reforçamos parcerias com correspondentes bancários, revendas de máquinas e de insumos e com cooperativas do agronegócio. Hoje são mais de mil parceiros cadastrados, que geraram R$ 2,1 bilhões em prêmios em 2023”, conta Amauri Vasconcelos, CEO da Brasilseg.

Gontijo, da Bradesco Seguros: potencial para avançar em diferentes ramos — Foto: Bitenka/Divulgação
Gontijo, da Bradesco Seguros: potencial para avançar em diferentes ramos — Foto: Bitenka/Divulgação

O executivo explica que no seguro rural é essencial ser rápido e eficiente em relação às indenizações, especialmente em relação às perdas de safras devido a temporais e outros eventos naturais. “Nosso conceito é simplificar, proteger e melhorar a experiência do cliente. Entregamos cheques de indenização aos produtores rurais que perderam as safras até nos eventos em que participamos. Alguns superam R$ 10 milhões em indenizações e o produtor rural sabe valorizar isso”, afirma Vasconcelos, que planeja ampliar também a participação em ramos como vida e prestamista, que representaram 41,08% da carteira, e em produtos como o residencial, empresarial e no seguro protegido para celular e Pix, com tíquetes menores.

Para acelerar seu avanço no mercado doméstico, o grupo alemão HDI optou por ir às compras e adquiriu, no ano passado, a totalidade das operações da Liberty Seguros e a parte de varejo da Sompo Consumer (que envolve as linhas de automóvel, vida, residencial e condomínio), o que reposicionou sua receita de R$ 4,5 bilhões em 2022 para R$ 13,7 bilhões em 2023. “As aquisições mostram que a seguradora está otimista com o mercado brasileiro de seguros a curto, médio e longo prazos não só pela sua baixa penetração, mas também pelos investimentos públicos que vão melhorar a vida das pessoas e distribuir mais renda. Assim, o seguro fará parte dos produtos de maior necessidade dos brasileiros”, observa Eduardo Dal Ri, CEO do grupo HDI.

O executivo acredita que o seguro de vida também será impulsionado, porque as empresas que fornecem para o PAC são reguladas e têm funcionários registrados, que recebem este tipo de benefício. “Isso também gera círculo virtuoso para as empresas que são suas fornecedoras.” O executivo lembra ainda que só 14% das residências têm seguro no país. “As pessoas acham que é um seguro caro, mas custa bem menos do que o de automóveis”, observa Dal Ri.

Na Zurich e na Sompo também há expectativas de que as políticas nacionais impulsionarão o mercado doméstico de seguros nos ramos em que já vêm se posicionando com resultados ascendentes, como seguro-garantia, riscos de engenharia, responsabilidade civil e transportes. Só em riscos de garantia, a Zurich viu sua carteira avançar 155% em 2023, saltando de R$ 81 milhões em prêmios para R$ 208 milhões, enquanto a de riscos de engenharia atingiu R$ 92 milhões, alta de 15,6% em relação ao ano anterior. No total, a Zurich somou R$ 6 bilhões em prêmios em 2023, com alta de 10%. Neste ano, no ramo corporativo, a alta tem sido de 36%. “Estamos entrando em uma nova fase do seguro-garantia com a nova lei, que tende a aquecer esta linha e trazer maior segurança para os investidores”, afirma Edson Franco, CEO da Zurich Seguros no Brasil.

O executivo explica que este tipo de garantia protege o investidor contra riscos de execução das obras e apoia governos e prefeituras em seu acompanhamento. Para ele, as novas regras trazem maior agilidade e competitividade ao setor. Não só no seguro-garantia, que tem que ser contratado antes do início das obras, mas também para o risco de engenharia no momento da execução. “E o patrimonial depois. São três linhas com alto potencial e que, juntas, carregarão outros ramos, como o de responsabilidade civil”, diz Franco.

Na Sompo, que avançou 15,3% no total de prêmios em 2023, para R$ 2,26 bilhões, e 37,5% no primeiro trimestre deste ano, a aposta é que o seguro-transporte seja impactado positivamente neste e nos próximos anos, impulsionado pelas novas políticas públicas. A seguradora é líder nesse ramo no país e fez o seu primeiro bilhão em total de prêmios emitidos em 2023. A empresa investiu R$ 5 milhões na recém-lançada infraestrutura da central de monitoramento própria, para dobrar a capacidade de prestação desse serviço nessa linha. “A Sompo deve investir cerca de R$ 250 milhões neste ano em projetos que visam dar suporte à meta de estar entre as três seguradoras mais relevantes do mercado no segmento de seguros corporativos e do agronegócio”, afirma Alfredo Lalia Neto, presidente da Sompo no Brasil. Para isso, a companhia está trabalhando na expansão do portfólio de produtos e no incremento da consultoria em gerenciamento de riscos, que hoje é direcionado aos clientes do segmento de transporte e deve ser disponibilizado para clientes de outros ramos. “A companhia também trabalha em projetos que visam trazer condições diferenciadas nos contratos de resseguro para que possa ter mais capacidade de subscrição, com condições melhores aos clientes de grandes riscos”, diz Lalia.

Apostando mais fortemente nos produtos vida e previdência, a Icatu projeta um resultado acima do mercado neste ano. Para tanto, a seguradora, que avançou 21% no total de prêmios e no faturamento em 2023, com

R$ 4,2 bilhões e R$ 12,9 bilhões, respectivamente, vem fechando parcerias e colocando novos produtos na praça. A última, em abril deste ano, posiciona a Icatu como a seguradora oficial do Plano de Amparo Social Imediato (Pasi), seguro de grupo popular que tem 50 mil pequenas e médias empresas e oferece seguros a partir de R$ 1,50. “A parceria alia a expertise da Icatu no segmento à inteligência do Pasi na distribuição de seguros para empresas de diferentes áreas de atuação no país”, diz Luciano Soares, CEO da Icatu.

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