“Consonância musical” é o termo utilizado para descrever uma combinação de notas agradável aos ouvidos. Há muito tempo, teorias musicais e estudos psicológicos (sobretudo do Ocidente) sustentam que esse fenômeno é resultado de simples razões de frequência entre tons, não sendo influenciado pelo timbre. O renomado matemático e filósofo Pitágoras, por exemplo, defendia que a consonância seria produzida pelas relações matemáticas especiais entre alguns números, como 3 e 4.
Agora, pesquisadores demonstram que a ideia de Pitágoras estava equivocada. De acordo com um artigo publicado na revista Nature Communications em 19 de fevereiro, ouvintes apreciam o desvio de razões matemáticas precisas. Ou seja, acordes com variações fora das proporções previstas pelo matemático não tornam as músicas dissonantes ou desagradáveis.
Além disso, constatou-se que a importância das relações matemáticas não se aplica a todos os contextos. Ela chega, inclusive, a desaparecer quando se fala em instrumentos musicais menos familiares às culturas ocidentais.
As conclusões foram obtidas a partir de experimentos realizados online com mais de 4 mil pessoas dos Estados Unidos e da Coreia do Sul. Basicamente, os participantes avaliaram o nível de agradabilidade de diversos acordes apresentados a eles. Também foi solicitado que cada um ajustasse determinadas notas dos acordes para que ficassem mais satisfatórias aos ouvidos.
Analisando os resultados, os cientistas verificaram que havia uma predileção por leves imperfeições que seriam tradicionalmente consideradas inarmônicas. “Preferimos pequenas quantidades de desvio. Gostamos de um pouco de imperfeição porque isso dá vida aos sons, sendo atraente para nós,” explica, em comunicado, Peter Harrison, um dos autores do artigo.
A equipe percebeu ainda que as relações matemáticas não são válidas para todos os instrumentos musicais. “Ao usar instrumentos como o bonang [típico da Indonésia], os números especiais de Pitágoras vão para o espaço e encontramos padrões inteiramente novos de consonância e dissonância”, comenta Harrison.
Confira, abaixo, o vídeo do músico Sumarsam tocando bonang:
Quando são tocados, por exemplo, sinos, gongos e xilofones, eles ressoam sem respeitar relações matemáticas convencionais – o que tende a chamar a atenção das pessoas e ser considerado interessante.
“Nossos achados desafiam a ideia tradicional de que a harmonia só pode ocorrer de uma maneira e os acordes precisam refletir certas relações matemáticas”, afirma Harrison. “Demonstramos que existem vários outros tipos de harmonia por aí e há boas razões pelas quais outras culturas os desenvolveram”, conclui.