Folha de S. Paulo


Em Paris, artistas feministas discutem espa�o dom�stico e homens-ca�adores

M�rcia Bechara/RFI
As artistas Sophie Calle (esq.) e Serena Carone na exposi��o no Museu da Ca�a e da Natureza de Paris

Na mesma semana da morte de Linda Nochlin, historiadora de arte norte-americana cuja pluma feminista chacoalhou os paradigmas da disciplina na d�cada de 1970, ocorreu a abertura de "Women House", que fica em cartaz at� 28/1 na Monnaie de Paris.

A exposi��o examina as representa��es visuais do espa�o dom�stico —e seu peso sociol�gico— sob o ponto de vista de 40 pintoras, fot�grafas, escultoras e performers da d�cada de 1930 at� a atualidade.

A curadora Camille Morineau come�ou a pensar sobre o tema quando organizou "elles@centrepompidou", mostra de 2009 focada no trabalho de artistas do sexo feminino do acervo do ic�nico museu parisiense. A exposi��o chegou a passar pelo Brasil em 2013.

Desde aquele projeto, um ponto em comum entre as obras de Niki de Saint Phalle e Louise Bourgeois n�o lhe saiu da cabe�a: o conceito de "mulher-casa", agora explorado a fundo na nova exposi��o.

Por s�culos, o g�nero feminino viu sua identidade atrelada � domesticidade, confundindo-se com o ambiente e a arquitetura do lar. Essa fus�o, explorada em diferentes tons, � o tema que preenche as salas do pr�dio parisiense.

Em "Kooi", v�deo de performance realizada em 1978, Lydia Schouten se movimenta impacientemente dentro de uma jaula pigmentada que vai sujando sua roupa branca —uma refer�ncia � ditadura da maquiagem. Francesca Woodman, em fotos feitas de 1976 a 78, posa para suas pr�prias lentes como se tentasse integrar seu corpo nu aos elementos de um c�modo.

Ainda que interessante, a exposi��o privilegia obras focadas nos estere�tipos da dona de casa de classe m�dia e branca. Assim, � bem-vindo o olhar da fot�grafa Zanele Muholi, que leva a conversa para outra dire��o: a sul-africana retrata a dura realidade das mulheres da comunidade LGBT do seu pa�s, que acabam enxergando as quatro paredes de casa como um porto seguro.

Outra exce��o � "Tarefa I" (1982), v�deo de Let�cia Parente no qual uma empregada dom�stica negra aparece passando sua patroa branca com ferro. Exibido pr�ximo a um desenho de Birgit J�rgenssen, de 1975, em que uma mulher faz a mesma tarefa num homem, o trabalho da brasileira deixa claro que o buraco � sempre mais embaixo.

A CA�A

No segundo andar do Museu da Ca�a e da Natureza, Sophie Calle mostra at� 11/2 sua vers�o de um ca�ador. Numa s�rie in�dita, a artista compilou trechos de an�ncios assinados por homens em busca de uma parceira para se acasalar. Cada moldura de "Chasseur Fran�ais" (ca�ador franc�s) re�ne as caracter�sticas mais procuradas em mulheres num certo per�odo da hist�ria.

Se no final do s�culo 19 possuir um dote era imprescind�vel para as candidatas, que tamb�m deveriam ser virgens e ter gostos simples, nas d�cadas de 1980 e 90 as peitudas de quadril largo estavam com tudo.

Na era Tinder, a proximidade geogr�fica � condi��o sine qua non. A personalidade d�cil, no entanto, � sempre a mais procurada, n�o importa a �poca.

Famosa por sua obra exc�ntrica e altamente autobiogr�fica, como demonstram os porta-retratos recheados de hist�rias pessoais espalhados pelo museu, Calle alterna o papel de ca�adora e de presa.

Em "Suite V�nitienne" (su�te veneziana), de 1980, ela decidiu seguir um homem qualquer na rua, chegando a ir at� Veneza atr�s da cobaia. Na mesma �poca, contratou um detetive para segui-la � paisana e fotograf�-la, em imagens que depois viraram uma s�rie assinada pela artista.

BARBARA E DEPARDIEU

No anivers�rio de 20 anos da morte de Barbara, uma das cantoras mais celebradas da Fran�a, chovem homenagens nas livrarias, cinemas e casas de show.

O tributo que vem fazendo mais sucesso � o disco "Depardieu Chante Barbara", no qual o ator franc�s declama textos e cantarola "Ma Plus Belle Histoire d'Amour", "Dis, Quand Reviendras-Tu" e outros hinos que embalaram gera��es na segunda metade do s�culo passado.

Acompanhado de G�rard Daguerre, pianista favorito de Barbara, Depardieu levou o �lbum aos palcos em shows que v�m lotando teatros desde o in�cio do ano —at� 17/11 a dupla se apresenta no Cirque d'Hiver.

Um dos amigos mais pr�ximos da diva, Depardieu se entrega em uma interpreta��o visceral e �ntima. O p�blico at� esquece por uma hora o imbr�glio envolvendo o artista, que recebeu cidadania russa de Putin para fugir dos salgados impostos da Fran�a.

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ISABEL JUNQUEIRA, 33, � jornalista.


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