Brasileiro recria face de mulher enterrada há 4,2 mil anos na Escócia

Reconstrução facial feita pelo designer 3D Cicero Moraes se baseia em crânio da Idade do Bronze de uma pessoa do sexo feminino, descoberto com ossada na década de 1980

Por Redação Galileu


Aproximação facial de Ava, mulher da Idade do Bronze morta há mais de 4 mil anos Cicero Moraes

O designer 3D Cicero Moraes, conhecido por “trazer de volta à vida” figuras históricas, lançou um novo trabalho no último dia 22 de junho — desta vez, uma aproximação facial de uma mulher da Idade do Bronze, baseada em um crânio de cerca de 4.250 anos atrás descoberto junto a uma ossada em Achavanich, na Escócia.

Os restos da mulher foram descobertos com uma taça de cerâmica em 19 de fevereiro de 1987. Na época, pesquisadores reconstruíram a disposição dos ossos e, com uma análise antropológica, concluíram se tratar de uma pessoa do sexo feminino com cerca de 1,71 metro de altura.

O DNA da ossada confirmou o sexo, sugerindo que a mulher tinha olhos castanhos, cabelo preto e a pele levemente mais escura do que os escoceses atuais.

Já entre 2014 e 2017, pesquisadores conduziram um novo trabalho de pesquisa acerca dos restos mortais: o projeto Achavanich Beaker Burial, também chamado apenas de Ava. Posteriormente, inclusive, a mulher passou a ser apelidada de Ava (uma abreviação de Ach ava nich, onde ela foi encontrada); e, em 2018, viralizou na mídia uma aproximação do rosto dela feita pelo artista forense Hew Morrison.

Rosto aproximado de Ava, mulher enterrada em Achavanich, Escócia — Foto: Cicero Moraes

Moraes ficou sabendo que o crânio de Ava e a taça de cerâmica estavam disponíveis sob licença livre no portal Skechfab. Então, o brasileiro começou a ler sobre o projeto em detalhes e se motivou a criar uma aproximação facial independente.

“A reconstrução facial forense (RFF) ou aproximação facial forense (AFF) é uma técnica auxiliar de reconhecimento que reconstrói / aproxima a face de um indivíduo a partir do seu crânio, e é utilizada quando há escassa informação para a identificação de um indivíduo”, explica Moraes em artigo sobre a descoberta na revistaOrtogoOnLineMag.

Crânio encontrado junto de ossada em 1987 permitiu aproximar o rosto de Ava — Foto: Cicero Moraes

Passo a passo para recriar Ava

Primeiro, o especialista complementou as partes faltantes do crânio. Então, projetou o perfil e as estruturas faciais de Ava com dados estatísticos e gerou o volume do rosto dela utilizando uma técnica de deformação anatômica.

O processo de modelagem foi efetuado no software Blender 3D, rodando a extensão OrtogOnBlender e seu submódulo ForensicOnBlender. Por último, Moraes fez o acabamento com o detalhamento da face e configuração dos cabelos.

Aproximação facial de mulher da Idade do Bronze — Foto: Cicero Moraes

Ele observou que os dentes caninos da mulher pareciam levemente deslocados para fora da arcada, “mas nada que comprometesse a aproximação facial”. Além disso, estavam faltando os incisivos menores, assim como a mandíbula e parte da região do forame magno (grande orifício através do qual passa a medula espinal), tendo sido necessário reconstruir tal partes.

Etapas da aproximação facial digital — Foto: Cicero Moraes

Após aproximar a face de Ava, o pesquisador comparou o endocrânio dela com os de 31 homens Homo sapiens e 19 mulheres da mesma espécie. Com exceção de um doador virtual do sexo masculino, todos os demais dados foram extraídos de aproximações faciais forenses efetuadas por Moraes.

Alinhamento ao Plano de Frankfurt e reconstrução de algumas partes faltantes do crânio por espelhamento — Foto: Cicero Moraes

O autor concluiu que o volume do cérebro de Ava era de 1.230 cm³, o que é 114 cm³ acima da média para o sexo feminino. Já a circunferência da cabeça, de 54,91 cm, está bem próxima da média do grupo analisado.

Com seu trabalho, Cicero Moraes acredita ter alcançado o objetivo do projeto Achavanich Beaker Burial. “É disseminar informações acerca da pré-história escocesa a quem possa interessar”, ele conclui.

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