Com dados coletados na década de 1990 pela sonda Magalhães, primeira espaçonave a obter imagens de toda a superfície de Vênus, pesquisadores da Nasa calcularam a espessura da crosta do planeta, notando semelhanças com a Terra.
Segundo os cientistas do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL), na Califórnia, nos Estados Unidos, Vênus tem fluxo de calor comparável e espessura de litosfera semelhantes aos do nosso planeta, mesmo havendo várias diferenças entre eles.
Vênus é às vezes chamado de irmão gêmeo da Terra porque tem quase o mesmo tamanho. De acordo com o site Coolcosmos, apoiado pelo JPL, o segundo planeta do Sistema Solar a partir do Sol tem uma atmosfera cerca de 100 vezes mais espessa que a do nosso planeta e temperaturas infernais, de em torno de 464ºC.
Além disso, Vênus contém densas nuvens de ácido sulfúrico que obstruiriam qualquer visão noturna — caso tivesse lua, esta não seria visível. Já a atmosfera venusiana consiste principalmente de CO2 com pressão na superfície cerca de 92 vezes a pressão atmosférica ao nível do mar na Terra.
Calor e espessura
Em busca de novas informações, os pesquisadores calcularam a espessura da litosfera de Vênus a partir das coronae, que são formações quase circulares originadas por meio de atividade geológica e vulcânica.
Usando dados de altimetria da sonda Magalhães, a equipe determinou a espessura média em 75 locais dentro de 65 coronae: aproximadamente de 7 a 11 quilômetros. A partir disso, calculou-se o fluxo de calor médio de Vênus como sendo maior que a média da Terra, mas semelhante aos valores medidos em áreas tectônicas ativas.
"Nossa análise identifica prováveis áreas de extensão ativa e sugere que Vênus tem espessura litosférica semelhante à da Terra e faixas globais de fluxo de calor”, escreveram os pesquisadores, que acrescentaram que o regime depende de plumas, magmatismo intrusivo e delaminação (na qual um material se fratura em camadas).
A subducção induzida por plumas é considerada por muitos pesquisadores como a origem das placas tectônicas da Terra. Portanto, Vênus poderia ter sido análogo ao nosso planeta durante o Eon Arqueano de 4 a 2,5 bilhões de anos atrás.
Segundo os especialistas, a situação litosférica de Vênus é de "tampa mole". Isso contraria modelos anteriores, que sugeriram uma "tampa estagnada", ou seja, uma litosfera imóvel e fria cobrindo todo o astro; ou ainda uma "tampa episódica", na qual uma tampa estagnada instável ocasionalmente explode em atividade tectônica.
Conforme comunicado, uma importante aplicação das descobertas é que a determinação da habitabilidade em planetas de outros sistemas solares pode depender de informações sobre o fluxo de calor.
Se a proposta de "tampa mole" for confirmada por qualquer uma das próximas missões de observação de Vênus desta década, isso provavelmente levará a uma reavaliação das características da superfície do planeta e a evolução de seu manto, tendo implicações para a formação inicial do nosso Sistema Solar.