• Beatriz Bourroul (@biabourroul)
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Micheli Machado iniciou a carreira na pré-adolescência e se destacou com papel em Quanto mais vida, melhor! (Foto: Jaime Leme)

Micheli Machado iniciou a carreira na pré-adolescência e se destacou com papel em Quanto mais vida, melhor! (Foto: Jaime Leme)

Micheli Machado, no ar como Jandira, na novela Quanto mais vida, melhor!, está em cartaz com filme Quatro amigas numa fria, lançado na quinta-feira (19). A atriz e comediante, de 41 anos de idade, interpreta uma das quatro protagonistas do longa-metragem, contracenando com Fernanda Paes Leme, Priscila Assum e Maria Flor.

No meio artístico desde pré-adolescente -- entre 1994 e 1999, ela integrou o time de angelicats, como eram chamadas as assistentes de palco da apresentadora Angélica --, Micheli guarda boas recordações do período. "Foi incrível trabalhar com a Angélica, foi uma época muito linda da minha vida, que eu guardo em um lugar muito especial do meu coração. Era muito nova quando entrei, tinha 12 para 13 anos. Fiz toda essa transição de criança para adolescente e adolescente para adulta, já que eu saí de lá com 18 e, depois, ainda voltei a trabalhar com ela com 22, no Vídeo Show."

Mirella Tronkos, Geovanna Tominaga, Micheli Machado e Juliana Silveira nos tempos de angelicats (Foto: Reprodução)

Mirella Tronkos, Geovanna Tominaga, Micheli Machado e Juliana Silveira nos tempos de angelicats (Foto: Reprodução)

Casada com o ator e humorista Robson Nunes, com quem tem uma filha, Morena, de 11 anos, Micheli afirma que o marido sempre deu apoio em suas novas frentes profissionais. "Ele sempre me incentivou a apostar no humor, quando comecei a produzir piadas para outros humoristas, o Robson me falou que eu tinha talento para o stand-up e me apoiou muito", afirma.

A atriz diz torcer para que a filha viva em uma sociedade menos racista. "A Morena é uma criança empoderada, ela chega na escola e fala sobre a história preta, quando tem a semana da cientista", conta. "Cresci ouvindo que eu era horrorosa, preta, pobre e, por isso, nunca ia conseguir nada. Claro que isso afetou diretamente a minha autoestima, cresci com a autoestima zerada", completa.

Quem: Quanto mais vida, melhor! está chegando à reta final. Que balanço faz deste trabalho?
Micheli Machado:
Lembro que vibrei quando recebi o convite para fazer o teste de Jandira e me sinto feliz e realizada por essa conquista, principalmente por dar vida a uma personagem tão solar e cativante, que não reproduz estereótipos e com uma história bacana para contar.

Você está no meio artístico desde a adolescência e esta é sua primeira novela. Atuar em novelas era um sonho?
Sempre quis ser atriz e poder ter a experiência de vivenciar tudo que a arte pode me proporcionar, incluindo estar numa novela. meu contato com as câmeras vem desde a infância, durante a minha carreira, já tive a oportunidade de atuar em diversos projetos humorísticos, longas-metragens, como o Zoando na TV, de José Alvarenga Júnior, e Falsa Loura, de Carlos Reichenbach, e inclusive, protagonizei o longa que acaba de estrear nos cinemas, Quatro Amigas numa Fria, do Roberto Santucci, junto com a Maria Flor, Fernanda Paes Leme e Priscila Assum. Então, me sinto extremamente realizada com essa conquista.

Fernanda Paes Leme, Maria Flor, Priscila Assum e Micheli Machado (Foto: Reprodução/Instagram)

Fernanda Paes Leme, Maria Flor, Priscila Assum e Micheli Machado (Foto: Reprodução/Instagram)

Como tem percebido a reação do público com a novela?
Estou amando acompanhar as reações do público, recebo muito carinho e elogios nas minhas redes sociais. Foi muito prazeroso poder dar vida a uma personagem como a Jandira, em um dos principais núcleos do folhetim, ter essa admiração dos telespectadores me deixa muito orgulhosa e satisfeita com meu trabalho.  Só tenho a agradecer.

