![Bianca Andrade: Plano é realizar o IPO da Boca Rosa Beauty para viabilizar a internacionalização dos negócios — Foto: Gabriel Reis/Valor](https://cdn.statically.io/img/s2-valor.glbimg.com/zoi_27zHQNJy3Gc1Fw0LbAL4NFI=/0x0:1153x1120/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_63b422c2caee4269b8b34177e8876b93/internal_photos/bs/2024/t/D/7Ab26NSACqrMFjq4a4Yw/11emp-100-boca-b4-img01.jpg)
A influenciadora digital Bianca Andrade, que ficou conhecida com vídeos de tutoriais de maquiagem e foi participante convidada do reality “Big Brother Brasil 2020”, quer consolidar sua imagem como empresária. Ela acaba de lançar a marca própria de beleza Boca Rosa Beauty, uma ramificação de atividades da holding Boca Rosa Company, responsável por administrar sua carreira.
Para a nova empreitada, Boca Rosa, como é conhecida, se cercou de figuras do mercado como Tayana Dantas, ex-diretora de marca e marketing de produtos da G4 Educação. Bianca Andrade afirma que a liberdade de gestão é uma das motivações para criar a própria marca, após uma parceria de seis anos, e milionária, com a fabricante Payot.
Embora exalte o caráter de startup da Boca Rosa Beauty, a influenciadora tem planos mais ambiciosos, como abrir o capital da companhia a médio prazo, como forma de viabilizar uma expansão internacional das atividades. “A gente pode não ter mais tanta agilidade, mas ganhamos em tecnologia e oferecendo o melhor para a consumidora”, afirma.
Os investimentos iniciais, direcionados ao desenvolvimento das fórmulas e a tiragem inicial de 800 mil itens, somaram R$ 30 milhões em recursos próprios. A expectativa é que o faturamento da Boca Rosa Beauty entre junho e dezembro deste ano alcance R$ 120 milhões, cerca de 30% acima da receita semestral da antiga linha de maquiagem de Bianca em parceria com a Payot.
A influencer anunciou aos seguidores no fim do ano passado que não renovaria o contrato de licenciamento, vigente desde 2018. Em janeiro, ela publicou um vídeo anunciando a data de lançamento da marca própria, em uma postagem compartilhada em seu perfil pessoal no Instagram e uma conta recém-criada para a Boca Rosa Beauty. Até o fechamento desta reportagem, a empresa contava com 1,8 milhão de seguidores, enquanto o perfil de Bianca somava mais de 20 milhões de seguidores.
A pré-venda será realizada em 25 de junho, com uma transmissão ao vivo no Instagram, e a partir do dia 26 os produtos estarão disponíveis em redes de farmácias e varejistas de moda.
De acordo com Bianca Andrade, todo o estoque direcionado às operações B2B para os meses de junho e julho já foi vendido, avaliado em R$ 15 milhões. A expectativa é de que as vendas em varejistas parceiros representem 70% do faturamento da Boca Rosa Beauty. Os 30% restantes devem vir de uma plataforma de e-commerce própria, outra empreitada inédita da influenciadora, que pretende utilizar as vendas diretas ao consumidor para coletar dados e antecipar tendências de mercado.
Uma das previsões é, unindo dados de pesquisa populacional e das vendas no site, nortear a produção da cartela de bases para a pele da população brasileira.
Antecipar tendências é um dos principais mantras de Bianca ao mencionar o papel das influenciadoras na indústria de beleza. Ela afirma que as grandes companhias nacionais do setor, como O Boticário e Natura, foram criadas e são presididas por homens, enquanto o público consumidor é majoritariamente feminino.
Apesar da história das influenciadoras digitais no Brasil ser marcada pelas blogueiras que faziam resenhas de produtos e tutoriais de maquiagem na década de 2010, como a própria Boca Rosa, a agora empresária aponta que grande parte do público ainda não domina as técnicas e precisa de produtos mais práticos.
A diretora de operações (COO) da Boca Rosa Beauty, Taynara Dantas, compara a descentralização da indústria de beleza brasileira com a ampliação de oferta de vagas no setor de educação. “Antes tínhamos poucas escolas de graduação e pós-graduação e isso foi aumentando, em uma democratização do mercado da educação. Em beleza também temos isso, com pessoas que construíram audiência e estão construindo suas próprias marcas”, afirma.
A braço-direito de Bianca Andrade foi diretora de marca e marketing de produtos da G4 Educação, além de atriz e fundadora do Movimento Vila Nova, projeto social de Vila Velha (ES). A tentativa de aproximação do mercado também se evidencia pelo desejo de realizar a abertura de capital da empresa. Segundo as executivas, o IPO (sigla em inglês para oferta inicial de ações) seria uma ferramenta para viabilizar a expansão internacional e venda dos produtos em outros países. A estratégia deve se concretizar em 2030, segundo estimativas da dupla, mas Bianca ressalta que o planejamento da empresa é revisto ano a ano e que os planos podem mudar.
Apesar de exaltar a liberdade de gestão da empresa por não ter sócios investidores, um dos motivos que levou ao fim da parceria com a Payot, a CEO da companhia afirma que a diluição do controle a médio prazo vai permitir o crescimento da Boca Rosa Beauty. “As marcas têm fases. A gente está nascendo agora, mas seria um egoísmo da minha parte não deixar essa marca ir para o mundo e ter o tamanho que ela vai ter”, afirma Bianca Andrade.
A empresária destaca ainda que, nos últimos anos, várias blogueiras lançaram linhas de maquiagem em parceria com a indústria nacional, como Bruna Tavares e Mariana Saad, enquanto uma parte das influenciadoras apostou em empresas próprias. É o caso de Julia Petit, que criou em 2019 a marca de cuidados para a pele Sallve. A companhia também relançou em 2022 a Contém 1g, após comprar a massa falida das operações de maquiagem encerradas em 2018. Outra influenciadora que investiu em sua marca proprietária foi Virgínia Fonseca, proprietária da We Pink.
A aposta de Bianca Andrade, segundo especialistas de mercado, mira em uma área com grande potencial de crescimento no Brasil nos próximos anos. O analista Daniel Morimoto, da consultoria Circana, lembra o sucesso internacional de linhas de cosméticos assinadas por celebridades, como a Fenty Beauty da cantora Rihanna e a Kylie Cosmetics da influenciadora Kylie Jenner.
Na avaliação de Morimoto, esse mercado tem potencial de crescimento especialmente grande no país porque a população brasileira possui uma das maiores médias diárias de uso de telas no mundo. Parte do uso massivo, segundo ele, ocorre graças ao grande número de influenciadores digitais e ao poder de impacto que eles possuem. “Nós temos um mercado nacional bem desenvolvido para influencers, muitas aproveitaram e souberam capitalizar abrindo marcas, como a Bruna Tavares, que inclusive deixou de vender só on-line e tem uma loja na Rua Oscar Freire [corredor de luxo da capital paulista]. É uma particularidade importante do Brasil”, analisa.