Cientistas coletaram 25 amostras de gelo em um local de pesquisa ativo ao sul da vila de Ny-Ålesund no arquipélago ártico de Svalbard, na Noruega. Foram detectados vestígios de 13 ingredientes normalmente encontrados em protetores solares e outros produtos de cuidado pessoal.
Os ingredientes estavam nas coletas feitas em cinco geleiras árticas, de acordo com estudo publicado em 7 de novembro de 2023 na revista científica Science of the Total Environment.
"Para alguns desses produtos químicos, esta é a primeira vez que sua presença é relatada na neve em Svalbard", explicam os autores do estudo, que foi liderado por Marianna D'Amico, cientista polar da Universidade Ca' Foscari de Veneza, na Itália.
Foram coletadas amostras na primavera ártica de 2021. Algumas no mesmo local, mas em profundidades diferentes para ver como as concentrações mudavam ao longo das estações do ano.
A equipe analisou ingredientes comuns de produtos de cuidado pessoal, incluindo fragrâncias encontradas em sabonetes e xampus, e filtros UV usados em protetores solares. Com exceção de uma geleira, todas as analisadas tinham concentrações mais altas desses filtros na neve depositada durante o inverno do que no acumulado de neve de outros períodos sazonais.
Eram particularmente abundantes no topo dos glaciares dois filtros UV: benzofenona-3 (BP3) e octocrileno. A estação de pesquisa próxima a Ny-Ålesund poderia ser uma fonte adicional de poluição, mas os cientistas acreditam que os produtos químicos foram transportados pelos ventos para as remotas geleiras árticas.
Com aproximadamente o tamanho do continente africano, a Névoa Ártica é um sistema bem conhecido de massa de ar poluído, que se acumula sobre a Europa durante os meses de inverno e se estende pelo Círculo Ártico.
A pesquisa ressalta um interesse crescente nos chamados Produtos Químicos de Preocupação Emergente no Ártico (CEACs), compostos que já foram encontrados na Antártica e no Ártico antes, seja em águas superficiais, no mar, na neve ou em correntes residuais próximas a estações de pesquisa.
"Este estudo destaca a necessidade de informações detalhadas sobre as propriedades físico-químicas dos CEACs, considerando o seu impacto potencial nas águas doces e marinhas durante o degelo sob as mudanças climáticas", escrevem os autores.
Mais pesquisas são necessárias para entender se os contaminantes encontrados na neve do Ártico estão abaixo ou se aproximando de níveis ambientalmente tóxicos. Segundo o estudo, mesmo que estejam inferiores à toxidade, os produtos poderão ter um "impacto significativo" em águas doces e marinhas, como resultado direto do processo de derretimento da neve na área.
"O monitoramento desses produtos químicos na neve junto com outras matrizes pode, portanto, ajudar a discernir e avaliar o impacto das diferentes fontes de contaminação no ecossistema do Ártico", explicam os pesquisadores.