• Beatriz Bourroul (@biabourroul)
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Robson Nunes  (Foto: Divulgação/ Tv Globo e Pedro Dimitrow)

Robson Nunes caracterizado como Sebastião no espetáculo A Pequena Sereia (Foto: Divulgação/ Tv Globo e Pedro Dimitrow)

Robson Nunes completará 40 anos de idade em agosto e assumiu um novo desafio na carreira. O ator está em cartaz com o musical A Pequena Sereia, no Teatro Santander, em São Paulo. Interpretando Sebastião -- vivido por Tiago Abravanel na temporada anterior, em 2018 --, o ator conta que ficou surpreso com o convite para o espetáculo e celebra a representatividade negra no elenco.

"Antes, a produção em que eu me via era em O Rei Leão, por se passar na África. A gente ficava restrito a certas obras. Falta muito, ainda, mas é um pequeno passo para uma mudança. Acho que a criança ou o adolescente que pretende ser ator, que está se encantando com o mundo dos musicais, pode se imaginar, sim, como um protagonista, como um príncipe, como um vilão, como o que ele bem entender, e é assim que tem que ser", afirma.

Casado com a atriz Micheli Machado, com quem tem uma filha, Morena, 11, Robson fala que o empoderamento faz parte da educação a filha, que já foi alvo de preconceito. "Ela já foi vítima, sim, de racismo velado, de racismo escancarado. Dói muito mais quando é na nossa filha", diz o ator, que atualmente tambéem faz parte do time de jurados do Caldeirola, quadro do Caldeirão com Mion.

Quem: Como surgiu a chance de participar do musical A Pequena Sereia?
Robson Nunes:
Fui convidado. Fiquei surpreso e muito feliz. Depois que aceitei, tive que mandar a audição porque eles tinham que me ver cantando, principalmente a Lynne, que é a diretora, que ainda estava nos Estados Unidos no processo de escolha do casting. Para a minha surpresa, eu fui aprovado. Fiquei bem feliz e preocupado, justamente porque sei o quanto o musical exige do ator. Já fiz outros projetos musicais, mas quase por diversão, então eu cantava um dia e no outro já estava sem voz, porque tinha me esgoelado. Aqui, tive que estudar, me preparei com uma das melhores que é a Amélia Gumes, para aprender a usar o aparelho vocal, para aguentar sete sessões na semana.

Robson Nunes nos agradecimentos da musical A Pequena Sereia (Foto:  Patrícia Devoraes/ Brazil News)

Robson Nunes nos agradecimentos da musical A Pequena Sereia (Foto: Patrícia Devoraes/ Brazil News)

Você chegou a assistir à montagem anterior, com o Tiago Abravanel como Sebastião? Conversou com ele sobre o espetáculo?
Conversei muito com o Tiago. A gente se encontrou na última etapa dos ensaios, troquei ideias. Infelizmente, não cheguei a assistir a primeira montagem em 2018. Só vi os vídeos dele cantando, até pra saber onde eu tava entrando, qual o tom do espetáculo.

Como tem sido sua preparação para o espetáculo? Intensificou a rotina de atividades físicas?
Sim (risos). Até involuntariamente, porque só o aquecimento é absurdo. A gente está com
profissionais que são bailarinos, cantores e atores, então a galera é muito bem preparada.
Eu caí de paraquedas, e costumo dizer que se deixasse uma câmera me filmando tentando
acompanhar os movimentos na hora do aquecimento já dava uma websérie de humor.

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Sua escalação trazrepresentatividade ao espetáculo. Quando era criança ou mesmo já com a carreira iniciada, imaginava-se atuando em um clássico da Disney?
Hoje, A Pequena Sereia tem um impacto muito grande, até por trazer o Gabriel (Vicente) como príncipe, me trazer também como Sebastião. Antes, a produção em que eu me via era no Rei Leão, por se passar na África. A gente ficava restrito a certas obras. Falta muito, ainda, mas é um pequeno passo para uma mudança. Acho que a criança ou o adolescente que pretende ser ator, que está se encantando com o mundo dos musicais, pode se imaginar, sim, como um protagonista, como um príncipe, como um vilão, como o que ele bem entender, e é assim que tem que ser.

Acredita que a geração da Morena, sua filha, tem outros valores?
A gente trabalha muito a autoestima da Morena, que foi muito minada na minha infância e
também na da Michelle. É essencial que ela tenha noção das origens dela, que tenha orgulho da cor dela, do cabelo dela.

