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Ramalho, do  HDI: seguro de automóveis traz oportunidades de expansão — Foto: Gustavo Rampini/Divulgação
Ramalho, do HDI: seguro de automóveis traz oportunidades de expansão — Foto: Gustavo Rampini/Divulgação

Depois de pelo menos dois anos impulsionado pelo aumento dos preços dos veículos, o ramo automóveis se prepara para um 2024 positivo e de crescimento dos prêmios, agora liderado pela expansão no número de veículos segurados.

O ano de 2024 sinaliza uma mudança porque, com a quebra nas cadeias produtivas ocasionada pela pandemia da covid-19, os preços dos automóveis subiram — fator que impulsionou os prêmios do ramo auto. No entanto, o número de itens segurados não evoluiu na mesma proporção. Situação que agora pode mudar.

As corretoras de seguros que atuam no segmento de automóveis consideram que as projeções realizadas pela Superintendência de Seguros Privados (Susep) apontam para um cenário muito favorável em 2024. “Após o mercado ter alcançado um crescimento de 9,2% em 2023, resultando em mais de R$ 55 bilhões de prêmios emitidos, a perspectiva para este ano é de otimismo”, diz Fabricio Muniz Palma, diretor de automóvel da Aon Brasil. Essa confiança se relaciona principalmente, segundo ele, à expectativa do crescimento do número de emplacamentos de veículos, que deve ser da ordem de 13,5% neste ano, conforme dados da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave). “Isso vai representar um crescimento orgânico dos prêmios emitidos relacionados ao mercado de automóvel”, afirma.

A projeção da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg) para 2024, a ser confirmada, aponta para um ano mais positivo do que o anterior, ao estimar um crescimento de 11% nas vendas de seguros auto neste ano. “A previsão da entidade deixa evidente o potencial de expansão de negócios, tanto para as companhias atuando no setor, quanto para os corretores, principais elos entre as empresas e os consumidores e canais comerciais indispensáveis para o mercado”, destaca Rafael Ramalho, vice-presidente de produtos auto do grupo HDI, um dos principais players desse setor. “O nicho de automóveis nos traz diversas oportunidades de expansão de participação de mercado, justamente porque eles têm essa entrada no cotidiano das pessoas, além de ser um ótimo primeiro seguro a ser contratado”, diz.

David Beatham, diretor-executivo de automóveis e massificados da Allianz Seguros, explica que a perspectiva de crescimento para 2024 está muito mais relacionada com o aumento de itens do que com o crescimento do prêmio médio do seguro de automóvel. “Isso acontece muito em função do ajuste da Tabela Fipe, que nos anos de 2022 e 2023 disparou devido à falta de peças no mercado automotivo para a produção de veículos novos.”

Segundo Beatham, para alavancar em prêmio total, o setor, de modo geral, terá que diversificar a sua carteira dentro do próprio seguro auto, investindo nos produtos “frotas”, “motos” e, especialmente, em “caminhões e pesados”, que possuem um tíquete mais alto em relação ao seguro voltado para veículos leves (carros de passeio). “Além de seguir, claro, angariando novas apólices para crescer em número de itens segurados e, assim, disseminar a cultura do seguro entre os brasileiros”, diz.

Motta, da Globus: personalização, flexibilidade e serviços integrados para ganhar mercado — Foto: Divulgação
Motta, da Globus: personalização, flexibilidade e serviços integrados para ganhar mercado — Foto: Divulgação

Outra tendência de mercado que deve ser muito explorada em 2024, de acordo com o diretor da Allianz, é a consolidação dos carros elétricos e híbridos, que bateram recorde de vendas no Brasil em 2023. No período, foram registrados 93,9 mil emplacamentos de eletrificados leves, alta de 91% ante 2022, segundo a Associação Brasileira de Veículo Elétrico (ABVE). “Embora a participação desses veículos ainda seja pequena no país (representaram aproximadamente 1% do total de vendas de carros no Brasil em 2023), há uma tendência de que a presença deles cresça fortemente nos próximos anos”, afirma. A consultoria McKinsey, por exemplo, projeta que o segmento irá crescer seis vezes de tamanho até 2030. “Estamos aproveitando a experiência da Allianz lá fora para nos fortalecer no Brasil”, diz Beatham.

