Em uma recente expedição à região de Cacássia, uma república no sul da Sibéria, cientistas desvendaram um segredo guardado há milhares de anos nas profundezas de uma caverna. O que os pesquisadores encontraram lá é nada menos que um verdadeiro tesouro arqueológico: o maior covil de hienas já registrado na Ásia.
Chamada Ineiskaya, a caverna estava intocada por humanos há cerca de 42 mil anos e continha uma vasta quantidade de ossos que pertenceram a diferentes espécies de predadores e presas da época do Pleistoceno (2,6 milhões a 11,7 mil anos atrás). Dentre os materiais identificados, estavam ossadas de mamutes, rinocerontes, bisões, veados, ursos marrons, raposas, lobos, gazelas e cavalos que habitaram a região na época.
O que torna essa descoberta ainda mais surpreendente é o estado de preservação dos esqueletos. Diferentemente de outros sítios arqueológicos, onde é necessário escavar e realizar minuciosas buscas, os ossos dessa caverna encontravam-se na superfície. Além disso, graças ao clima frio, alguns deles estavam preservados. Essa peculiaridade permitiu aos cientistas coletar cerca de 400 quilos de ossos, que foram enviados para estudo em Ecaterimburgo.
Apesar da exploração ter ocorrido recentemente, os moradores da região já haviam encontrado a caverna há cinco anos, de acordo com uma declaração do Instituto de Geologia e Mineralogia VS Sobolev. No entanto, como a cavidade fica em uma região remota, os paleontólogos não conseguiram examinar as ossadas completamente até junho de 2022.
Montanha de ossos
“Encontramos dois crânios inteiros [de hienas] – isso é uma raridade muito grande. Achados de crânios completos na Rússia podem ser contados nos dedos de uma mão", revela Dmitry Gimranov, pesquisador sênior dos Laboratórios de Métodos de Ciências Naturais em Humanidades e Paleoecologia.
Além disso, a equipe também encontrou ossos em ordem anatômica. Em um esqueleto de rinoceronte, por exemplo, a ulna e o rádio estavam juntos. Isso sugere que as hienas arrastaram partes das carcaças dos animais para a cova.
Outro achado que apoia a teoria do covil é que ossos de outras espécies tinham marcas de mordidas consistentes com dentes de hiena.
Os pesquisadores também encontraram ossos de filhotes de hiena – que, normalmente, tendem a não ser preservados por serem tão frágeis. Isso indica que os bebês cresceram na caverna. “Além do crânio inteiro de uma jovem hiena, também encontramos muitas mandíbulas inferiores e dentes de leite”, disse Gimranov.
A caverna de Ineiskaya não só oferece um vislumbre do passado como também pode fornecer informações valiosas sobre a fauna e flora do Pleistoceno, bem como pistas sobre o clima na Cacássia no período. "Esses achados também nos fornecerão outras informações, como de que os animais se alimentavam. Também obteremos informações importantes dos coprólitos [fezes fossilizadas]", acrescenta o pesquisador.
A Sibéria é rica em restos de animais do Pleistoceno, que, por não serem velhos o suficiente, não chegam a ser fossilizados ou substituídos por rocha num processo de mineralização. Devido às baixas temperaturas nessa região, tanto os ossos quanto outras partes desses seres vivos – como a pele, a carne e até o sangue – costumam se preservar bem.
Com essa descoberta única na Cacássia, espera-se que os cientistas possam desvendar mais segredos sobre a vida das hienas nas cavernas e, assim, entender melhor a história natural e evolutiva desses animais. Além disso, o estudo pode ajudar pesquisadores a compreender a preservação da diversidade biológica nessa região da Ásia há milênios.