• Kellen Rodrigues
  • Do Rio de Janeiro
Atualizado em
Preta Gil conta sua trajetória como cantora  (Foto: Bléia Campos)

Preta Gil conta sua trajetória como cantora (Foto: Bléia Campos)

Preta Gil nasceu em uma família de artistas. Nem por isso sua trajetória foi fácil. Durante anos, ela foi sua própria inimiga - já que a insegurança a impedia de acreditar em seus grandes sonhos.

"Isso aconteceu na minha carreira artística. Deixei que o medo me paralisasse por dez anos na minha vida, até conseguir resgatar minha essência. Aos 28, comecei uma carreira tardia", conta ela. "Temos que ser mais generosas com nós mesmas, porque se deixar, o medo paralisa", aconselha.

Hoje sócia da Mynd, agência que tem mais de 400 artistas em seu casting - entre eles Luísa Sonza e Pabllo Vittar - Preta diz que vê muitos novos artistas sonhando com o estrelato imediato, com milhões de visualizações, sem uma construção gradativa de carreira. "Essa receita de bolo não existe", diz ela. "O mais importante é você entrar no seu show e ter seu público, mesmo que sejam 20 ou 30 pessoas, mas que estejam cantando sua música, que se identifiquem com você. Se você atingir seu público, vai crescer", recomenda.

Aprendizado que adquiriu na prática. "Quando lancei meus álbuns a minha insegurança era tanta que quando eu começava um show com minhas músicas autorais, se as pessoas não ficassem muita animadas eu já metia um Wando. É a síndrome do 'tira o pé no chão'", brincou.

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Aprendi após ser vaiada

Em bate-papo com a redatora-chefe de Marie Claire, Roberta Malta, Preta também falou sobre racismo. Contou que, certa vez, foi vaiada por mulheres negras ao falar em um evento que era "mulata". Só depois descobriu o significado racista por trás da palavra. 

"Fiquei muito envergonhada, me perguntava 'como isso não chegou até mim?'. Entendo a raiva que as mulheres ficaram", confessou. "Estou vendo mulheres negras aqui nesse espaço, isso não existia. Na minha juventude sempre fui a única preta em todos os ambientes", disse.

Preta entendeu, após o episódio, que tem privilégios por não ser negra retinta, por ter cabelos lisos e sua condição de artista. Precisou mergulhar em sua negritude. "Para entender que isso tudo me dá passabilidade eu tive que receber uma vaia. Óbvio que aquilo me doeu", continuou.

Preta buscou ajuda da atriz Taís Araújo, que criou um grupo com mulheres negras para trocas entre elas. "Se eu não tivesse sido vaiada talvez eu não tivesse amadurecido e aprendido tanto sobre a nossa história", reflete.

"A gente vive uma grande farsa no nosso país no que diz respeito à democrarcia racial. Vivemos uma disparidade. A gente está começando a emergrir, se unir, mas ainda é tudo muito dificil. Temos que realmente provocar para que as instituições contem a nossa história de verdade".

A 7ª edição do Power Trip Summit é uma realização da Marie Claire, com patrocínio de Vichy Laboratoires e Animale, apoio de Magalu, Alexa, Claro e Unico, parceria de Merz Aesthetics e Women@, o grupo de afinidade de mulheres da Meta. O Hotel Fairmont Rio é quem hospeda o evento.

Preta Gil  (Foto: Bléia Campos)

Preta Gil (Foto: Bléia Campos)