Por que chocolate, salgadinho e batata frita são tão irresistíveis? A explicação pode estar em um novo estudo, que mostra que consumir habitualmente alimentos como esses, com alto teor de gordura e açúcar, pode mudar nosso cérebro.
A pesquisa foi publicada no último dia 22 de março na revista Cell Metabolism. Os resultados mostraram que nosso sistema nervoso central "aprende" a preferir esses alimentos com mais açúcar e gordura, mesmo que o consumo regular deles seja feito em pequena quantidade.
Pesquisadores do Instituto Max Planck para Pesquisa do Metabolismo em Colônia, na Alemanha, em colaboração com a Universidade Yale, nos Estados Unidos, chegaram a essas conclusões em um experimento para o qual recrutaram um grupo de 82 voluntários de peso considerado saudável.
Todos os participantes foram escolhidos a partir de um banco de dados pré-existente mantido no Instituto Max Planck. Os participantes estavam livres de medicamentos, não eram fumantes, não tinham histórico de distúrbios neurológicos, psiquiátricos, gastrointestinais ou alimentares e não seguiam dietas especiais ou tratamentos médicos.
Do total de voluntários, apenas 49 o estudo. Desses, 26 receberam um pudim contendo muita gordura e açúcar para comer diariamente, durante oito semanas. Enquanto isso, outro grupo comeu diariamente um pudim que continha o mesmo número de calorias, mas menos gordura e açúcar. A atividade cerebral de cada voluntário foi medida antes e durante as oito semanas, e os resultados foram comparados com um grupo controle.
Após dois meses, a resposta do cérebro a alimentos com alto teor de gordura e açúcar aumentou no grupo que comeu o pudim mais doce e gorduroso. Isso ativou particularmente o sistema dopaminérgico, região cerebral responsável por motivação e recompensa. "Nossas medições da atividade cerebral mostraram que o cérebro se reprograma por meio do consumo de salgadinhos e outros [alimentos como esses]”, explica Marc Tittgemeyer, um dos autores do estudo, em comunicado. “Inconscientemente, ele aprende a preferir alimentos gratificantes”.
Durante o período da pesquisa, os voluntários não ganharam mais peso do que as pessoas do grupo controle. E seus valores sanguíneos, como açúcar ou colesterol, também não mudaram. "Nossa tendência de comer alimentos com alto teor de gordura e açúcar, a chamada dieta ocidental, pode ser inata ou se desenvolver como resultado do excesso de peso. Mas pensamos que o cérebro aprende essa preferência", explica Sharmili Edwin Thanarajah, líder do estudo.
Porém, segundo alertam os autores, “como drogas viciantes”, a exposição habitual a alimentos mais açucarados e gordurosos é um “fator crítico de adaptações neurocomportamentais que podem aumentar o risco de excessos subsequentes e ganho de peso”.
Os pesquisadores assumem ainda que a preferência por esses alimentos continuará entre os participantes após o fim do estudo. "Novas conexões são feitas no cérebro e não se dissolvem tão rapidamente. Afinal, o objetivo do aprendizado é que, uma vez que você aprende algo, não o esquece tão rapidamente", diz Tittgemeyer.