• Redação Galileu
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Vilarejo de Sommarøy, na região do Ártico (Foto: Wikimedia Commons)

Vilarejo de Sommarøy, na região do Ártico (Foto: Wikimedia Commons)

Os poucos mais de 300 habitantes da ilha de Sommarøy, na região de Tromsø, na Noruega, querem abolir o conceito de "tempo". A ideia criada pelo norueguês Kjell Ove Hveding se popularizou após ser dilvulgada pelo noticiário local — e chegou a ser levada aos parlamentares.

A ilha está localizada bem ao norte do globo, o que faz com que seus habitantes passem uma grande parte dos dias em escuridão quase total (no inverno) ou em claridade quase total (no verão). "Você tem de ir trabalhar e, mesmo depois do trabalho, o relógio toma seu tempo", disse Hveding ao site Gizmodo. “Eu tenho que fazer isso, tenho que fazer aquilo. Minha experiência é que as pessoas se esqueceram de como serem impulsivas, de decidir que, se o tempo está bom, o Sol está brilhando, podem simplesmente viver — mesmo que sejam três da manhã."

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Para o organizador da ideia, sem o tempo, as lojas estariam abertas sempre que o lojista quisesse, as pessoas poderiam sair quando quisessem e as pessoas poderiam se encontrar quando achassem mais adequado. "Nosso objetivo é fornecer flexibilidade máxima, 24 horas por dia e sete dias por semana. Se você quiser cortar a grama às quatro da manhã, faça", afirmou Hveding à CNN. “Para muitos de nós, conseguir isso por escrito significaria simplesmente formalizar algo que já praticamos há gerações.”

Ponte em Tromsø, principal cidade vizinha à Sommarøy, na Noruega (Foto: Pixabay)

Ponte em Tromsø, principal cidade vizinha à Sommarøy, na Noruega (Foto: Pixabay)

Malin Nordheim, recepcionista de um hotel local, descreveu a ideia como "emocionante", mas afirmou estar um pouco cética: "Será um desafio para os hóspedes em relação aos horários de check-in e check-out, além do horário de abertura do bar e restaurante".

Fator biológico
Hanne Hoffman, especialista no ritmo circadiano, o relógio biológico humano, disse ao Gizmodo que o problema é que a humanidade não evoluiu para viver nos árticos: “Nossos corpos se adaptaram a esse ciclo de 24 horas gerado pela rotação da Terra. Nós realmente não podemos ir contra a evolução, e é isso que está acontecendo nesses locais. Você está indo contra o que estamos programados para fazer".

Uma série de hormônios e processos metabólicos respondem à luz e ao tempo, dizendo ao seu corpo como se comportar em diferentes pontos durante o dia. O mecanismo é importante mesmo para processos inconscientes, como a digestão e a temperatura corporal, pois estão ligados a esse ritmo.

De acordo com Hoffman, o desalinhamento do ritmo circadiano, quando o corpo está trabalhando em uma programação "separada" da mente, é um fator de risco para doenças. A especialista também demonstrou particular preocupação com as crianças, que já enfrentam mudanças em seu ritmo circadiano ao entrarem na puberdade.

Atualmente, para driblar os efeitos do sol — que nasce e se põe apenas uma vez por ano —, as pessoas no Ártico compensam o excesso de claridade com cortinas que cortam a luz. No inverno, a iluminação dos locais é feita por lâmpadas especiais que estimulam o organismo.

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