O meio artístico é marcado por instabilidades. Já pensou em um plano B?
Concordo que o meio artístico sofre pela instabilidade, mas não me vejo fazendo outra coisa que não envolva arte. Amo o que faço, espero poder viver da arte sempre, seja no humor, atuando ou apresentando. Mas, claro, nossa classe artística está sempre se movimentando, buscando maneiras de conseguir seguir firme na profissão, até aqui não precisei de um plano B, mas estou sempre atrás, correndo e fazendo mais que atuar, faço roteiro, humor…

Você começou como angelicat na adolescência. Quais as recordações da época? Ainda tem contato com as outras angelicats?
Lembro com muito carinho de todos os momentos dessa época, são as melhores recordações. Era muita correria por causa dos shows e das gravações, inclusive tinha o desafio de conciliar os estudos, e, para não repetir por falta, estudava em dois períodos. Era um desafio que valia a pena e eu conseguia manter boas notas. Como comecei muito nova, tive a oportunidade de aprender muito sendo assistente da Angélica e isso me ajudou a perceber o quanto eu gostava de lidar com as câmeras. Guardo grandes recordações, fiz grandes amigas ali, Geovanna [Tominaga] e Juliana [Silveira] são minhas amigas até hoje, Geovanna foi minha madrinha de casamento, Juliana foi ao meu casamento, fazem parte da minha vida, a gente se encontra e dá risada, são pessoas que eu amo e que levo até hoje comigo. Encontro a Angélica, de vez em quando, nas festas. Temos amigas em comum e eu a adoro. É uma pessoa que eu tenho um grande carinho e um grande respeito até hoje.

Mariana Nogueira, Marcella Bordallo, Geovanna Tominanga, Angélica, Micheli Machado e Juliana Silveira (Foto: Reprodução/Instagram)

Mariana Nogueira, Marcella Bordallo, Geovanna Tominanga, Angélica, Micheli Machado e Juliana Silveira (Foto: Reprodução/Instagram)

Na época, como era a relação com a Angélica? E como era controlar as crianças nos programas de auditório?
Foi incrível trabalhar com a Angélica, foi uma época muito linda da minha vida, que eu guardo em um lugar muito especial do meu coração. Era muito nova quando entrei, tinha 12 para 13 anos. Fiz toda essa transição de criança para adolescente e adolescente para adulta, já que eu saí de lá com 18 e, depois, ainda voltei a trabalhar com ela com 22, no Vídeo Show. Controlar as crianças nos programas era um verdadeiro desafio, mas eu adorava (risos). Eu tinha apenas 12 anos quando comecei como angelicat, também era uma criança, me divertia enquanto fazia o meu trabalho.

Você trilhou um caminho no humor. Como descobriu sua veia cômica?
Aos 10 anos, antes de ser angelicat, integrei o elenco de A Praça É Nossa. Foi o meu primeiro contato com o humor e, de cara, gostei. Foi quando descobri que queria me tornar atriz. Anos depois, me casei com o Robson Nunes e me tornei dona do comedy club Beverly Hills, na zona sul de São Paulo. Comecei a escrever piadas para outros humoristas e percebi que levava jeito para a coisa e amava produzir as piadas. Um dia, Robson me perguntou: 'Quando você vai contar as piadas que escreve em vez de dá-las aos outros?'. Foi aí que entendi que podia, sim, fazer parte desse universo e mais que isso... E deu tão certo que fundei um show de humor só com mulheres, ocupando um espaço até então masculino.

Micheli Machado e Robson Nunes (Foto: Thyago Andrade/Brazil News)

Micheli Machado e Robson Nunes (Foto: Thyago Andrade/Brazil News)

O Robson, então, te incentivou para que apostasse no humor?
Ele sempre me incentivou a apostar no humor, quando comecei a produzir piadas para outros humoristas, o Robson me falou que eu tinha talento para o stand-up e me apoiou muito. Isso me deu coragem para fundar um show de humor só com mulheres, junto com a Carol Zoccoli, que também é humorista.

