Arte

Por Gabriela Garcia, com edição de Larissa Beani

Vestida de azul, vermelho e branco — as cores da bandeira do Estado da Bahia —, a mulher retratada em Carro com Escultura da Cabocla, escultura de Domingos Costa Baião feita em 1846, simboliza a participação popular nas lutas pela Independência do estado. A carruagem marca presença no desfile em Salvador todo dia 2 de julho, comemorando a data em que os portugueses foram expulsos da província há 200 anos.

Concedido temporariamente ao Museu Paulista (mais conhecido como Museu do Ipiranga), o item faz parte da nova exposição do local, Memórias da Independência, inaugurada nesta quarta-feira (25). A mostra dá início a uma nova fase da instituição, reinaugurada em setembro de 2022, que agora receberá exposições de curta duração. Esta é a primeira exposição a ocupar a nova sala de 900 metros quadrados (m²) construída durante a reforma.

"Carro com escultura da cabocla", de Domingos Costa Baião, é usado no cortejo de 2 de julho na celebração de independência da Bahia. — Foto: Gabriela Garcia/Revista Galileu
"Carro com escultura da cabocla", de Domingos Costa Baião, é usado no cortejo de 2 de julho na celebração de independência da Bahia. — Foto: Gabriela Garcia/Revista Galileu

“Antes costumávamos visitar o museu quando éramos crianças e só retornávamos anos depois, trazendo nossos filhos. Agora, as pessoas podem voltar pelo menos a cada seis meses para ver as novas exposições, que serão renovadas constantemente", disse Jorge Pimentel Cintra, professor do Museu Paulista e um dos curadores da exposição, durante a cerimônia de abertura.

Mais do que celebrar o dia da Independência, a mostra faz uma viagem pelos acontecimentos que se passaram em todo o país antes e depois do famoso 7 de setembro e que contribuíram para a ruptura definitiva com Portugal. A exposição desmistifica a ideia de que a declaração da independência tenha sido um evento único e centrado em São Paulo. Na verdade, ela foi um longo processo que contou com a participação de muitos agentes em todo o Brasil.

A curadoria da mostra foi realizada por Paulo César Martins, Maria Aparecida de Menezes Borrego e Jorge Pimentel Cintra, professores da Universidade de São Paulo (USP) que também fazem parte do quadro docente do museu. Eles também contaram com a assistência de Márcia Eckert Miranda, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp); Carlos Lima Junior, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); e Michelli Cristine Scapol Monteiro, também da USP.

Registro históricos

A exposição reúne cerca de 130 itens. Entre eles há esculturas, pinturas, fotografias, estudos arquitetônicos, objetos decorativos, selos, desenhos, cartões-postais, discos, cartazes de filmes e charges.

A mostra é dividida em dois eixos temáticos organizados em uma linha do tempo. O eixo principal revê os marcos comemorativos da Independência brasileira, desde a década de 1820 até o bicentenário. Também é possível ver evidências das disputas entre São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador pelo protagonismo destas narrativas.

Dentre os matérias expostos estão os esboços feitos a lápis pelo pintor Pedro Américo para a produção do quadro "Independência ou Morte" — Foto: Gabriela Garcia/Revista Galileu
Dentre os matérias expostos estão os esboços feitos a lápis pelo pintor Pedro Américo para a produção do quadro "Independência ou Morte" — Foto: Gabriela Garcia/Revista Galileu

“Procuramos reunir datas de grande significado neste processo. São elas: o Grito do Ipiranga, em 1822; e as comemorações de 50, 100, 150 e 200 anos da Independência”, conta Cintra, em entrevista a GALILEU. “A organização da exposição envolveu a reunião de materiais do nosso próprio acervo e o empréstimo de [obras de] algumas instituições. Contamos com o apoio de 12 instituições culturais e de coleções particulares do país.”

Neste eixo, é possível ver o projeto arquitetônico do Museu do Ipiranga, inicialmente construído para ser um edifício-monumento para celebrar a independência e a memória de Dom Pedro I. Os esboços feitos a lápis pelo pintor Pedro Américo para elaborar a pintura Independência ou Morte, exposta no salão nobre do Museu, também fazem parte da coleção.

Outros centenários

No segundo eixo temático, a exposição aborda as memórias de outros movimentos separatistas que foram realizados durante o império brasileiro, como a Revolução Pernambucana, de 1817; a Confederação do Equador, de 1824; e a Revolução Farroupilha, de 1835 a 1845.

O esforço para transformar São Paulo no epicentro do centenário também é abordado na mostra. Já no sesquicentenário (comemoração de 150 anos da Independência), em 1972, o regime militar tentava transformar a festa em um ato de celebração nacional da própria ditadura. Por fim, em 2022, o bicentenário foi marcado pela reinauguração do Museu do Ipiranga, que estava fechado ao público desde 2013 para reformas estruturais.

Exposição reúne acontecimentos no país que ajudaram no processo de ruptura com Portugal — Foto: Gabriela Garcia/Revista Galileu
Exposição reúne acontecimentos no país que ajudaram no processo de ruptura com Portugal — Foto: Gabriela Garcia/Revista Galileu

Cada módulo contém uma projeção com mais detalhes dos acontecimentos. Enquanto no primeiro trecho vemos uma reconstituição em detalhes do caminho percorrido por Dom Pedro I até as margens do Ipiranga, no seguinte a mostra reflete sobre como a Independência foi retratada na indústria cinematográfica.

Memórias da Independência fica em cartaz até o dia 26 de março. A entrada é gratuita e sem necessidade de agendamento prévio. A liberação é feita através de senhas (válidas somente para esta exposição). O Museu do Ipiranga está aberto ao público de terça à domingo, das 11h às 17h.

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