Em 2024, a situação deve ser melhor também em relação ao seguro dos automóveis seminovos, avalia Ramalho, da HDI. Segundo ele, os carros usados sempre foram uma alternativa para muitos consumidores que não têm o capital para adquirir um veículo zero-quilômetro.

Essa é uma realidade que não foi diferente em 2023 — a venda de automóveis seminovos cresceu 8,6% no Brasil no período, de acordo com a Federação Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto). Cerca de 14,4 milhões de unidades foram comercializadas no país no ano passado, uma média de 57.794 por dia útil, ante os 13,2 milhões em 2022. “Temos perspectiva positiva, pois o cenário de crescimento é sempre favorável para toda a cadeia que permeia a proteção de automóvel”, acredita Ramalho.

Uma das maiores seguradoras do país, a Porto confia que o segmento de autos deve seguir em constante evolução ao longo de 2024, indica Rivaldo Leite, CEO da companhia. As iniciativas para ampliar ofertas de produtos com cobertura mais segmentada e, ao mesmo tempo, aprimorar a experiência do cliente com benefícios exclusivos resultaram no crescimento do setor em 2023, afirma. “Os prêmios emitidos totais do auto cresceram 2,7% no quarto trimestre de 2023, através de uma expansão de 2,3% na marca Porto Seguro e de 3,6% na marca Azul, em relação a 2022”, conta.

Segundo Leite, a evolução observada no período foi decorrente, principalmente, da estratégia de aceleração das vendas em determinadas praças, o que contribuiu para o incremento de 245 mil veículos na frota segurada — ou seja, mais 4,3% em relação ao quarto trimestre de 2022. “No último trimestre, fechamos com uma frota de 5,9 milhões de veículos. No ano, o aumento dos prêmios do auto foi de 10,7%”, destaca.

As Medidas Provisórias n°s 1.175/23 e 1.178/23 – que deram descontos para a compra de veículos sustentáveis – também tiveram um impacto positivo no setor de automóveis, impulsionando as vendas, reduzindo preços e aumentando a produção, segundo relatam as seguradoras. Para o CEO da Porto, no entanto, o impacto no longo prazo depende de outros fatores, como a melhora do crédito e a redução da taxa de juros.

A seguradora acompanha, igualmente, a queda da sinistralidade – que passou de 69,6%, em 2022, para 58,0%, em 2023. “No último balanço da Porto, com resultados referentes ao quarto trimestre de 2023, a vertical de seguros contou com a redução de 5,6% da sinistralidade de automóveis em relação a 2022, fruto do aperfeiçoamento nos modelos de subscrição, aumento no controle de sinistros, ajustes nas tarifas e evolução mais favorável no preço dos carros “especialmente pela redução no valor de tabela Fipe”, diz. “Para o ano de 2024, a ideia é que a evolução desse índice siga favorável”, assinala Leite.

Leite, da Porto: frota de 5,9 milhões de veículos segurados — Foto: Fernando Martinho/Valor
Leite, da Porto: frota de 5,9 milhões de veículos segurados — Foto: Fernando Martinho/Valor

O movimento de ajuste no mercado de seguros de automóveis se dá também com uma intensa competição caracterizada pela ampla variedade de serviços, adoção de tecnologias inovadoras, personalização e segmentação, priorização da experiência do cliente e adesão às regulamentações (como o open insurance, ecossistema de compartilhamento de dados do setor de seguros).

Segundo Rogério Lemes, diretor de varejo da MDS, grupo multinacional de corretagem de seguro e resseguro, para manter a rentabilidade e impulsionar a taxa de crescimento ao longo deste ano, é fundamental ainda adotar estratégias voltadas para o aumento da frota segurada e para a diversificação dos produtos oferecidos. “A criação de novos produtos simplificados, com coberturas e serviços customizados, desempenha um papel crucial para atrair novos clientes. É necessário focar tanto na expansão da base de clientes quanto na eficiência operacional, garantindo assim uma posição competitiva no mercado de seguros”, considera.

