Ao examinarem um monte de lixo composto por fragmentos de cerâmica misturados no assentamento neolítico de Oldenburg LA 7, na Alemanha, arqueólogos descobriram um incidente culinário muito antigo: um mingau queimado da Idade da Pedra.
O achado foi registrado em 19 de janeiro no periódico PLOS One. O estudo documenta práticas de preparação e cozimento de alimentos no assentamento onde existiu uma das mais antigas vilas do norte da Alemanha.
Os pesquisadores da Universidade de Kiel, na Alemanha, estimam que o mingau queimado tenha 5 mil anos. Eles acreditam que as refeições da época eram variadas, com cereais e plantas silvestres desempenhando um papel importante na dieta dos antigos humanos.
"Tão logo olhamos para dentro da panela de cozimento da pessoa, ficou óbvio que algo deu errado", disse a autora do estudo, Lucy Kubiak-Martens, parceira de cooperação da BIAX Consult, uma empresa especializada em arqueobotânica e paleobotânica nos Países Baixos, ao site Live Science.
![Crosta de comida queimada de 5 mil anos em um fragmento de cerâmica de Oldenburg LA 77 — Foto: Agnes Heitmann, Universidade de Kiel](https://cdn.statically.io/img/s2-galileu.glbimg.com/RJ9Z0XZn0HH4RQAwnr8yAopP0uQ=/0x0:1920x741/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2024/S/9/XYkNK1QIKwg43LauEgOw/csm-006-sfb1266-scherbe2-2f6f9c3db9.jpg.webp)
Mingau queimado, porém doce
Usando microscopia eletrônica de varredura e análise química, os pesquisadores identificaram uma sofisticada preparação de alimentos à base de plantas. Os resíduos ainda presos aos cacos de cerâmica da panela revelaram crostas contendo vestígios de diferentes grãos antigos, incluindo trigo emmer (Triticum dicoccon) e cevada.
O trigo emmer foi processado em estado germinado, o que conferiu ao mingau um sabor doce, segundo os pesquisadores.
![Imagem da microestrutura interna da crosta alimentar da panela de mingau queimado — Foto: Lucy Kubiak-Martens, Biax Consult](https://cdn.statically.io/img/s2-galileu.glbimg.com/0DdFtLaoJftkD2JwSkhD8jc211w=/0x0:1440x1080/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2024/0/4/74VnMeQm2ZOqD0E13s1Q/csm-006-sfb1266-mikro3-44e5f022a6.jpg.webp)
Conforme conta em comunicado a líder do estudo, a professora Wiebke Kirleis, havia também restos de ansarina-branca (Chenopodium album), uma planta selvagem que cresce como uma erva daninha e produz muitas sementes com níveis elevados de amido.
As crostas queimadas na panela evidenciaram ainda que cereais e produtos lácteos provavelmente foram processados para uso diário nos mesmos recipientes e formaram uma base dietética equilibrada.
![Imagem mostrando um grão de trigo emmer carbonizado com embrião germinado em Oldenburg LA 77 — Foto: Lucy Kubiak-Martens, Biax Consult](https://cdn.statically.io/img/s2-galileu.glbimg.com/zK_Jl5IQ7ztaWazZyc03nYKViz4=/0x0:1440x1080/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2024/l/r/gK45KBTwig82CeA1IRgw/csm-006-sfb1266-korn4-3495ab9872.jpg)
Um fragmento separado de cerâmica continha resíduos de gordura animal — provavelmente leite — que havia se infiltrado na argila. No entanto, não parecia que o cozinheiro em questão tivesse misturado grãos no líquido, então o leite provavelmente não fazia parte do mingau.
"Enquanto as gorduras animais são absorvidas pela cerâmica e deixam um sinal lá, os componentes alimentares vegetais só podem ser detectados na crosta de alimentos queimados", explica Kubiak-Martens.
![Escavação no assentamento Oldenburg LA 77 na Alemanha — Foto: Sara Jagiolla, Universidade de Kiel](https://cdn.statically.io/img/s2-galileu.glbimg.com/bHwDkEizSkv-S8ySb29yt_rqhgA=/0x0:1613x1080/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2024/m/0/99t4HyRaSJyO7ZjvS9JQ/csm-006-sfb1266-oldenburg6-3a8bf18ce3.jpg.webp)
A pesquisadora contou ao Live Science que o incidente de cozimento pode ter sido o último evento culinário usando a panela. "Isso é muito mais do que apenas um grão carbonizado. Estamos vendo como as pessoas preparavam suas refeições diárias milhares de anos atrás", ela afirma.
Os cientistas consideram que os achados expandem o que se sabe sobre o processo de transformação de plantas em refeições durante o período que se seguiu à introdução do modo de vida agrícola e de plantas cultivadas na Europa central e do norte.
![Reconstrução da vida na aldeia há 5 mil anos em Oldenburg LA 77 — Foto: Susanne Beyer, Universidade de Kiel](https://cdn.statically.io/img/s2-galileu.glbimg.com/WQRGf0-xrqwzhbKVjY67p6Akoos=/0x0:1524x1080/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2024/r/G/ARvPkdR2qe8AeaC9cOgw/csm-006-sfb1266-abbildung7-a7860e4ec1.png.webp)