Por muito tempo, as mulheres negras eram objetificadas no humor. Como enxerga as mudanças na área?
Enxergo essa mudança como algo necessário. Como o humor era um espaço composto majoritariamente por homens, as mulheres já sofriam preconceitos por causa do machismo, sendo pior para as mulheres pretas, que sempre eram objetificadas e estereotipadas nas piadas. É muito satisfatório poder ver essa evolução, pois abre espaço para conhecer diversas mulheres incríveis e talentosas, que mandam muito bem como comediantes. Espero que esse espaço seja cada vez maior, para que mais mulheres pretas sejam descobertas e valorizadas pelo seu talento. E fico feliz de poder contribuir para que este espaço cresça cada vez mais.

Acredita que a sua filha, Morena, vai crescer em uma sociedade menos preconceituosa ou ainda acredita que ainda há muito a evoluir?
Sim, acredito que Morena vai crescer em uma sociedade bem menos preconceituosa, mas isso comparando com a época em que eu e Robson crescemos. Isso não significa que o preconceito tenha acabado, acredito que ainda há muito a evoluir, mas sinto que estamos caminhando para uma sociedade mais justa e com menos preconceito. E é lindo de ver que Morena já tem esses pilares fortes, ela já se considera feminista, já entende seus direitos e como se fortalecer para enfrentar preconceitos, fico muito orgulhosa.

Micheli Machado e Robson Nunes com a filha, Morena (Foto: Reprodução/Instagram)

Micheli Machado e Robson Nunes com a filha, Morena (Foto: Reprodução/Instagram)

Como você e o Robson a educam para crescer empoderada?
Acredito que parte desse caminho, para uma sociedade mais justa e com menos preconceito, se dá à nova geração. Por isso, sempre conversamos muito com a Morena sobre representatividade, incentivamos a seguir os seus sonhos, amar seu cabelo e sua cor de pele, independente do que os outros vão dizer ou achar. Mesmo com a pouca idade, ela já tem consciência que é muito amada e respeitada por seus pais, que seu cabelo é lindo e que ela pode ser o que ela quiser. Acho muito importante construirmos a autoestima dos nossos filhos, para que eles cresçam empoderados e não se deixem levar pelos preconceitos mais que ultrapassados da nossa sociedade. Hoje a Morena é uma criança empoderada, ela chega na escola e fala sobre a história preta, quando tem a semana da cientista, ela busca por referências de mulheres pretas, por exemplo, e isso me dá muito orgulho!

Como foi a sua educação neste sentido? Como lidava com episódios de preconceito na infância?
Como no Brasil sempre existiu um racismo velado, é inevitável que uma criança negra cresça sem passar por isso, mesmo que não perceba. Cresci ouvindo que eu era horrorosa, preta, pobre e por isso, nunca ia conseguir nada. Claro que isso afetou diretamente a minha autoestima, cresci com a autoestima zerada e só depois consegui perceber como o racismo nos afeta desde pequenos. Foi um processo para me aceitar, me empoderar e saber que poderia ser muito mais do que as pessoas me diziam que eu seria.

O setor das artes foi atingido durante a pandemia. Você tem novos planos profissionais para 2022?
É triste perceber como a arte foi atingida durante a pandemia, principalmente por ser um setor que leva entretenimento, alegria e leveza na vida das pessoas, ainda mais em tempos tão incertos como foi esse e que ainda estamos enfrentando. Para 2022, tenho planos profissionais como a segunda temporada da série Auto Posto, no Comedy Central, mas ainda não temos data definida. Espero poder compartilhar as datas confirmadas em breve, tem um longa que vou gravar em Orlando. Também estou na nova temporada de O Dono do Lar, do Multishow, e acabei de estrear no cinema com o longa Quatro Amigas Numa Fria, em que atuo como protagonista ao lado de Fê Paes Leme, Maria Flor e Pri Assum... Foi incrível trabalhar com elas. O longa está muito divertido, gravamos em Buenos Aires e espero que todos prestigiem no cinema para dar muita risada com a gente.

Micheli Machado tem 41 anos de idade e comenta ter vivido casos de racismo na infância (Foto: Jaime Leme)

Micheli Machado tem 41 anos de idade e comenta ter vivido casos de racismo na infância (Foto: Jaime Leme)