Nesse ambiente de mais dinamismo, novos participantes estão intensificando a oferta de serviços complementares aos seguros de auto para concorrerem com os grandes operadores. É o caso da AXA, que pertence a um dos maiores grupos seguradores globais, sediada na França e que no Brasil, desde o ano passado, atua no mercado de seguro automóvel com produto exclusivo para frotas. “A solução corporativa da AXA é uma opção personalizável e flexível para veículos comerciais de empresas, proprietários de empreendimentos, sócios e dependentes diretos”, informa Clóvis Gomes da Silva, diretor de produtos massificados, automóvel e frota da filial brasileira. Segundo Silva, trata-se de um produto pioneiro na cobertura de danos elétricos para veículos elétricos plug-in, incluindo a cobertura para cabos e carregadores, caso o sinistro aconteça no momento de carregamento do automóvel.

Para Bruno Motta, head de personal line da Globus Corretora de Seguros, que surgiu em 2016 de um spin-off da XP Seguros, os grandes operadores estão sendo desafiados a inovar e adaptar suas práticas, enquanto os novos participantes têm uma oportunidade significativa de capturar mercado ao atender às demandas por maior personalização, flexibilidade e serviços integrados. “No longo prazo, essa competição deve beneficiar os consumidores, oferecendo mais opções e potencialmente melhorando os padrões de serviço e eficiência em toda a indústria”, diz Motta.

Saint’Clair Lima, diretor da Bradesco Seguros, concorda: “A entrada de novos concorrentes oferecendo serviços adicionais impulsiona a diversificação das opções disponíveis”, diz ele. “A inovação tecnológica desempenha um papel fundamental, com investimentos em análise de dados e automação visando aprimorar tanto a precificação quanto a experiência do cliente”, comenta. Trata-se de uma estratégia em ascensão, destaca. “A centralização na experiência do cliente torna-se cada vez mais relevante, com simplificação de processos e melhoria do atendimento. As companhias estão em uma busca contínua por diferenciação e excelência, com uma crescente ênfase na satisfação do cliente e na adaptação às mudanças do mercado”, afirma.

No caso da Bradesco Seguros, que conta com mais de 1,6 milhão de veículos segurados e mais de 1,4 milhão de apólices de ramos elementares, são várias as frentes de investimento para atuar nesse ambiente mais competitivo. “Estamos investindo na utilização de análise de dados avançada para aprimorar a precificação e gestão de riscos, em inteligência artificial para melhorar a eficiência operacional e a experiência do cliente, além do desenvolvimento de produtos personalizados e expansão de novos mercados”, conta Lima.

A crescente presença de novos concorrentes no mercado, sobretudo no ambiente digital, tem estimulado uma intensa busca por inovação tecnológica no setor. Vários competidores tradicionais estão mesclando sua experiência sólida com a adaptação digital, considerada essencial para atender às expectativas do consumidor moderno. Por meio de um amplo portfólio, muitas seguradoras procuram oferecer diferentes produtos aos mais variados perfis de clientes.

O grupo Allianz, por exemplo, passou a disponibilizar, para os produtos automóvel, moto e caminhão, a cobertura exclusiva de responsabilidade civil facultativa. É considerada uma importante ferramenta para preservar o patrimônio do segurado, uma vez que o resguarda financeiramente em caso de danos a terceiros, salienta Beatham. Outra inovação da Allianz, segundo o executivo, é o Sinistro Digital Auto, uma plataforma 100% digital que simplifica o aviso, acompanhamento e pagamento de sinistros de automóveis, que podem ser feitos pelo aplicativo, site ou carteirinha digital dos segurados.

Mas, além dos investimentos em novas tecnologias, como inteligência artificial, é necessário que as seguradoras e corretoras busquem entender as novas necessidades de proteção de veículos – como é o caso do crescimento de veículos híbridos e elétricos, defende Michel Tanam, gerente comercial da Minuto Seguros. “Isso acaba tendo um efeito positivo para as competidoras do ramo, que precisam se manter atualizadas e, também, para o consumidor final, que terá mais variedade de opções e poderá escolher a que melhor atende suas necessidades”, afirma.

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