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Estatua de Charles Darwin (Foto: Pixabay)

Estatua de Charles Darwin (Foto: Pixabay)

Os diários de Charles Darwin são repletos de relatos de problemas de saúde, como dores musculares, palpitações cardíacas, feridas na pele, flatulência, vômitos e diarreia. E um novo estudo sugere que estes sintomas foram causados pela doença de Lyme, provavelmente transmitida de um carrapato enquanto Darwin trabalhava no campo quando jovem.

"Ele tinha muitos sintomas diferentes: espasmos involuntários de músculos, dor de cabeça, falta de ar, mãos trêmulas, e todos iam e vinham, o que é bem típico da doença de Lyme", afirmou Erwin Kompanje, da Universidade Erasmus em Roterdã, na Holanda.

Atualmente, a causa da morte “oficial” do naturalista é insuficiência cardíaca ocasionada pela doença de Chagas. Por anos, historiadores médicos também propuseram outros motivos, como transtorno do pânico com agorafobia, intolerância à lactose e mutação genética incomum.

A pesquisa
Kompanje e sua colega Jelle Reumer, do Museu de História Natural de Roterdã, analisaram bancos de dados digitais de anotações e correspondências de Darwin para encontrar qualquer menção pudesse indicar o problema.

Quando Darwin esteve na Argentina em 1835, ele descreveu ser mordido por um “grande inseto preto dos Pampas”, um bichinho sugador de sangue de uma polegada de comprimento que pode transmitir a doença de Chagas.

Mas os pesquisadores holandeses acreditam que seus sintomas, que começaram a aparecer antes de Darwin chegar à América do Sul, são mais consistentes com a doença de Lyme, também conhecida como Borreliose de Lyme. A infecção é causada por bactérias Borrelia que são transportadas por algumas espécies de carrapatos.

"A exposição a um carrapato que carrega Borrelia na Grã-Bretanha é mais plausível do que a exposição à doença de Chagas durante sua viagem pela América do Sul", escrevem os estudiosos na revista Deinsea, do Museu de História Natural de Roterdão. "Darwin viajou por toda a Inglaterra e País de Gales, coletando insetos, atirando em pássaros e pegando pedras, sendo exposto a carrapatos. Deve ter havido tempo suficiente durante as primeiras três décadas de sua vida para se infectar."

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Na década de 1990, os norte-americanos Thomas Barloon e Russell Noyes concluíram que os sintomas de Darwin apontavam para o transtorno do pânico com agorafobia. Segundo Kompanje e Reumer, os sintomas semelhantes ao pânico também são produto da doença de Lyme, que pode provocar ataques que duram horas e até dias.

Os holandeses concordam com o diagnóstico de 2005 feito pelos pesquisadores britânicos Anthony Campbell e Stephanie Matthews de que Darwin era intolerante à lactose. O naturalista adorava comidas com leite, e essa condição poderia explicar suas dores de estômago, vômitos e flatulência.

Alguns cientistas não estão convencidos da hipótese da doença de Lyme, visto que a condição possui sintomas semelhantes a várias outras enfermidades. Um sinal comum da doença é o aparecimento de uma mancha vermelha circular ao redor da picada do carrapato – o que Darwin nunca descreveu em seus diários.

“A Borreliose é uma infecção particularmente difícil de diagnosticar sintomaticamente, mesmo quando o paciente está disponível para análise, devido à natureza difusa e altamente variável dos sinais clínicos”, explicou Richard Wall, especialista em carrapatos da Universidade de Bristol, no Reino Unido. “Alguns pesquisadores chegam a questionar a existência de uma forma crônica da doença. Portanto, o diagnóstico retrospectivo a uma distância histórica de 200 anos, embora interessante, deve ser considerado bem especulativo.”

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