O designer 3D Cicero Moraes, conhecido por “trazer de volta à vida” figuras históricas, lançou um novo trabalho no último dia 22 de junho — desta vez, uma aproximação facial de uma mulher da Idade do Bronze, baseada em um crânio de cerca de 4.250 anos atrás descoberto junto a uma ossada em Achavanich, na Escócia.
Os restos da mulher foram descobertos com uma taça de cerâmica em 19 de fevereiro de 1987. Na época, pesquisadores reconstruíram a disposição dos ossos e, com uma análise antropológica, concluíram se tratar de uma pessoa do sexo feminino com cerca de 1,71 metro de altura.
O DNA da ossada confirmou o sexo, sugerindo que a mulher tinha olhos castanhos, cabelo preto e a pele levemente mais escura do que os escoceses atuais.
Já entre 2014 e 2017, pesquisadores conduziram um novo trabalho de pesquisa acerca dos restos mortais: o projeto Achavanich Beaker Burial, também chamado apenas de Ava. Posteriormente, inclusive, a mulher passou a ser apelidada de Ava (uma abreviação de Ach ava nich, onde ela foi encontrada); e, em 2018, viralizou na mídia uma aproximação do rosto dela feita pelo artista forense Hew Morrison.
Moraes ficou sabendo que o crânio de Ava e a taça de cerâmica estavam disponíveis sob licença livre no portal Skechfab. Então, o brasileiro começou a ler sobre o projeto em detalhes e se motivou a criar uma aproximação facial independente.
“A reconstrução facial forense (RFF) ou aproximação facial forense (AFF) é uma técnica auxiliar de reconhecimento que reconstrói / aproxima a face de um indivíduo a partir do seu crânio, e é utilizada quando há escassa informação para a identificação de um indivíduo”, explica Moraes em artigo sobre a descoberta na revistaOrtogoOnLineMag.
Passo a passo para recriar Ava
Primeiro, o especialista complementou as partes faltantes do crânio. Então, projetou o perfil e as estruturas faciais de Ava com dados estatísticos e gerou o volume do rosto dela utilizando uma técnica de deformação anatômica.
O processo de modelagem foi efetuado no software Blender 3D, rodando a extensão OrtogOnBlender e seu submódulo ForensicOnBlender. Por último, Moraes fez o acabamento com o detalhamento da face e configuração dos cabelos.
Ele observou que os dentes caninos da mulher pareciam levemente deslocados para fora da arcada, “mas nada que comprometesse a aproximação facial”. Além disso, estavam faltando os incisivos menores, assim como a mandíbula e parte da região do forame magno (grande orifício através do qual passa a medula espinal), tendo sido necessário reconstruir tal partes.
Após aproximar a face de Ava, o pesquisador comparou o endocrânio dela com os de 31 homens Homo sapiens e 19 mulheres da mesma espécie. Com exceção de um doador virtual do sexo masculino, todos os demais dados foram extraídos de aproximações faciais forenses efetuadas por Moraes.
O autor concluiu que o volume do cérebro de Ava era de 1.230 cm³, o que é 114 cm³ acima da média para o sexo feminino. Já a circunferência da cabeça, de 54,91 cm, está bem próxima da média do grupo analisado.
Com seu trabalho, Cicero Moraes acredita ter alcançado o objetivo do projeto Achavanich Beaker Burial. “É disseminar informações acerca da pré-história escocesa a quem possa interessar”, ele conclui.