Robson Nunes e Micheli Machado com a filha, Morena (Foto: Reprodução/Instagram)

Robson Nunes e Micheli Machado com a filha, Morena (Foto: Reprodução/Instagram)

Ela já foi alvo de racismo?
Ela já foi vítima, sim, de racismo velado, de racismo escancarado. Dói muito mais quando é
na nossa filha, mas eu já vejo que ela tem uma outra concepção, uma outra preparação para encarar esse mal que acho que ainda vai perdurar durante um bom tempo.

Você já realizou trabalhos para o público infantojuvenil, como o Zapping Zone, e participa do Caldeirola, quadro que também tem um apelo entre públicos de diferentes idades. Estar no palco em um espetáculo como A Pequena Sereia tem um sabor especial?
Tem um sabor absurdamente especial e incrível porque é uma produção de encher os
olhos. Durante os ensaios, eu ficava na plateia e até esquecia de entrar em cena, inclusive
recebi bronca por isso (risos), porque é muito encantador, é muito grandioso e é uma honra pisar naquele palco, com toda aquela galera absurda. Falo não só dos atores, como também da equipe técnica, de toda a produção, do nosso maestro, os músicos. É muito, muito especial estar fazendo parte desse projeto. Eu estou muito feliz e honrado. O Sebastião é um personagem tão carismático e que está no imaginário de tanta gente, inclusive no meu. É muito legal estar fazendo esse personagem.

Robson Nunes é jurado do Caldeirola, quadro do Caldeirão com Mion (Foto: TV Globo)

Robson Nunes é jurado do Caldeirola, quadro do Caldeirão com Mion (Foto: TV Globo)

A pandemia atingiu a classe artística duramente. Como lidou com o período de incertezas?
Eu, por sorte, não posso reclamar. Eu consegui trabalhar remotamente, eu tinha acabado
de entrar em um projeto, que foi a última temporada do Zorra. A gente ficou um tempo na
incerteza, sem gravar, mas depois a gente começou a fazer remotamente. A Michelle, minha esposa, que é atriz, também entrou. Então, os roteiristas se adaptaram e criaram esquetes pra gente fazer junto. Eu aprendi muito porque todo o posicionamento de câmera era a gente que tinha que fazer. Não tenho do que reclamar porque consegui continuar trabalhando. Eu fiquei preocupado com os colegas. Muita gente teve que se reinventar. Foi muito cruel, foi um período muito delicado para a classe artística, que foi a primeira a parar e a última a voltar, mas aos poucos o mercado foi se restabelecendo, se aquecendo e o pessoal está voltando a trabalhar.

A carreira artística é marcada por altos e baixos. Você sempre se manteve resiliente e confiante na profissão? Ou cogitou algum plano B?
O plano B, na verdade, está desde o início. Eu me formei em mecânica geral e técnica eletrônica. Mecânica geral, no Senai, cheguei até a estagiar. Quando entrei na Malhação, eu era o único negro jovem. Era uma época em que você tinha que ter um plano B para sobreviver. Nesse tempo de carreira eu tive um bar com a minha esposa, que era um Comedy Club, também relacionado à cultura, mas era um negócio também. A gente ficou 12 anos à frente de um bar. Já investimos em uma loja de sucos… Mas acredito que pela versatilidade e por estar sempre procurando algo dentro da carreira de ator, sou muito abençoado por conseguir sobreviver da minha arte.

Você comentou que era o único negro em sua temporada de Malhação. Como enxerga o mercado atual para artistas negros?
Longe de estar no ideal, mas hoje já se fala muito em representatividade. Já há uma
preocupação -- as produções e empresas começaram a entender que precisam ter a gente,
até porque a gente é um público consumidor em potencial, mais de 50% do país. Só que quando eu comecei, lá atrás, meu primeiro trabalho profissional foi no ano de 1997, a gente era acostumado a ver um negro por produção.

Robson Nunes e Priscila Fantin interpretaram Sávio e Tati em Malhação (Globo, 1999) (Foto: Divulgação/Canal Viva)

Robson Nunes e Priscila Fantin interpretaram Sávio e Tati em Malhação (Globo, 1999) (Foto: Divulgação/Canal Viva)

Robson Nunes e Micheli Machado com a filha, Morena (Foto: Reprodução/Instagram)

Robson Nunes e Micheli Machado com a filha, Morena (Foto: Reprodução/Instagram)

Robson Nunes caracterizado como Sebastião no espetáculo A Pequena Sereia (Foto: Pedro Dimitrow)

Robson Nunes caracterizado como Sebastião no espetáculo A Pequena Sereia (Foto: Pedro Dimitrow)