Cultura

Por Beatriz Herminio, com edição de Nathalie Provoste

As icônicas tirinhas do cartunista argentino Quino são tema da série documental Voltando a Ler Mafalda, que estreia no Disney+ e Star+ nesta quarta-feira (27). Com quatro episódios, a produção dirigida por Lorena Muñoz traz curiosidades sobre a vida do autor e revisita as histórias mais memoráveis da “heroína zangada” – como dizia o escritor e filósofo Umberto Eco – junto a convidados, como os quadrinistas Maitena e Liniers.

Criada em 1964, a personagem de Quino é famosa por sua sensibilidade social, e contesta a realidade a todo momento. Ao criticar as transformações políticas e socioculturais da década de 1960 no mundo, ela acabou por deixar reflexões atemporais; e, assim, se tornou um clássico que marcou a educação de gerações.

A seguir, confira seis tirinhas de Mafalda que espelham o contexto histórico da década de 1960 na Argentina e no mundo:

Propagandas na TV

Mafalda e os comerciais — Foto: Reprodução/Quino
Mafalda e os comerciais — Foto: Reprodução/Quino

Conhecida por publicitários como a "era de ouro" da propaganda e do marketing, os anos 1960 ficaram marcados pela criatividade de seus anúncios e pela capacidade de persuasão deles.

Com a influência da televisão sobre a classe média e o crescente avanço da industrialização, os comerciais inovadores já não vendiam apenas um produto. O intuito agora era criar uma conexão emocional com o público e lhe oferecer também uma nova experiência de vida, ou até mesmo a própria felicidade, dentro de uma caixa.

Bastão de esmagar ideologias

O bastão de esmagar ideologias — Foto: Reprodução/Quino
O bastão de esmagar ideologias — Foto: Reprodução/Quino

Em 1966, a Argentina vivenciou a autoproclamada “Revolução Argentina”, um golpe militar liderado pelo general Juan Carlos Onganía que instaurou um governo autoritário no país. Esse momento foi um divisor de águas para as tirinhas de Quino, que passaram a questionar os efeitos do militarismo cada vez mais.

Apesar de ter sido publicada somente em 1973, ano em que Juan Domingo Perón voltou ao poder após a pressão popular levar a eleições presidenciais, a tirinha acima faz referência à chamada Noche de los Bastones Largos na Argentina, evento de 1966 no qual a Universidade de Buenos Aires foi invadida pela polícia e estudantes e professores foram agredidos. O ocorrido demonstrou que a mobilidade social e a produção de conhecimento eram alvos da repressão do Estado.

Chega de censura

Censura em Mafalda — Foto: Reprodução/Quino
Censura em Mafalda — Foto: Reprodução/Quino

Apesar da instabilidade política na Argentina na década de 1960, as tirinhas de Mafalda não chegaram a ser censuradas. A hipótese de Quino era que, talvez, o governo autoritário não enxergasse uma influência política nesse tipo de produção artística.

Isso permitiu que as tirinhas debatessem a censura de forma mais explícita que outros tipos de arte. Ao ser publicada nos jornais, Mafalda conversava diretamente com a população sobre esse assunto.

1968 e a liberdade

Mafalda e a liberdade — Foto: Reprodução/Quino
Mafalda e a liberdade — Foto: Reprodução/Quino

O “ano que não terminou” ficou marcado por acontecimentos históricos e lutas a favor de justiça e liberdade em todo o mundo. Temas como a Guerra do Vietnã e a corrida espacial entre Estados Unidos e União Soviética ganharam vez nas criações de Quino na época.

As manifestações estudantis contra as guerras em diversos países e os regimes autoritários, especialmente na América Latina, também tiveram destaque nesse ano, bem como o assassinato do ativista estadunidense Martin Luther King. A juventude mundial, influenciada pelo movimento estudantil francês que protestava contra o governo do seu país, foi protagonista desses movimentos.

Mafalda ecoou o pensamento inconformista desses jovens – embora ela aprendesse na escola e em casa que não deveria brigar, mas sim se comportar.

Armas nucleares

Mafalda e a bomba atômica — Foto: Reprodução/Quino
Mafalda e a bomba atômica — Foto: Reprodução/Quino

A preocupação com um futuro incerto marcou o período da Guerra Fria (1945-1991). Apesar da ausência de combates físicos como os ocorridos na Segunda Guerra Mundial (1939-1945), havia uma tensão constante entre potências mundiais, especialmente entre os Estados Unidos capitalista e a União Soviética socialista.

Ao redor do mundo, existia o medo desses países detonarem bombas atômicas e, assim, causarem uma destruição em massa. Nos anos 1960, esse temor nuclear se intensificou especialmente pela Crise dos Mísseis em 1962 e pelos testes com bombas termonucleares que os norte-americanos e os soviéticos haviam iniciado na década anterior.

Não me force a tomar sopa!

Mafalda e a sopa — Foto: Reprodução/Quino
Mafalda e a sopa — Foto: Reprodução/Quino

Um tema recorrente das histórias de Mafalda é sua aversão a sopas. Assim como acontece com muitas outras crianças, ela se recusa a comer o alimento, que é a todo momento imposto por sua mãe. Esta era uma referência de Quino às ditaduras e ao autoritarismo de que a população não gostava, mas era forçada a tolerar na segunda metade do século 20.

Assista ao trailer de “Voltando a Ler Mafalda”:

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