Comportamento

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein

Brincar em espaços azuis na infância – como mar, lagos, rios ou cachoeiras – melhora o bem-estar e a saúde mental na idade adulta, o que reforça a importância de mantermos contato com a natureza desde pequenos.

A conclusão é de um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Exeter, após analisar dados de 18 países, incluindo Europa, Estados Unidos e Canadá. Os resultados foram publicados no Journal of Environmental Psychology.

Os potenciais benefícios para saúde por meio do contato com espaços verdes (como parques, bosques e jardins) já são conhecidos há alguns anos pela ciência, mas esse é um dos primeiros estudos que investigou o impacto de ambientes com água e demonstrou a importância desse contato desde a infância.

A primeira publicação a chamar a atenção sobre os benefícios da natureza é de 1984. A pesquisa analisou pacientes que estavam internados e comparou a recuperação entre aqueles que tinham vista para áreas verdes com quem não tinha vista para áreas verdes. O trabalho demonstrou que aqueles que tinham vista requisitavam menos analgésicos e ficaram menos tempo internados em comparação com os demais.

"Esse estudo da década de 1980 despertou o interesse da ciência para esse assunto. Mas nos últimos cinco anos é que tivemos um aumento significativo no número de publicações. Com a pandemia, esse interesse aumentou muito", afirmou Eliseth Leão, líder do grupo de Pesquisa e-Natureza – Estudos Interdisciplinares sobre a Conexão com a Natureza, Saúde e Bem-Estar e pesquisadora do Centro de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein.

Memória afetiva

Entre as hipóteses para explicar os benefícios de contato com a natureza e espaços azuis na infância, está a criação de uma experiência positiva e de uma memória afetiva, que possivelmente fará a pessoa frequentar esses lugares mais vezes ao longo da vida. "Isso acaba reforçando o bem-estar percebido na infância e isso por si só favorece a saúde mental porque aumenta a satisfação com a vida", explicou a pesquisadora.

Segundo Eliseth, ambientes naturais auxiliam na regulação das emoções e no gerenciamento dos processos de estresse, além de favorecer o desenvolvimento cognitivo infantil, com consequente aumento de massa cinzenta no córtex pré-frontal. "Esse é um fator protetor de depressão, uma vez que estudos demonstram que essa área cerebral parece estar relacionada com a depressão", disse.

Os benefícios da água

Os autores desse estudo apontaram que os espaços azuis têm qualidades sensoriais únicas – como o reflexo da luz na água, o movimento das ondas do mar, os sons do movimento da água – e possibilitam a realização de uma série de atividades de lazer, como pesca, natação, esportes aquáticos, entre outros.

De acordo com Eliseth, cada cenário que vemos quando contemplamos a água (seja do mar, cachoeira ou de um lago calmo) tem potencial de desencadear uma emoção positiva específica que aumenta a sensação de bem-estar.

"Tivemos oportunidade de observar isso com um estudo com banco de imagens fotográficas, que validamos para potencial uso em ambientes clínicos e pesquisas sobre o tema. Percebemos que cada elemento da natureza tem o potencial de trazer uma emoção diferente para as pessoas. Se observamos isso nas fotografias, é bem provável que isso também aconteça nos cenários naturais", destacou.

Segundo Eliseth, os sons do oceano também ativam a região do córtex pré-frontal, que se associa com as emoções. Além disso, as ondas contribuem para a formação dos íons negativos que aceleram a capacidade de absorção do oxigênio (e isso melhora a oxigenação do sangue) e aumentam a atividade cerebral.

"Ao inalar esses íons negativos há um aumento da serotonina, que é um neurotransmissor que atua na regulação do humor e do sono. Por isso o mar ajuda a aliviar a depressão, o estresse, e também causa uma consequente melhora do sono", explicou

Reconexão com a natureza

Os autores do estudo alertam que com o avanço das tecnologias as pessoas estão se distanciando cada vez mais do mundo natural. Eles citam um estudo inglês em que 22% dos entrevistados disseram não ter interesse em visitar ambientes naturais. Eliseth destaca que é preciso uma "reconexão com a natureza" porque ela é importante não apenas para a saúde, mas também para a sobrevivência da espécie humana.

A pesquisadora diz que para trazer esses resultados para a vida real é preciso reforçar a questão da reconexão com a natureza, especialmente entre crianças e jovens, além de criar caminhos não só de pesquisa, mas de políticas públicas para divulgar a importância da biodiversidade para a saúde.

Ela diz ainda que é preciso ampliar os conhecimentos e estudos sobre o tema. "Sabemos que as tecnologias vieram para ficar. Então, precisamos usar essa tecnologia para disseminar conhecimento. Mas temos que usá-las de uma forma equilibrada. Elas são ferramentas muito úteis, mas também trazem risco para a nossa saúde uma vez que contribuem para a desconexão com a natureza", finalizou.

Fonte: Agência Einstein

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