Para entender de que forma ambientes fechados como salas de cirurgia podem ser desinfectados do vírus Sars-CoV-2, um estudo analisou a capacidade de a luz ultravioleta destruir o causador da Covid-19. A pesquisa da Universidade de Southampton, no Reino Unido, foi publicada no periódico ACS Photonics no último 25 de dezembro.
As partículas virais do coronavírus são compostas por cadeias de ácido nucleico (que contêm as informações genéticas do vírus) envoltas por uma membrana lipídica com proteínas Spike em sua superfície. Para que o laser ultravioleta destrua o vírus, é necessário afetar cada um desses componentes para que eles degradem sob a luz — e foi isso que os cientistas fizeram.
"A desativação por luz de vírus transportados pelo ar oferece uma ferramenta versátil para a desinfecção de nossos espaços públicos e equipamentos sensíveis que, de outra forma, poderiam ser difíceis de descontaminar com métodos convencionais", declarou Sumeet Mahajan, professor que liderou o estudo, em comunicado. A desativação baseada em luz tem uma gama de aplicações que métodos convencionais baseados em líquidos não permitem.
Laser ultravioleta
A luz UV inclui as luzes UVA, UVB e UVC, um conjunto de ondas eletromagnéticas com comprimento de onda menor do que a luz visível, que vai de 400 a 700 nanômetros (nm). No experimento, os cientistas focaram na luz UVC devido às suas propriedades desinfectantes.
Pouca luz UVC do Sol em frequências abaixo de 280nm atinge a superfície terrestre, mas ela é altamente absorvida por diferentes componentes virais a 260nm e pelas proteínas Spike a 230nm. Por isso, a equipe utilizou frequências de 266nm e 227nm no estudo.
A 227nm, a luz foi mais efetiva nos danos a proteínas por meio da oxidação, que desdobra a estrutura proteica, mas foi menos eficaz em induzir o dano ao RNA. O Sars-CoV-2 é um vírus de RNA com um dos maiores genomas virais, o que o torna especialmente sensível a danos genômicos.
Já a 266nm, a luz afetou informações genéticas do vírus. Ela causou danos ao RNA em baixas potências, além de ter danificado a estrutura da proteína Spike e reduzido sua habilidade de ligar-se a células humanas por meio da quebra das ligações dissulfeto e dos aminoácidos aromáticos.
"Agora que entendemos a sensibilidade diferencial dos componentes moleculares dos vírus à desativação por luz, isso abre a possibilidade de uma tecnologia de desinfecção bem ajustada", alegou Mahajan.