Uma equipe de ambientalistas criou uma solução para conter a caça predatória no orfanato de rinocerontes do Limpopo, na região de Waterberg, nordeste da África do Sul. A técnica consiste em adicionar material radioativo aos chifres dos animais, partes que são muito cobiçadas no mercado ilegal por suas supostas propriedades medicinais.
A equipe do projeto Rhisotope explica que os radioisótopos aplicados nos rinocerontes foram dosados de forma que a sua radiação não prejudique a saúde dos bichos. Porém, a quantidade é suficiente para se tornar tóxico para os seres humanos -- o que inviabiliza sua venda para posterior consumo com fins medicinais.
A introdução do material radioativo não causa dor aos rinocerontes, e é feita rapidamente com o animal está desacordado, após sedação. James Larkin, líder da iniciativa, explicou à AFP que um pequeno furo é feito no chifre do animal e, dentro dessa cavidade, se insere certa quantidade de elementos radioativos chamados de radioisótopo. A fonte radioativa pode permanecer ali pelo período de cinco anos.
“A dose é atinge um nível de radioatividade que é capaz de acionar os detectores de emergência instalados nos postos de fronteiras internacionais”, aponta Larkin. “Dessa forma, as medidas que já existem originalmente para prevenir o terrorismo nuclear podem também nos alertar sobre tentativas de caça furtiva aos chifres de rinocerontes”.
![Rinoceronte com o chifre arrancado por caçadores. Acredita-se que parte do animal tenha propriedades medicinais — Foto: Rhisotope/YouTube](https://cdn.statically.io/img/s2-galileu.glbimg.com/IVorjmIQ4dMI_Wo1HQWJ5hOYBzo=/0x0:1598x900/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_fde5cd494fb04473a83fa5fd57ad4542/internal_photos/bs/2024/q/R/CTZemURO21LROk5Brdcg/rinoceronte-da-africa-do-sul-com-o-chifre-arrancado.png)
O projeto foi desenvolvido após a equipe perceber que, apesar das medidas para mitigação da caça ilegal aos rinocerontes, os números de mortes desses animais não abaixaram. Pelo contrário, segundo os dados oficiais do Ministério do Meio Ambiente sul-africano, os casos cresceram de 2022 para 2023.
Cerca de 499 rinocerontes foram mortos por caçadores no ano passado. Tal quantidade supera em 11% o número de 2022. Os casos ocorreram, sobretudo, em parques estatais e áreas de proteção ambiental.
Nos mercados paralelos, estima-se que os chifres de rinoceronte podem ter um preço por peso semelhante ao do ouro ou cocaína.
Arrie Van Deventer, fundador do orfanato do Limpopo, classifica a iniciativa de introduzir material radioativo nos chifres dos rinocerontes e, assim, identificar os criminosos como “a melhor ideia que já ouviu”. “Talvez seja isso que irá acabar de vez com a caça furtiva”, afirmou, à AFP.
Cerca de 15 mil rinocerontes vivem na África do Sul. Mas, por enquanto, nesta primeira etapa do projeto, apenas 20 deles farão parte do projeto piloto. Agora o foco da pesquisa é em acompanhar a saúde desses animais, garantindo que eles não estão sendo afetados pela presença dos radioisótopos. Você pode ver mais sobre o projeto no vídeo abaixo.