História
Como a deusa Ártemis se tornou símbolo feminista e inspirou missões da Nasa
A divindade da Grécia antiga representa a caça, está associada à Lua e é a irmã gêmea de Apolo, deus que também inspirou programa lunar da agência espacial norte-americana
3 min de leituraA missão Artemis 1 irá enviar um foguete sem tripulação em uma viagem de um mês ao redor da Lua. O programa visa aumentar a participação feminina na exploração espacial – 30% de seus engenheiros são mulheres. Além disso, a jornada espacial levará dois manequins projetados para estudar os efeitos da radiação no corpo das mulheres para que a Nasa possa aprender a proteger melhor as astronautas.
Atualmente, as astronautas do sexo feminino são menos propensas a serem selecionadas para missões do que os homens, porque seus corpos tendem a atingir mais cedo o limite máximo aceitável de radiação da agência espacial norte-americana.
A Nasa espera levar a primeira mulher e pessoa de cor à Lua na Artemis 3, em algum momento após 2024.Como estudiosa da mitologia grega, acho o nome da missão bastante evocativo: os gregos e romanos associavam Ártemis ao satélite natural, e ela também se tornou um ícone feminista moderno.
Ártemis era uma divindade importante na Grécia antiga, adorada desde o início do primeiro milênio a.C, ou mesmo antes. Ela era filha de Zeus, o principal deus dos Olimpianos, que governava o mundo do cume do Monte Olimpo. Ela também era a irmã gêmea de Apolo, deus do Sol e dos oráculos.
Ártemis era uma deusa virgem do deserto e da caça. Sua independência e força há muito inspiram as mulheres em uma ampla gama de atividades. Por exemplo, em um poema intitulado “Ártemis”, a autora Allison Eir Jenks escreve: “Eu não sou mais sua madrinha… [nem] seu chef, seu ponto de ônibus, seu terapeuta, seu lixeiro”, enfatizando a liberdade e a autonomia femininas.
Como a deusa dos animais e da natureza selvagem, Ártemis também inspirou programas de conservação ambiental, nos quais a deusa é vista como um exemplo de mulher exercendo seu poder cuidando do planeta. No entanto, embora a Ártemis grega fosse forte e corajosa, ela nem sempre era gentil e carinhosa, mesmo com as mulheres.
Sua imprudência foi usada para explicar a morte súbita de uma mulher, especialmente durante o parto. Este aspecto da deusa desapareceu com o tempo. Com a ascensão do feminismo, Ártemis se tornou um ícone de poder feminino e autoconfiança.
A Nasa tem uma longa história de nomear suas missões em homenagem a figuras mitológicas. A partir da década de 1950, muitos foguetes e sistemas de lançamento receberam nomes de divindades gregas do céu, como Atlas e Saturno, cujo nome grego é Cronos.
Atlas e Saturno não eram apenas deuses, eram titãs. Na mitologia grega, os titãs representam as forças indomáveis e primordiais da natureza, e assim evocam a prodigiosa vastidão da exploração espacial. Embora eles fossem conhecidos por sua imensa força e poder, essas entidades também eram rebeldes e perigosas e acabaram sendo derrotados pelos Olimpianos, que representam a civilização na mitologia grega.
Após o advento do voo espacial humano, a Nasa começou a nomear missões em homenagem aos filhos de Zeus que estão associados ao céu. O programa Mercury, ativo de 1958 a 1963, recebeu o nome do homólogo romano de Hermes, o deus mensageiro que voa entre o Olimpo, a Terra e o submundo com suas sandálias aladas.
A partir de 1963, o programa Gemini, com duração de três anos, apresentou uma cápsula projetada para dois astronautas e recebeu o nome dos filhos gêmeos de Zeus – Castor e Pólux, conhecidos como Dioscuri em grego – que foram lançados nas estrelas como a constelação de Gêmeos. Eles eram regularmente representados com uma estrela acima de suas cabeças na arte grega e romana.
O programa do ônibus espacial, que durou de 1981 a 2011, desviou-se de apelidos mitológicos, e os nomes Columbia, Challenger, Discovery, Atlantis e Endeavor pretendiam evocar um espírito de inovação.
Com Artemis, a Nasa está acenando de volta ao programa Apollo, que durou de 1963 a 1972 e colocou os primeiros homens na Lua em 1969. Mais de 50 anos depois, Artemis vai continuar de onde seu irmão gêmeo parou, inaugurando uma era mais diversificada de voo espacial humano.
Marie-Claire Beaulieu é professora associada de Estudos Clássicos da Universidade Tufts, em Massachusetts, nos Estados Unidos. O texto foi originalmente publicado em inglês no site The Conversation.