Arqueologia

Por Redação Galileu

O DNA de uma família de neandertais foi sequenciado pela primeira vez por cientistas, que publicaram seus resultados nesta quarta-feira (19) na revista Nature. O estudo avaliou restos mortais das cavernas Chagyrskaya e Okladnikov, na Sibéria, ocupadas pelos hominídeos há cerca de 54 mil anos.

Os pesquisadores do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva recuperaram com sucesso o DNA de 17 restos de neandertais – o maior número já sequenciado em um único estudo. Os resquícios mortais vieram de 13 indivíduos, entre eles, sete do sexo masculino e seis do sexo feminino, dos quais oito eram adultos e cinco eram crianças ou adolescentes.

Em seu DNA mitocondrial, os cientistas encontraram compartilhadas entre os indivíduos várias heteroplasmias, ou seja, tipos especiais de variantes genéticas que persistem apenas por um pequeno número de gerações.

Os especialistas também analisaram o parentesco entre os restos mortais, descobrindo que entre eles havia um pai neandertal e sua filha adolescente. A equipe encontrou ainda um par de parentes de segundo grau: um menino e uma mulher adulta, que talvez era sua prima, tia ou avó.

A combinação de heteroplasmias e a relação entre os indivíduos sugeriu fortemente que os neandertais na caverna Chagyrskaya teriam vivido e morrido na mesma época. "O fato de estarem vivendo ao mesmo tempo é muito empolgante”, diz Laurits Skov, primeiro autor do estudo, em comunicado. “Isso significa que eles provavelmente vieram da mesma comunidade social”.

Os neandertais em Chagyrskaya e Okladnikov caçavam cabras íbex, cavalos, bisões e outros animais que migravam pelos vales dos rios dominados por cavernas. Eles coletaram matérias-primas para suas ferramentas de pedra a dezenas de quilômetros de distância. A ocorrência dessas matérias-primas nas duas cavernas corrobora com dados genéticos de que os grupos desses locais estavam intimamente ligados.

Caverna Chagyrskaya na Sibéria contém fragmentos de ossos e dentes de neandertais  — Foto: Bence Viola
Caverna Chagyrskaya na Sibéria contém fragmentos de ossos e dentes de neandertais — Foto: Bence Viola

Além disso, a comunidade neandertal das cavernas tinha diversidade genética extremamente baixa, segundo os pesquisadores. Seu grupo era de 10 a 20 indivíduos, o que é muito menos do que o registrado em qualquer comunidade humana antiga ou atual.

Contudo, os neandertais não viviam em comunidades isoladas. Ao comparar a diversidade genética no cromossomo Y, herdado de pai para filho, com a diversidade do DNA mitocondrial, herdado das mães, os pesquisadores descobriram que a riqueza genética mitocondrial era muito maior do que a do cromossomo Y. Isso sugere que esses grupos humanos estavam ligados principalmente pela migração feminina.

Chagyrskaya e Okladnikov ficavam a apenas 100 km da famosa Caverna Denisova, onde restos de hominídeos denisovanos foram encontrados. Apesar disso, as migrações não parecem ter envolvido denisovanos, pois não havia pistas deles no fluxo gênico dos neandertais de Chagyrskaya nos últimos 20 mil anos antes desses indivíduos viverem.

"Nosso estudo fornece uma imagem concreta de como uma comunidade neandertal pode ter sido", afirma Benjamin Peter, que também colaborou com pesquisa. "Isso faz os neandertais parecerem muito mais humanos para mim”, analisa.

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