• Redação Galileu
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O primeiro exemplar de Principia, de Isaac Newton, é considerado uma obra rara (Foto: Reprodução/Caltech)

O primeiro exemplar de Principia, de Isaac Newton, é considerado uma obra rara (Foto: Reprodução/Caltech)

Ao contrário do que se pensava, o acesso ao livro Philosophiae Naturalis Principia Mathematica, mais conhecido como Principia, considerado a obra-prima de Isaac Newton, não parece ter sido um benefício de pouco. Segundo um estudo recente, publicado na revista científica Annals of Science, havia centenas de exemplares da primeira edição da obra.

O professor Mordechai Feingold, do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech), nos Estados Unidos, e seu ex-aluno Andrej Svorenčík, da Universidade de Mannheim, na Alemanha, passaram mais de uma década rastreando esses exemplares, originalmente publicados em 1687. Ao todo, foram encontradas 386 cópias, e estima-se que ainda haja outras 200 sem registros em coleções públicas e privadas. "Nos sentimos como Sherlock Holmes", disse Feingold, em comunicado.

Ao analisar marcas de propriedade e notas rabiscadas nas margens de alguns dos livros, além de cartas relacionadas e outros documentos, a dupla concluiu que a obra, antes considerada restrita para apenas um grupo seleto de matemáticos especialistas, foi mais amplamente lida e compreendida do que se acreditava.

"Uma das constatações que tivemos é que a transmissão das ideias de Principia foi muito mais rápida e aberta do que pensávamos, e isso terá implicações no trabalho futuro que nós e outros teremos faremos sobre esse assunto", explicou Feingold. "No século 18, as ideias newtonianas transcenderam a própria ciência. A influência de Newton, assim como a de Charles Darwin e Albert Einstein, exerceu um papel considerável em muitos outros aspectos da vida, e foi isso que fez dele uma figura tão canônica."

Uma busca pelo mundo

O projeto de Svorenčík nasceu a partir de um trabalho de conclusão de um curso de história ministrado por Feingold. O artigo, que virou um projeto de busca sistemática, resultou em cerca de 200 cópias não identificadas em 27 países, incluindo 35 cópias na Europa Central. 

Isaac Newton criou a Teoria da Gravidade durante quarentena entre 1665 e 1666 (Foto: Wikimedia Commons)

Isaac Newton (Foto: Wikimedia Commons)

A dupla até encontrou cópias perdidas ou roubadas do livro. Por exemplo, descobriu-se que uma edição encontrada em um livreiro na Itália foi roubada de uma biblioteca na Alemanha meio século antes. "Entramos em contato com a biblioteca alemã para informá-los, mas eles demoraram muito para tomar a decisão de comprar de volta a cópia ou apreendê-la de alguma forma, então ela acabou voltando ao mercado", lembra Feingold.

Um livro raro (e caro)

De acordo com os historiadores, as cópias da primeira edição de Principia são vendidas hoje por valores entre US$ 300 mil e US$ 3 milhões em casas de leilão e no mercado paralelo. Eles estimam que cerca de 600 e possivelmente até 750 cópias foram impressas em 1687.

O livro foi escrito a pedido de Edmond Halley, um cientista inglês (Foto: Reprodução/Caltech)

O livro foi escrito a pedido de Edmond Halley, um cientista inglês (Foto: Reprodução/Caltech)

Newton escreveu o livro após um pedido de Edmond Halley, um cientista inglês que fez várias descobertas sobre nosso Sistema Solar. Halley, que também financiou a obra, pediu que ele escrevesse alguns cálculos relativos às órbitas elípticas dos corpos que orbitam o Sol.

Logo após sua publicação, o livro foi reconhecido como uma obra-prima. No entanto, a ideia de que Principia era incompreensível e pouco lido é questionada com os novos resultados da pesquisa. "Pode-se supor que, para cada exemplar, haja múltiplos leitores. Não é como hoje, em que você compra um livro e é o único a lê-lo. E aí a gente pode buscar uma troca de ideias entre as pessoas que compartilham exemplares. Você começa a juntar as peças e resolver o quebra-cabeça", disse o professor.