A velhice de hoje n�o � mais o que era antigamente.
Dem�grafos deixaram de contar s� os anos desde o nascimento, antrop�logos veem uma reinven��o da velhice, valores que valiam antes hoje n�o t�m mais valor, e pergunte aos brasileiros com que idade ficamos velhos: as respostas v�o de 14 a 130 anos.
Na m�dia, segundo a popula��o, a velhice come�a aos 64. Com tamanha amplitude de n�meros, conv�m tamb�m olhar o que aparece no meio (mediana), que � 60.
A cada 10 pessoas, por�m, 1 delas n�o sabe dizer quando � que envelhecemos.
"Existe uma 'descronologiza��o' da idade", observa a professora de antropologia da Unicamp Guita Grin Debert. A fatia acima dos 60 anos abriga "grande diversidade econ�mica, sociocultural e, principalmente, de autonomia, que tem a ver com capacidade e n�o com idade".
O pr�prio significado da faixa et�ria precisa ser ajustada a cada �poca, defende uma corrente de dem�grafos voltada � formula��o de pol�ticas p�blicas.
Nos c�lculos de Sergei Scherbov, diretor de demografia do Iiasa (International Institute for Applied Systems Analysis) e um dos principais especialistas mundiais em medida de popula��es, os 60 podem ser os novos 50.
Em vez de contar o n�mero de anos j� vividos, Scherbov olha para quantos anos de vida ainda falta viver.
Para um australiano de 62 nos anos 2000, seriam mais 19 anos e meio. Em 1950, para ter a mesma sobrevida, teria que ser oito anos mais novo. "Tratar do envelhecimento com base apenas na idade cronol�gica � incompleto e inadequado", diz Scherbov.
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VELHOS JOVENS
O que os dem�grafos est�o fazendo � dar novo significado ao fato de que, na maioria dos pa�ses, h� cada vez mais gente vivendo cada vez mais.
No Brasil do ano 2000, por exemplo, havia 9,7 milh�es de brasileiros com 65 anos ou mais, e eles eram menos de 6% da popula��o. O n�mero dobrou para 17,6 milh�es em 2017, e a fatia superou 8%.
Em 2030, 30 milh�es de brasileiros (ou 13% do total) estar�o acima dos 65 anos, na estimativa do IBGE.
Sinal de que o pa�s est� cada vez mais velho? Para quem conta anos j� vividos, sim.
Mas, para quem olha a vida que resta, a juventude e a maturidade se alongam, e haver� mais gente ainda ativa.
Na m�dia, os brasileiros j� se consideram jovens at� os 37 anos, mas essa faixa fica cada vez mais el�stica e chega aos 47 nas respostas das mulheres com mais de 60.
Entre idosos escolarizados, a r�gua sobe para 51 anos, e 19% dizem que s� se perde a juventude ap�s os 60 anos.
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OTIMISMO FEMININO
� uma nova perspectiva que j� se confirma na pr�tica, diz Guita Debert. "H� algumas d�cadas, a mulher de 40 anos era considerada velha
e vivia como velha. Hoje desfruta a vida."
Na pesquisa Datafolha, idosas afirmam que a velhice s� come�a ap�s os 69 anos.
N�o � � toa que os estudos mostram os idosos com n�veis de felicidade semelhantes aos de jovens de 20 anos.
"Eles usufruem da liberdade individual e t�m a vantagem sobre os mais jovens de perceber que n�o s�o escravos da opini�o alheia", diz o fil�sofo e colunista da Folha Luiz Felipe Pond�.
A pesquisa Datafolha mostra que, de fato, os maiores de 60 anos est�o satisfeitos com sua idade e apar�ncia.
Com a mudan�a de comportamento, o idoso se transformou em alvo para produtos, servi�os e ideias.
"Mas para os que n�o s�o consumidores e est�o fora da cadeia produtiva e narrativa, a situa��o hoje � pior do que antes", ressalva Pond�.
Guita chama a aten��o para o fato de que as pol�ticas atendem aos "idosos jovens": gin�stica, dan�a, atividades variadas, praia. "Mas h� uma precariedade muito grande para quem perdeu a autonomia. N�o h� solu��es p�blicas de hospedagem e acolhimento para 'idosos velhos'".
