Ciência

Por Redação Galileu

Uma incrível e longa jornada feita por uma fêmea de mamute-lanoso (Mammuthus primigenius) ao longo de sua vida na Terra, há mais de 14 mil anos, foi revelada por pesquisadores a partir de uma de suas presas.

O resultado da análise foi publicado em 4 de outubro de 2023 na revista Science Advances. A fêmea viajou centenas de quilômetros pelo noroeste do Canadá e do Alasca. Por fim, a mamute terminou sua vida quando encontrou alguns dos primeiros humanos a atravessarem a Ponte Terrestre de Bering.

Os últimos mamutes-lanosos viveram ao lado dos habitantes pioneiros da região por pelo menos mil anos. Mas pouco se sabe sobre como esses animais se moviam na presença dos humanos, que os caçavam e contribuíram para sua extinção.

A mamute fêmea, apelidada de Élmayuujey'eh pelo Conselho da Vila de Healy Lake, foi descoberta no sítio arqueológico mais antigo do Alasca, Swan Point. O local também revelou restos de um mamute jovem e de um filhote da espécie. Além disso, restos desses mamíferos gigantes foram encontrados em outros três sítios arqueológicos a cerca de 10 km dali.

Sina Beleka examina a amostra de presa de mamute — Foto: Sidney Roth/McMaster University
Sina Beleka examina a amostra de presa de mamute — Foto: Sidney Roth/McMaster University

Uma equipe internacional de pesquisadores da Universidade McMaster, no Canadá, da Universidade do Alasca em Fairbanks (UAF) e da Universidade de Ottawa conduziram uma análise isotópica da presa da mamute e análises genéticas dos restos de muitos outros mamutes para reconstruir os movimentos da fêmea em vida e suas relações parentescas.

O geneticista evolucionário Hendrik Poinar, diretor do Centro de DNA Antigo da McMaster, liderou uma equipe que sequenciou os genomas mitocondriais de oito mamutes-lanosos encontrados em Swan Point e outros locais próximos. "Esta é uma história fascinante que mostra a complexidade da vida e do comportamento dos mamutes, para os quais temos muito pouca compreensão", ele afirma, em comunicado.

Enquanto isso, uma equipe da Universidade do Alasca em Fairbanks conduziu as análises isotópicas da presa de Élmayuujey'eh. Os isótopos de diferentes elementos, como oxigênio e estrôncio, indicaram por onde a fêmea de mamute havia andado.

Líder matriarcal

A mamute tinha cerca de 20 anos quando morreu, tendo passado grande parte de sua vida em uma área relativamente pequena de Yukon, no Canadá. Conforme envelheceu, os pesquisadores estimam que ela viajou mais de mil km em apenas três anos, estabelecendo-se no interior do Alasca.

Segundo supõem os cientistas, a área de Swan Point provavelmente era um ponto de encontro para pelo menos dois rebanhos matriarcais intimamente relacionados, mas distintos. A mamute-lanosa morreu perto de um bebê e de um jovem mamute, que tinham parentesco entre si, e dos quais ela pode ter sido a líder matriarcal.

Uma amostra usada no estudo que acompanhou as viagens de um mamute que vagou pela Terra há 14 mil anos — Foto: Sidney Roth/Universidade McMaster
Uma amostra usada no estudo que acompanhou as viagens de um mamute que vagou pela Terra há 14 mil anos — Foto: Sidney Roth/Universidade McMaster

Assim como os elefantes modernos, presume-se que as fêmeas de mamute e os jovens vivessem em grupos matriarcais unidos. Já os machos viajavam sozinhos ou em grupos masculinos mais soltos, muitas vezes percorrendo territórios maiores do que as fêmeas.

Fazendo jus ao seu posto de líder matriarcal, o DNA antigo da presa de Élmayuujey'eh indicou que ela era intimamente relacionada aos outros mamutes do mesmo local. Ela também era mais distante de outros de um lugar próximo chamado Holzman.

A extinção dos mamutes

Além de serem vítimas da caça, os mamutes podem ter sofrido com a presença de assentamentos humanos, que acabavam limitando os movimentos desses animais e o acesso a suas pastagens preferidas. "Para os primeiros habitantes do Alasca, essas localidades eram importantes para observação e apreciação, e também uma fonte de alimento potencial", diz Poinar.

Dados coletados apontam que os humanos antigos estruturavam seus acampamentos de caça sazonais com base onde os mamutes se reuniam. Por esta razão, o ser humano pode ter desempenhado um papel indireto na extinção local da espécie no Alasca, o que piorou devido ao clima em rápida mudança e vegetação alterada.

Karen Spaleta, coautora do estudo, coleta uma amostra da presa de mamute achada em Swan Point, no Alasca — Foto: Universidade do Alasca em Fairbanks
Karen Spaleta, coautora do estudo, coleta uma amostra da presa de mamute achada em Swan Point, no Alasca — Foto: Universidade do Alasca em Fairbanks

Mas essas privações parecem não ter afetado Élmayuujey'eh. "Ela era uma jovem adulta no auge da vida. Seus isótopos mostraram que ela não estava desnutrida e que ela morreu na mesma estação do acampamento sazonal de caça em Swan Point onde sua presa foi encontrada", disse o autor sênior da pesquisa, Matthew Wooller, que é professor na Faculdade de Pesca e Ciências do Oceano da UAF.

Para Tyler Murchie, pesquisador de pós-doutorado na McMaster que contribuiu com a análise de DNA antigo, a pesquisa dos movimentos dos mamutes pode realmente ajudar a entender como as pessoas e esses animais extintos viveram nessas áreas.

"Podemos continuar a expandir significativamente nossa compreensão genética do passado e abordar questões mais sutis de como os mamutes se moviam, como eles estavam relacionados entre si e como tudo isso se conecta aos antigos povos", ele afirma.

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