Nesta quarta-feira (6), a ONG e organização de pesquisa em concussões Concussion Legacy Foundation divulgou os resultados do estudo post-mortem do cérebro de Robert Card, conhecido como o "atirador do Maine".
O homem de 40 anos matou dezoito pessoas e deixou mais de doze feridas no Maine, nos Estados Unidos, durante um ataque a tiros que ocorreu em uma pista de boliche e em um restaurante em 25 de outubro de 2023. Ele cometeu suicídio e seu corpo foi encontrado dois dias depois.
A análise do tecido cerebral foi feita pela neurologista e neuropatologista Ann McKee, da Universidade de Boston. A médica notou que Card apresentava evidências significativas de lesões cerebrais traumáticas no momento em que cometeu o tiroteio.
“Na massa branca (fibras nervosas que permitem a comunicação entre diferentes áreas do cérebro), houve degeneração significativa, perda axonal e perda de mielina, inflamação e lesão de pequenos vasos sanguíneos”, explica McKee, em comunicado. “Não houve evidência de encefalopatia traumática crônica (ETC)”, declara.
Conforme a CNN, a ETC é uma forma de demência que pode incluir sintomas de depressão, raiva e esquecimento e costuma ser diagnosticada após a morte através de amostras cerebrais retiradas de uma autópsia.
Embora não haja indícios de que Card tivesse esta condição, o estudo mostrou que ele sofrera uma lesão traumática no cérebro antes de cometer os homicídios. Esta pode ter ocorrido durante seu tempo servindo no Exército.
Passado no exército
Tal exposição "de baixo nível" tem sido associada a sintomas que podem incluir problemas de concentração e memória, irritabilidade e tempos de reação lentos. Um estudo publicado em 2021 no periódico Jama Network Open mostra que pessoas expostas a isso, seja nas forças armadas ou na aplicação da lei, apresentam níveis elevados de proteínas no sangue que estão associados a lesões cerebrais traumáticas.
“Estes achados se alinham aos nossos estudos anteriores sobre os efeitos de lesões por explosões em humanos e em modelos experimentais”, comenta McKee. “Embora eu não possa dizer com certeza que estes resultados patológicos estão subjacentes às mudanças comportamentais do Sr. Card nos últimos dez meses de vida, com base no nosso trabalho anterior, a lesão cerebral provavelmente desempenhou um papel nos seus sintomas”, reconhece.
A divulgação dos resultados foi autorizada pela família de Robert Card com o objetivo de ajudar a prevenir outras tragédias semelhantes. “Esperamos aumentar a consciencialização sobre lesões cerebrais traumáticas entre os membros do serviço militar e encorajamos mais pesquisas e apoio aos membros do serviço militar com lesões cerebrais traumáticas”, declaram os familiares do atirador.
No futuro, outros estudos sobre o cérebro de Card devem ser conduzidos por McKee.