Mike Cawthorne, um estudante de mestrado da Universidade de Bristol, descreveu em uma nova pesquisa um curioso réptil alado: o Kuehneosaurus, que viveu entre os antigos crocodilos residentes das colinas de Mendip, na Inglaterra, há 200 milhões de anos.
A descoberta foi registrada online no último dia 20 de janeiro, no periódico Proceedings of the Geologists' Association. O achado ocorreu enquanto Cawthorne pesquisava inúmeros fósseis de répteis em pedreiras de calcário que formavam a maior ilha sub-tropical da época, a chamada Ilha Paleontológica de Mendip.
"As coleções que estudei foram feitas nas décadas de 1940 e 1950, quando as pedreiras ainda estavam ativas. Os paleontólogos podiam visitá-las, ver faces de rocha fresca e conversar com os operários que trabalhavam nelas", conta o estudante, em comunicado.
![Ossos de Kuehneosuchus em rocha — Foto: David Whiteside](https://cdn.statically.io/img/s2-galileu.glbimg.com/gnrC6Xsgqx8-f16rkDmlX45kXOw=/0x0:2880x1944/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2024/z/T/nSyAsLSYawAAoA0jfXZQ/student-discovers-200-1.jpg)
Os Kuehneosaurus se pareciam com lagartos, mas eram mais intimamente relacionados aos ancestrais de crocodilianos e dinossauros. Eles eram muito pequenos, podendo caber facilmente na palma da mão.
Especialistas os dividem em duas espécies: uma com asas extensas e outra com asas mais curtas, feitas de uma camada de pele esticada sobre suas costelas laterais alongadas, o que lhes permitia planar de árvore em árvore.
"Todos os animais eram pequenos", disse Cawthorne. "Eu esperava encontrar alguns ossos de dinossauro, ou até mesmo seus dentes isolados; mas, na verdade, encontrei de tudo, exceto dinossauros."
Assim como o lagarto voador moderno Draco, do sudeste asiático, os pequenos répteis voadores avaliados pelo estudante provavelmente vagavam pelo solo e escalavam árvores em busca de insetos. Quando amedrontados, ou nos momentos em que avistavam uma presa voando por perto, eles podiam se lançar no ar e pousar a 10 metros de distância.
Além da presença do Kuehneosaurus, o estudo registra a ocorrência de répteis com dentes complexos, o trilofossauro Variodens e o aquático Pachystropheus, que provavelmente vivia de maneira semelhante a uma lontra moderna, alimentando-se de camarões e peixes pequenos.
"Foi preciso muito trabalho para identificar os ossos fósseis, a maioria dos quais estavam separados e sem formar um esqueleto", conta o coautor do estudo, Mike Benton, professor da Escola de Ciências da Terra de Bristol. "No entanto, temos muito material comparativo, e Mike Cawthorne conseguiu avaliar as mandíbulas isoladas junto a outros ossos com espécimes mais completos de outros locais ao redor de Bristol".
![Esqueleto parcial do réptil planador Kuehneosaurus na rocha de Emborough, na Inglaterra — Foto: David Whiteside](https://cdn.statically.io/img/s2-galileu.glbimg.com/jks7579NfpqMPueE-NYRe5XsBxU=/0x0:2880x3556/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2024/K/L/BJoJGKSA2i3bFPgjskvg/student-discovers-200.jpg)
Apesar de Cawthorne não ter descoberto um fóssil de dinossauro em Mendip, é provável que esses seres tenham passado pela ilha. Isso porque foram encontrados fósseis deles em outros locais da mesma idade geológica ao redor de Bristol, segundo afirma Benton.
Há 200 milhões de anos, no final do Triássico, os pesquisadores acreditam que a área ao redor de Bristol era um arquipélago situado em um mar sub-tropical quente.
Os ossos estudados foram coletados por alguns grandes caçadores de fósseis nas décadas de 1940 e 1950, segundo conta outro coautor da pesquisa, David Whiteside. Isso incluiu Tom Fry, "um colecionador amador que trabalhava para a Universidade de Bristol e geralmente ia de bicicleta até as pedreiras e voltava carregado com sacos pesados de rochas".
"Os outros colecionadores foram os talentosos pesquisadores Walter Kühne, um alemão que foi preso na Grã-Bretanha na 2ª Guerra Mundial, e Pamela L. Robinson da University College London. Eles doaram seus espécimes ao Museu de História Natural de Londres e às coleções geológicas da Universidade de Bristol", acrescenta Whiteside.