Biologia

Por Redação Galileu

Um estudo publicado na revista Ecology no último dia 8 de março revelou que anfíbios cegos moradores de cavernas do norte da Itália — chamados de "dragões bebês" (Proteus anguinus) — passavam a viver em um habitat incomum para a espécie subterrânea: a superfície.

Conforme divulgou em 12 de março o site do jornal The New York Times, cientistas descobriram que esses animais, também conhecidos como "olmos" ou ""salamandras da caverna", começaram a deixar o subterrâneo para fazer expedições acima do solo. No passado, acreditava-se que eles eram literalmente bebês de dragões (sim, aqueles cuspidores de fogo lendários).

Essas salamandras pálidas não têm asas como os dragões da mitologia, mas seus hábitos são similares ao de criaturas místicas: elas nascem com os olhos cobertos por pele e vivem durante anos abaixo do solo. Com corpos semelhantes ao de enguias, tais anfíbios navegam pelo mundo escuro detectando vibrações, produtos químicos na água e campos magnéticos. Surpreendentemente, são capazes de viver por mais de um século.

A descoberta de que essa criatura começou a deixar o subterrâneo foi relatada por uma equipe liderada por Raoul Manenti, Professor de Zoologia da Universidade de Milão, na Itália. O achado mostra que a espécie usa nascentes de água com centenas de metros de profundidade para se deslocar para a superfície.

Salamandra adulta ativa durante o dia em uma nascente no município de Doberdò del Lago, Itália — Foto: Matteo Ricardo Di Nicola
Salamandra adulta ativa durante o dia em uma nascente no município de Doberdò del Lago, Itália — Foto: Matteo Ricardo Di Nicola

Para encontrar uma salamandra, Manenti e sua equipe geralmente precisam descer por aberturas parecidas com poços até cavernas — incluindo o abismo de Trebiciano, que é tão profundo quanto a altura da Torre Eiffel, na França. Entretanto, em 2020, os pesquisadores avistaram um dos anfíbios nadando em uma nascente acima do solo.

Na área da descoberta, a estudante de pós-graduação da Universidade de Milão, Veronica Zampieri, iniciou o monitoramento de 69 nascentes acima do solo. Foram encontradas salamandras em 15 das nascentes, mesmo quando não havia ocorrido nenhuma enchente recente.

Algumas das nascentes tiveram a visita constante de vários exemplares de "dragões bebês". Zampieri encontrou alguns passeando na superfície durante o dia e não apenas à noite. A estudante explica que nas cavernas subterrâneas a espécie é um predador dominante, porém, na superfície, com cegueira e corpos totalmente brancos, essa salamandra se torna presa fácil.

O que os "dragões bebês" fazem na superfície?

Para realizar pesquisas populacionais e coletar dados, os pesquisadores retiram brevemente as salamandras das águas das cavernas. Conforme explica Raoul Manenti aoThe New York Times, alguma delas pode engolir um pouco de ar quando é manuseada e, quando retorna à água, pode flutuar e não conseguir nadar direito.

Para que as salamandras consigam voltar ao normal, é necessário fazê-las arrotar. Para isso, os pesquisadores “massageiam” suavemente as barrigas compridas delas. Por vezes, as criaturas cospem partes de minhocas não encontradas no subterrâneo, sugerindo que esses animais caçam durante suas incursões na superfície.

Fotografia registada por uma armadilha fotográfica colocada num dos locais monitorizados, mostrando uma salamandra (círculo vermelho) ativa durante as horas centrais do dia num habitat de superfície. — Foto: Raoul Manenti
Fotografia registada por uma armadilha fotográfica colocada num dos locais monitorizados, mostrando uma salamandra (círculo vermelho) ativa durante as horas centrais do dia num habitat de superfície. — Foto: Raoul Manenti

Para Veronica Zampieri, a descoberta sobre as salamandras destacou a importância ecológica de lugares como as nascentes, que unem dois mundos diferentes. "A fronteira em si entre o subterrâneo e a superfície é algo que nós humanos colocamos", completou Manenti.

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